Francisco Assis de Sousa Lima M.D.; Mauro B. Naves M.D.; Júlia M. C. Motta; José Carlos V. Di Migueli M.D. ; Glacus de Souza Brito e Cols
3 de novembro de 2008
Sistema de Notificação e Monitoramento Psiquiátrico
em Instituição de Usuários do Chá Hoasca – União da Vegetal[1]
Autores: Francisco Assis de Sousa Lima M.D.; Mauro B. Naves M.D.; Júlia M. C. Motta; José Carlos V. Di Migueli M.D. ; Glacus de Souza Brito e Cols;[2]
O Chá Hoasca é obtido pela decocção de duas plantas encontradas na Bacia Amazônica, Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis, cujos alcalóides Beta-carbolínicos (Harmina, Harmalina, Tetrahidroharmina) e Dimetiltriptamina (DMT), respectivamente, induzem um estado alterado, ou ampliado de consciência em seus usuários. Tem sua origem nos povos indígenas pré-colombianos, é considerado a bebida sagrada dos Incas. Hoje seu uso ritualístico é legalmente autorizado pelo CONFEN para diversos grupos religiosos no País destacando-se o Santo Daime e a União do Vegetal.
OBJETIVO: Estabelecer um programa de detecção precoce e elucidação diagnóstica de ocorrências psiquiátricas entre usuários do Chá Hoasca, sócios da União do Vegetal. Ainda, estabelecer relação causal com o uso do Chá, orientar conduta e tratamento individualizado para cada caso.
MÉTODOS: Através de ficha de notificação individual, preservando-se o sigilo na identificação pessoal, profissionais de saúde mental comunicam as ocorrências psiquiátricas à coordenação de saúde mental do Departamento Médico-Científico da União do Vegetal. Este sistema, ainda em fase experimental de implantação, abrange Unidades da União do Vegetal localizadas em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, totalizando uma população estudada de 951 pessoas com freqüência de uso mensal ou quinzenal do Chá.
RESULTADOS: No período de dezembro de 95 a maio de 98, foram notificados 20 casos, sendo 15 homens e 5 mulheres. Foram identificados diversos quadros clínicos como PMD, Transtornos ansiosos, depressão, transtornos dissociativo e hipercinético e psicoses. Dentre os 7 casos de psicose, dois casos não apresentam relação com o uso do chá, houve três casos de reagudização de surto anterior, um caso onde o Chá foi fator predisponente associado a outros fatores, e um caso com relação temporal imediata e sem antecedente de psicose anterior. A incidência de psicose observada neste levantamento apresenta-se dentro de estimativas já referidas para a população geral.
CONCLUSÃO: O Programa, ainda em fase experimental, mostrou-se eficiente para a área geográfica em questão. Houve casos de psicose com diversos níveis de associação com o uso do Chá. Houve casos com recuperação total, parcial e outros que ainda estão em tratamento. Reconhece-se que a predisposição individual para psicose é um fator importante no desencadeamento de surtos, havendo, portanto, a necessidade de uma cuidadosa avaliação prévia de pessoas que venham beber o Chá pela primeira vez.
Quando, em 1851, o botânico inglês Richard Spruce encontrou-se com os índios Tucanos nas margens do rio Vaupés, na Amazônia brasileira, o acontecimento foi celebrado em ritual nativo, com a ingestão de um chá de nome caapi, que diziam provocar visões.
Foi o primeiro encontro do conhecimento acadêmico da etnobotânica com a sabedoria de um mundo transcendental cuja origem poucos conhecem. O cipó com o qual era preparado o chá veio a ser denominado Banisteriopsis caapi.
Aquele cipó, que a União conhece como Mariri, é usado em decocção com as folhas de um arbusto também nativo da Amazônia, Psychotria viridis - Chacrona para os seguidores da UDV - resultando no chá conhecido no meio acadêmico como Ayahuasca ou Hoasca - que a União denomina Vegetal, utilizado em suas sessões para efeito de concentração mental.
Foi por reconhecer na Hoasca o benéfico poder de facilitar a transformação da consciência humana, quando orientada por uma doutrina reta, baseada na bondade e na justiça, na paz e no amor, que o Mestre da União, José Gabriel da Costa, iniciou a sua distribuição no âmbito do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
Estudos médicos
A partir da década de 1960, surgiram questionamentos das autoridades em relação ao uso do Vegetal em rituais religiosos, culminando em 1985 com a inclusão temporária do Banisteriopsis caapi na lista de substâncias proscritas da Dimed.
Diante disso, profissionais de saúde filiados à UDV se organizaram para reunir informações científicas existentes a respeito da Hoasca. Foi criado em 1986 o Centro de Estudos Médicos, atualmente Departamento Médico-Científico da UDV - Demec.
