Artigos Científicos

Divagações a partir de um congresso: um olhar crítico sobre os

Clarisse Rinaldi Salles de Santiago;Rodrigo Pedalini Borges Pires

23 de outubro de 2008

Divagações a partir de um congresso: um olhar crítico sobre os
caminhos da psiquiatria.

Autores: Clarisse Rinaldi Salles de Santiago, médica psiquiatra;
Rodrigo Pedalini Borges Pires, médico psiquiatra.

Quando um Congresso Brasileiro de Psiquiatria precisa intitular-se "A
Psiquiatria para a pessoa" fica a pergunta: e para quem mais ela
seria?
Perguntamo-nos então que especialidade médica é essa que precisa tanto
se reafirmar. Aquela que foi a primeira especialidade da Medicina,
fundada por Pinel, é também aquela cujos praticantes tentam desde o
século XIX sistematizar, sempre em discordâncias, talvez porque sua
clínica, clínica do humano, mais que biológica, nunca se preste a uma
confirmação epidemiológica definitiva.
Ainda assim, a partir do achado biológico do correlato
anatomo-patológico, que trouxe a Medicina à sua era científica, na
qual Biologia, Química e Física tornaram-se as ciências básicas, numa
tentativa de levar a Medicina do rol das ciências práticas para o das
teoréticas (Aranha Lima, 2007), também a psiquiatria, enquanto
especialidade, busca seu correlato, desde o famoso "Achado de Bayle"
(Bercherrie, 1989).
Entretanto hoje, no século XXI, após a "Década do Cérebro" (conforme
os americanos definiram a década de 90), até onde a psiquiatria se
afirma com base apenas nas ciências teoréticas? O quanto os estudos
epidemiológicos quantitativos realmente dizem sobre a prática
psiquiátrica? Quem é o psiquiatra formado nessa busca da ciência
psiquiátrica? O quanto as ciências teoréticas respondem, de forma
ética, aos sinais e sintomas, sofrimentos que os pacientes nos trazem
na prática, fora da teoria das classificações?
Estas foram questões suscitadas pelo XXV Congresso Brasileiro de
Psiquiatria que, no mínimo, funcionou como provocador do nosso desejo
de produzir em psiquiatria, pensando de uma outra maneira, talvez mais
sensível, mais elaborada e por que não, mais inteligente. Certamente
menos classificatória, menos reducionista...
E um dos caminhos para isso é a pesquisa qualitativa, que ao invés de
quantificar, contar, numerar, agrupar; estuda o caso a caso, estuda a
clínica quando fala da clínica pelo lado de dentro, e não daquele
insosso lugar de quem está distante, do lado de fora.
Dessa forma fomos provocados pelo congresso. Pelo que havia de
decepcionante, e pelo que houve do que ainda há de esperanças.
Praticamos, e assim nos foi transmitido, uma psiquiatria
que é vista pelo lado de dentro, de quem chega perto e não recua, de
quem se deixa banhar, se deixa encharcar por um caso.
E por isso, por uma recusa de nossa parte em deixarmo-nos levar por
uma psiquiatria nos moldes em que vem sendo orientada e praticada,
viemos sugerir a criação de um espaço para produção em psiquiatria.
Assim como nos foi transmitida e conforme escolhemos praticá-la."

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