Composto por comissões, o Demec tem entre suas atribuições, o Demec incentiva e acompanha a realização de pesquisas científicas. É o órgão de interlocução entre o Centro e o meio acadêmico, e agente facilitador das condições institucionais necessárias para que os cientistas realizem pesquisas.
Orientado por princípios éticos compatíveis com a doutrina da União, o Demec é hoje um importante centro de referência no conhecimento científico do chá Hoasca.
Além de disponibilizar informações sobre o tema, colabora com pesquisas a respeito dos efeitos do chá e promove congressos científicos.
Com a ampliação das solicitações atendidas pelo Demec, houve a necessidade de serem criados grupos de trabalho específicos. Formadas por profissionais de saúde da UDV especializados em cada área de atuação, as comissões têm as seguintes atribuições:
1. Comissão Científica: avaliar as propostas de pesquisa apresentadas ao Demec, referentes aos aspectos de natureza bio-psicológica relacionados ao uso da Hoasca no âmbito da UDV.
2. Comissão Clínica: formada por médicos, atua no monitoramento dos aspectos clínicos relacionados ao uso do chá Hoasca.
Comissão de Saúde Mental: formada por profissionais de saúde mental, realiza monitoramento e acompanhamento de casos da área de saúde mental. Emite, ainda, recomendações para situações de associação do chá Hoasca com medicamentos neurológicos, psiquiátricos e outros.
Atribuições
· Reunir e atualizar os conhecimentos dos aspectos científicos relacionados ao chá Hoasca.
· Disponibilizar todos os conhecimentos científicos da Hoasca para todos os sócios da UDV.
· Ser órgão de referência para recomendações médicas quanto aos efeitos das substâncias presentes no chá Hoasca.
· Acompanhar e colaborar com o cumprimento das normas estabelecidas pela Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde nos cuidados de higiene com o preparo, manuseio, transporte e conservação do chá Hoasca
· Recomendar cuidados com a saúde coletiva dos filiados do Centro nos aspectos higiênico-sanitários, particularmente na prevenção e controle das doenças infecto-contagiosas.
· Estabelecer recomendações e acompanhamento na área de saúde mental, bem como em situações de associação com medicamentos neurológicos, psiquiátricos e outros.
· Zelar pelo cumprimento da Carta de Princípios dos Profissionais da Saúde da UDV, bem como ser o órgão responsável por sua atualização.
· Representar a UDV junto a autoridades legais e científicas, enquanto departamento médico-científico da instituição.
· Avaliar e acompanhar propostas de pesquisas apresentadas pelos filiados do centro ou de pesquisadores ligados a outras instituições científicas.
· Ser responsável pela divulgação institucional dos resultados de pesquisas desenvolvidas no âmbito da UDV que estiveram sob responsabilidade e acompanhamento deste Departamento.
Como decorrência dos esforços de realização dos dois primeiros congressos de saúde da UDV, em 1991 (São Paulo-SP) e 1993 (Campinas-SP), centros universitários e instituições de pesquisa do Brasil, Estados Unidos e Finlândia conduziram, com financiamento da "Botanical Dimensions" (ONG dos EUA sem fins lucrativos, que apoia estudos etnobotânicos), dez pesquisas que compõem o Projeto Hoasca.
Com o objetivo de responder a duas perguntas básicas - "O Chá Hoasca utilizado no contexto da UDV é seguro?" e "Como ele age no cérebro?" -, nove centros, entre instituições de pesquisa e universidades brasileiras, norte-americanas e da Finlândia participaram desse projeto, envolvendo um total de mais de 30 pesquisadores.
A fase de campo (coleta de dados) foi realizada em Manaus (AM), em junho de 1993, e abrangeu todos os aspectos da pesquisa: botânicos, fitoquímicos, toxicológicos, farmacocinéticos, neuroendócrinos, clínicos e psiquiátricos. Segundo o Dr. Charles Grob (UCLA), principal investigador do projeto, "foi um estudo intensivo e exaustivo jamais realizado dos aspectos médicos da Hoasca".
Em 1994, começaram a ser publicados na literatura científica os primeiros artigos decorrentes desse trabalho, com os resultados preliminares da pesquisa. Outros ainda estão em fase de publicação.
Foram as seguintes as instituições de pesquisa e centros universitários participantes do Projeto Hoasca com o Centro de Estudos Médicos da UDV:
Escola Paulista de Medicina
(UNIFESP/EPM) - Brasil
Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP) - Brasil
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) - Brasil
Universidade Federal do Amazonas
(UFAM) - Brasil
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA) - Manaus, Brasil
Universidade de Kuopio - Finlândia
Universidade da Califórnia
Los Angeles - Estados Unidos
Universidade de Miami - Estados Unidos
Universidade do Novo México
Estados Unidos
Em conjunto, o Projeto Farmacologia Humana da Hoasca abordou as seguintes aspectos:
Botânico: identificação das espécies vegetais utilizadas no preparo do chá Hoasca.
Fitoquímico: análise dos princípios ativos presentes no chá Hoasca e nas plantas que o compõem.
Neurotoxicidade Aguda: ensaios em animais para avaliar se o chá Hoasca causa danos ao sistema nervoso central.
Farmacocinético: mecanismos de distribuição, armazenamento e metabolização pelo organismo humano das substâncias presentes no chá Hoasca.
Neurorreceptores: investigação de possíveis mecanismos da fisiologia cerebral envolvidos no
uso da Hoasca, através do estudo dos receptores de serotonina em plaquetas.
Neuroendócrino: Verificação do comportamento de alguns hormônios (cortisol, hormônio do crescimento e prolactina) durante o efeito agudo do chá, e sua correlação com mecanismos de ação dos constituintes da Hoasca no cérebro.
Clínicos: avaliação da condição geral de saúde (avaliação clínica basal) e dos efeitos fisiológicos agudos provocados pela ingestão do chá Hoasca.
Psiquiátricos: análise da estrutura de personalidade e investigação da existência de dependência ou outros distúrbios psiquiátricos atuais ou anteriores nos usuários do chá Hoasca. Avaliação neuropsicológica (memória auditiva de curta duração) e da fenomenologia (percepção orgânica, sensorial e mental) vivenciada na experimentação do chá.
As respostas obtidas nas avaliações do Projeto Hoasca ensejaram entre os pesquisadores o desenvolvimento de novas pesquisas. Há interesse em continuar a investigação dos aspectos médicos da Hoasca para elucidar questões levantadas nos resultados e avaliar novos aspectos.
Adolescentes
Para avaliar se o chá Hoasca (Vegetal) causa algum tipo de prejuízo ao desenvolvimento afetivo, moral, psíquico e social de adolescentes que freqüentam a UDV, está sendo conduzida uma pesquisa pelo Dr. Charles Grob, da Universidade da Califórnia, em conjunto com a Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina. Em três cidades brasileiras - Brasília, Campinas e São Paulo -, cerca de 45 adolescentes da UDV estão sendo avaliados com testes neuropsicológicos e entrevistas individuais e dinâmicas de grupo. A fase de campo, bem como os resultados, estão previstos para 2001.
Receptores de Serotonina
O estudo do PhD Jace Callaway, da Universidade de Kuopio - Finlândia, apontou o aumento da população de receptores plaquetários de serotonina, sendo tais resultados inéditos em pessoas mentalmente sadias. Para verificar se o chá Hoasca é o fator causal, Callaway conduzirá novo estudo que analisará como se comportam os receptores de serotonina em usuários de longo prazo que deixam de beber o chá Hoasca por um prazo de 6 semanas, e voltam a bebê-lo habitualmente
Seguimento do Projeto Hoasca de 1993
Os principais pesquisadores do Projeto Hoasca (1993) - Callaway, Grob e McKenna - apresentaram uma proposta de estudo para avaliação dos mesmos 15 indivíduos pesquisados em 1993, e possivelmente novos grupos. Entre os objetivos, pretende-se realizar avaliações de perfil psicológico, neuropsiquiátricas, de neurorreceptores, de indicadores de imunidade e avaliações eletrocardiográficas e eletroencefalográficas.
Recuperação de Dependentes de Álcool de Drogas
Os resultados da avaliação psiquiátrica do Projeto Hoasca apontaram um possível efeito de recuperação de indivíduos anteriormente dependentes do álcool após o início do consumo regular da Hoasca. Para avaliar a possibilidade terapêutica do Vegetal na recuperação de alcoólicos e drogadictos, pesquisadores da Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo e Universidade da Califórnia propuseram um estudo no qual o uso ritualístico da Hoasca por alcoólicos seja avaliado como possibilidade de tratamento. Este estudo ainda está em fase de viabilização institucional dentro da UDV, bem como a avaliação dos aspectos éticos envolvidos.
Efeitos da Hoasca na Gestação
Com o objetivo de investigar os efeitos do chá Hoasca na gestação e no desenvolvimento de crianças nascidas de mães que o utilizaram durante a gravidez, um grupo de profissionais de saúde da UDV ligados ao Demec realizou na cidade de Fortaleza, Ceará, um estudo piloto retrospectivo. Através de entrevistas e aplicação de questionários e testes, procurou-se estabelecer a ocorrência de patologias obstétricas entre aquelas gestantes, além de avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças nascidas dessas gestações. Os resultados obtidos necessitam de avaliação metodológica crítica e tratamento estatístico adequado para serem publicados.
O documento a seguir foi elaborado pelos profissionais de saúde do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal durante o I Congresso em Saúde da UDV, em 1991.
Os profissionais de saúde sócios do Centro Espirita Beneficente União do Vegetal, considerando as disposições do Código de Ética Médica (Resolução CEM nº 1246/88), o Código de Ética Profissional dos Psicólogos (Resolução CPF nº 002/87), o Código Internacional de Ética Médica e as declarações de Nuremberg, de Genebra, de Helsinque e a Declaração Universal dos Direitos do Homem;
considerando que, estatutariamente, o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal tem por objetivos fazer uso do chá chamado Hoasca e, também, o de transformar o ser humano no sentido de desenvolver suas virtudes morais, intelectuais e espirituais;
considerando que o uso do chá Hoasca não está autorizado no país como um tipo de terapêutica, e considerando a oportunidade de esclarecimento público quanto aos princípios éticos que norteiam o Centro de Estudos Médicos e os profissionais em saúde da União do Vegetal, DECLARAM QUE:
1º. Não farão, dentro ou fora do âmbito do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal uso, em caráter profissional, da Hoasca, sem que haja comprovação científica de sua qualidade terapêutica.
2º. No âmbito da União do Vegetal limitarão suas atividades profissionais ao atendimento clínico de sócios, quando necessário, e a observações e estudos científicos quanto ao uso do chá pelos sócios do Centro, quando para tal autorizados pelo Centro de Estudos Médicos da União do Vegetal.
3º. Não se prevalecerão da relação profissional e da condição de sócios do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal para encaminhamento de clientes a esta sociedade, com objetivo de fazer uso terapêutico do chá.
4º. Aceitam o Centro de Estudos Médicos da União do Vegetal como órgão supervisor dos estudos e trabalhos científicos relativos à Hoasca, realizados por sócios do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
5º. Todos os estudos e trabalhos supervisionados pelo Centro de Estudos Médicos obedecerão às normas vigentes internas do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal e externas ao mesmo, especialmente as normas do código de Ética Médica e do código de Ética Profissional dos Psicólogos.
6º. Os trabalhos e estudos científicos supervisionados pelo Centro de Estudos Médicos serão norteados pela isenção de preconceitos, pela idoneidade e pelo decoro, abstendo-se os pesquisadores de divulgação de seus resultados, o que só será feito, oportunamente, pelo Centro de Estudos Médicos.
7º. A presente carta de princípios poderá ser reavaliada, havendo a comprovação científica oficial da capacidade terapêutica do chá Hoasca.
São Paulo, 02 de junho de 1991
Os profissionais em saúde do C. E. B. U. D. V. presentes ao 1º Congresso em Saúde da União do Vegetal
A articulação de um departamento congregando os profissionais de saúde da UDV teve como um de seus mais promissores resultados a intensificação de pesquisas científicas no universo acadêmico com a colaboração direta do Centro. A seguir, as principais referências bibliográficas e da internet a respito da Hoasca.
Publicações de resultados do Projeto Hoasca
Human psychopharmacology of hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brazil: Grob, C. S., D. J. McKenna, J. C. Callaway, G. S. Brito, E. S. Neves, G. Oberlender, O. L. Saide, E. Labigalini, C. Tacla, C. T. Miranda, R. J. Strassman, K. B. Boone .
Journal of Nervous & Mental Disease. 184:86-94, 1996.
Conteúdo: Resultados dos estudos psiquiátricos e psicológicos do Projeto Hoasca.
Farmacologia Humana da Hoasca - planta alucinogena usada em contexto ritual no Brasil - Português - 1996.RTF
Human Psychopharmacology of Hoasca - a plant Hallucinogen used in ritual context in Brazil - English - feb1996.RTF
Human Psychopharmacology of Hoasca - a plant Hallucinogen used in ritual context in Brazil - English - feb1996.PDF
Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans. J.C. Callaway, D.J. Mckenna, C.S. Grob, G.S. Brito, L.P.Raynon, R.E. Poland, E.N. Andrade, D.C. Mash.
Journal of Ethnopharmacology 65 (1999): 243-256.
Conteúdo: Resultados dos aspectos farmacocinéticos e neuroendócrinos do Projeto Hoasca
Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans Callaway English - 1999.pdf
Platelet serotonin uptake sites increased in drinkers of ayahuasca. James.C. Callaway, Mauro M. Airaksimen, Dennis .J. Mckenna, Charles.S. Grob, Glacus.S. Brito
Psychopharmacology (1994) 116: 385-387
Conteúdo: Resultados dos estudos de receptores plaquetários do Projeto Hoasca
The Scientific Investigation of Ayahuasca – A Review of Past and Current Research. McKenna, D. J., & Callaway, J.C., Grob, C. S.
The Heffer Review of Psychedelic Research: 1998 (I):65-77.
Conteúdo: Trata-se de um artigo de revisão atualizado, que aborda aspectos antropológicos, botânicos, fitoquímicos, farmacológicos, clínicos e psiquiátricos a respeito do chá Hoasca.
Heffter Review 1998 - The Scientific investigation of Ayahuasca Review of past and Current Research - English - .PDF
The Scientific Investigation of Ayahuasca A Review of Past and Current Research - English - dez98.rtf
Avaliação Comparativa Basal entre usuários do Chá Hoasca de longo prazo e controles. Avaliações fisiológicas dos efeitos agudos pós ingestão do chá Hoasca. E.N. Andrade, E. O. Andrade, D. J. Mckenna, J. W. Cavalcante, L. Okimura, G.S. Brito, E. S. Neves, C. S. Grob, J. C. Callaway et al.
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados dos aspectos clínicos do Projeto Hoasca
Triagem fitoquímica e influência da Hoasca sobre o consumo voluntário de etanol em camundongos. J.E. Carvalho, M. Costa, P.C. Dias, M.A. Antônio, F. U. Barbosa, M.A. Foglio, A. R. M. S. Brito.
Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da UNICAMP, Campinas, São Paulo
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados de aspectos toxicológicos do Projeto Hoasca
Efeitos farmacológicos do decocto (Hoasca) de Banisteriopsis caapi e Psycotria viridis em camundongos. J.E. Carvalho, M. Costa, P.C. Dias, M.A. Antônio, A. R. M. S. Brito.
Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da UNICAMP, Campinas, São Paulo
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados de aspectos toxicológicos do Projeto Hoasca
Outras referências científicas:
Uso Ritual da Hoasca: Recomendações e Cuidados. Francisco Assis de Sousa Lima M.D
Newsletter of the Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies - MAPS” - Volume 7 Number 1 Winter 1996-97 - pp. 25-26 (www.maps.org)
The ritual use of Hoasca - Comments and advices Francisco Assis de Sousa Lima - English.rtf
The ritual use of Hoasca - Comments and advices Francisco Assis de Souza Lima - English.PDF
Uso Ritual da Hoasca - Recomendacoes e Cuidados Francisco Assis de Sousa Lima - Português.pdf
Uso Ritual da Hoasca - Recomendacoes e Cuidados Francisco Assis de Sousa Lima - Português.rtf
Sistema de Notificação e Monitoramento Psiquiátrico em Instituição de Usuários do Chá Hoasca – União da Vegetal. F. A. S. Lima, M. B. Naves, J. M. C. Motta; J. C. V. D. Migueli, G. S. Brito e Cols.
Conteúdo: Poster apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Psiquiatria. São Paulo, 1998.
XVI Congresso Brasil PQ 1998 - Resumo Poster - Português.PDF
XVI Congresso Brasil PQ 1998 - Resumo Poster - Português.rtf
O uso de Ayahuasca em um contexto Religioso por Ex-Dependentes de Álcool – Um estudo Qualitativo. Tese de Mestrado de Eliseu Labigalini Júnior.
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), São Paulo, 1998.
Uso de Ayahuasca por ex-dependentes de alcool na UDV - Tese de Mestrado de Eliseu Labigalini 1998 - Português.rtf
Referências Científicas na Internet
The Heffter Research Institute: www.heffter.org
Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies: www.maps.org
Em junho de 1991, o Demec - ainda denominado Centro de Estudos Médicos da UDV - realizou em São Paulo o 1º Congresso em Saúde, com o objetivo de atualizar os participantes quanto ao conhecimento acadêmico disponível sobre os aspectos que envolvem o chá Hoasca: botânicos, fitoquímicos, antropológicos, clínicos, psiquiátricos e legais.
Participaram cerca de 180 pessoas, entre autoridades jurídicas, filiados do Centro e pesquisadores nacionais e internacionais de grande expressão nessa área de estudo, como Dennis Mckenna (EUA) e Luis Eduardo Luna (Colômbia).
Um dos resultados do 1º Congresso em Saúde da UDV foi a proposta feita ao PhD. Dennis Mckenna para a realização de uma pesquisa abrangente a respeito do uso do chá Hoasca no contexto da União do Vegetal, desafio que foi aceito e resultou no projeto Farmacologia Humana da Hoasca.
Um mês após o 1º Congresso em Saúde da UDV, um de seus participantes - o jurista do Conselho Federal de Entorpecentes Domingos Bernardo de Sá - defendeu publicamente, no Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o uso ritualístico da Hoasca.
Com o tema "Hoasca e o desenvolvimento integral do ser humano", foi realizado em 1993 em Campinas, São Paulo, o II Congresso em Saúde da UDV, que contou com a participação de 450 pessoas. O programa científico abrangeu a apresentação feita pelos pesquisadores dos resultados preliminares de partes do Projeto Hoasca. Além do conteúdo científico, o congresso teve também em sua programação temas de interesse médico-comunitário, não diretamente relacionados aos aspectos científicos do chá.
Em 1995, foi realizada no Rio de Janeiro a 1a. Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, com o objetivo de apresentar os resultados formais do Projeto Hoasca e promover uma reflexão comum com a comunidade científica, esclarecendo os setores responsáveis pela gestão jurídica do assunto.
Foi expressiva a participação tanto de autoridades jurídicas e acadêmicas mundialmente reconhecidas nas áreas de Etnobotânica de substâncias enteógenas, Neuroquímica e Psiquiatria, quanto de profissionais de saúde filiados do Centro e demais sócios interessados no assunto, num total de 900 participantes.
A 1a. Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca ensejou o desenvolvimento de novas pesquisas, sempre tendo como referência o uso da bebida no ritual da União do Vegetal.
Em direção a Deus
O termo "alucinógeno" é a denominação corrente nos estudos de etnobotânica para classificar, por seus efeitos, o chá Hoasca (Vegetal), enquadrando em parâmetros já conhecidos uma manifestação incomum da natureza. No âmbito científico, a palavra significa "substância que produz falsas percepções da realidade" e tem sua origem na classificação farmacológica das substâncias psicoativas (que agem nas emoções e pensamentos).
Para alguns pesquisadores, a classificação do Vegetal como "alucinógeno" é uma imprecisão, pois o mesmo não causa perda do contato com a realidade - como pressupõe o termo - mas sim um grau ampliado de percepção que permite a compreensão daquela realidade com maior clareza ou transcendência.
Além disso, a evidência de que seu uso responsável tem sido de comprovada importância no processo de desenvolvimento pessoal, em todos os sentidos - físico, mental, moral e intelectual - para um grande número de adeptos, contribui para uma nova percepção do chá Hoasca no meio científico.
Nesse sentido, pesquisadores da área de Etnobotânica têm proposto a classificação do Vegetal como "enteógeno", ou seja, substância que "gera uma experiência de contato com o divino", causando uma sensação generalizada de aproximação com o Sagrado e facilitando o autoconhecimento e o aprimoramento do ser humano.
Inofensivo à saúde
A afirmação do Mestre da União, de que a Hoasca "é comprovadamente inofensivo à saúde", vem sendo avaliada pela comunidade científica internacional, numa iniciativa da própria UDV. Os primeiros resultados das pesquisas vão ao encontro das palavras do Mestre.
O Projeto Hoasca, realizado em 1993, avaliou um grupo de 15 usuários que há mais de 10 anos utilizavam regularmente o Vegetal em rituais da UDV nos aspectos de saúde geral e mental. Outros 15 indivíduos - que nunca utilizaram o chá Hoasca - foram estudados com os mesmos métodos para efeito de comparação de resultados (grupo controle).
O Projeto Hoasca indicou a existência de segurança no uso ritual que é feito do chá Hoasca na UDV. Seus resultados ensejaram o desenvolvimento de novas pesquisas, atualmente em andamento.
A avaliação da condição geral de saúde (avaliação clínica basal) não encontrou nenhum dano em qualquer sistema do organismo: respiratório, cardiovascular, renal-metabólico, neurológico e gastrointestinal entre os usuários do chá Hoasca.
A avaliação dos aspectos de saúde mental foi abrangente. O inquérito de diagnósticos psiquiátricos CIDI avaliou a existência atual e anterior de todos os tipos de transtornos psiquiátricos, inclusive dependência de substâncias. Os resultados obtidos demonstraram a inexistência de distúrbios psiquiátricos atuais entre os usuários do Vegetal, inclusive os que caracterizam "vício" (abstinência, tolerância, comportamento de abuso e perda social). A avaliação neuropsicológica demonstrou que os membros da UDV tinham maior poder de concentração e melhor resposta de memória auditiva imediata que os indivíduos do grupo controle.
A análise da personalidade dos indivíduos da UDV evidenciou que estes tendiam a ser pessoas mais seguras, calmas, dispostas, alegres, emocionalmente maduras, ordeiras, persistentes e confiantes em si mesmas em relação aos indivíduos do grupo controle.
A pesquisa indicou que os usuários regulares do chá Hoasca apresentam um melhor nível de humor. Esse resultado, correlacionado com os achados do estudo de receptores plaquetários de serotonina aponta um possível efeito anti-depressivo do chá.
Quando, em 1851, o botânico inglês Richard Spruce encontrou-se com os índios Tucanos nas margens do rio Vaupés, na Amazônia brasileira, o acontecimento foi celebrado em ritual nativo, com a ingestão de um chá de nome caapi, que diziam provocar visões.
Foi o primeiro encontro do conhecimento acadêmico da etnobotânica com a sabedoria de um mundo transcendental cuja origem poucos conhecem. O cipó com o qual era preparado o chá veio a ser denominado Banisteriopsis caapi.
Aquele cipó, que a União conhece como Mariri, é usado em decocção com as folhas de um arbusto também nativo da Amazônia, Psychotria viridis - Chacrona para os seguidores da UDV - resultando no chá conhecido no meio acadêmico como Ayahuasca ou Hoasca - que a União denomina Vegetal, utilizado em suas sessões para efeito de concentração mental.
Foi por reconhecer na Hoasca o benéfico poder de facilitar a transformação da consciência humana, quando orientada por uma doutrina reta, baseada na bondade e na justiça, na paz e no amor, que o Mestre da União, José Gabriel da Costa, iniciou a sua distribuição no âmbito do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
Estudos médicos
A partir da década de 1960, surgiram questionamentos das autoridades em relação ao uso do Vegetal em rituais religiosos, culminando em 1985 com a inclusão temporária do Banisteriopsis caapi na lista de substâncias proscritas da Dimed.
Diante disso, profissionais de saúde filiados à UDV se organizaram para reunir informações científicas existentes a respeito da Hoasca. Foi criado em 1986 o Centro de Estudos Médicos, atualmente Departamento Médico-Científico da UDV - Demec.
Composto por comissões, o Demec tem entre suas atribuições, o Demec incentiva e acompanha a realização de pesquisas científicas. É o órgão de interlocução entre o Centro e o meio acadêmico, e agente facilitador das condições institucionais necessárias para que os cientistas realizem pesquisas.
Orientado por princípios éticos compatíveis com a doutrina da União, o Demec é hoje um importante centro de referência no conhecimento científico do chá Hoasca.
Além de disponibilizar informações sobre o tema, colabora com pesquisas a respeito dos efeitos do chá e promove congressos científicos.
Com a ampliação das solicitações atendidas pelo Demec, houve a necessidade de serem criados grupos de trabalho específicos. Formadas por profissionais de saúde da UDV especializados em cada área de atuação, as comissões têm as seguintes atribuições:
1. Comissão Científica: avaliar as propostas de pesquisa apresentadas ao Demec, referentes aos aspectos de natureza bio-psicológica relacionados ao uso da Hoasca no âmbito da UDV.
2. Comissão Clínica: formada por médicos, atua no monitoramento dos aspectos clínicos relacionados ao uso do chá Hoasca.
Comissão de Saúde Mental: formada por profissionais de saúde mental, realiza monitoramento e acompanhamento de casos da área de saúde mental. Emite, ainda, recomendações para situações de associação do chá Hoasca com medicamentos neurológicos, psiquiátricos e outros.
Atribuições
· Reunir e atualizar os conhecimentos dos aspectos científicos relacionados ao chá Hoasca.
· Disponibilizar todos os conhecimentos científicos da Hoasca para todos os sócios da UDV.
· Ser órgão de referência para recomendações médicas quanto aos efeitos das substâncias presentes no chá Hoasca.
· Acompanhar e colaborar com o cumprimento das normas estabelecidas pela Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde nos cuidados de higiene com o preparo, manuseio, transporte e conservação do chá Hoasca
· Recomendar cuidados com a saúde coletiva dos filiados do Centro nos aspectos higiênico-sanitários, particularmente na prevenção e controle das doenças infecto-contagiosas.
· Estabelecer recomendações e acompanhamento na área de saúde mental, bem como em situações de associação com medicamentos neurológicos, psiquiátricos e outros.
· Zelar pelo cumprimento da Carta de Princípios dos Profissionais da Saúde da UDV, bem como ser o órgão responsável por sua atualização.
· Representar a UDV junto a autoridades legais e científicas, enquanto departamento médico-científico da instituição.
· Avaliar e acompanhar propostas de pesquisas apresentadas pelos filiados do centro ou de pesquisadores ligados a outras instituições científicas.
· Ser responsável pela divulgação institucional dos resultados de pesquisas desenvolvidas no âmbito da UDV que estiveram sob responsabilidade e acompanhamento deste Departamento.
Como decorrência dos esforços de realização dos dois primeiros congressos de saúde da UDV, em 1991 (São Paulo-SP) e 1993 (Campinas-SP), centros universitários e instituições de pesquisa do Brasil, Estados Unidos e Finlândia conduziram, com financiamento da "Botanical Dimensions" (ONG dos EUA sem fins lucrativos, que apoia estudos etnobotânicos), dez pesquisas que compõem o Projeto Hoasca.
Com o objetivo de responder a duas perguntas básicas - "O Chá Hoasca utilizado no contexto da UDV é seguro?" e "Como ele age no cérebro?" -, nove centros, entre instituições de pesquisa e universidades brasileiras, norte-americanas e da Finlândia participaram desse projeto, envolvendo um total de mais de 30 pesquisadores.
A fase de campo (coleta de dados) foi realizada em Manaus (AM), em junho de 1993, e abrangeu todos os aspectos da pesquisa: botânicos, fitoquímicos, toxicológicos, farmacocinéticos, neuroendócrinos, clínicos e psiquiátricos. Segundo o Dr. Charles Grob (UCLA), principal investigador do projeto, "foi um estudo intensivo e exaustivo jamais realizado dos aspectos médicos da Hoasca".
Em 1994, começaram a ser publicados na literatura científica os primeiros artigos decorrentes desse trabalho, com os resultados preliminares da pesquisa. Outros ainda estão em fase de publicação.
Foram as seguintes as instituições de pesquisa e centros universitários participantes do Projeto Hoasca com o Centro de Estudos Médicos da UDV:
Escola Paulista de Medicina
(UNIFESP/EPM) - Brasil
Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP) - Brasil
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) - Brasil
Universidade Federal do Amazonas
(UFAM) - Brasil
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA) - Manaus, Brasil
Universidade de Kuopio - Finlândia
Universidade da Califórnia
Los Angeles - Estados Unidos
Universidade de Miami - Estados Unidos
Universidade do Novo México
Estados Unidos
Em conjunto, o Projeto Farmacologia Humana da Hoasca abordou as seguintes aspectos:
Botânico: identificação das espécies vegetais utilizadas no preparo do chá Hoasca.
Fitoquímico: análise dos princípios ativos presentes no chá Hoasca e nas plantas que o compõem.
Neurotoxicidade Aguda: ensaios em animais para avaliar se o chá Hoasca causa danos ao sistema nervoso central.
Farmacocinético: mecanismos de distribuição, armazenamento e metabolização pelo organismo humano das substâncias presentes no chá Hoasca.
Neurorreceptores: investigação de possíveis mecanismos da fisiologia cerebral envolvidos no
uso da Hoasca, através do estudo dos receptores de serotonina em plaquetas.
Neuroendócrino: Verificação do comportamento de alguns hormônios (cortisol, hormônio do crescimento e prolactina) durante o efeito agudo do chá, e sua correlação com mecanismos de ação dos constituintes da Hoasca no cérebro.
Clínicos: avaliação da condição geral de saúde (avaliação clínica basal) e dos efeitos fisiológicos agudos provocados pela ingestão do chá Hoasca.
Psiquiátricos: análise da estrutura de personalidade e investigação da existência de dependência ou outros distúrbios psiquiátricos atuais ou anteriores nos usuários do chá Hoasca. Avaliação neuropsicológica (memória auditiva de curta duração) e da fenomenologia (percepção orgânica, sensorial e mental) vivenciada na experimentação do chá.
As respostas obtidas nas avaliações do Projeto Hoasca ensejaram entre os pesquisadores o desenvolvimento de novas pesquisas. Há interesse em continuar a investigação dos aspectos médicos da Hoasca para elucidar questões levantadas nos resultados e avaliar novos aspectos.
Adolescentes
Para avaliar se o chá Hoasca (Vegetal) causa algum tipo de prejuízo ao desenvolvimento afetivo, moral, psíquico e social de adolescentes que freqüentam a UDV, está sendo conduzida uma pesquisa pelo Dr. Charles Grob, da Universidade da Califórnia, em conjunto com a Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina. Em três cidades brasileiras - Brasília, Campinas e São Paulo -, cerca de 45 adolescentes da UDV estão sendo avaliados com testes neuropsicológicos e entrevistas individuais e dinâmicas de grupo. A fase de campo, bem como os resultados, estão previstos para 2001.
Receptores de Serotonina
O estudo do PhD Jace Callaway, da Universidade de Kuopio - Finlândia, apontou o aumento da população de receptores plaquetários de serotonina, sendo tais resultados inéditos em pessoas mentalmente sadias. Para verificar se o chá Hoasca é o fator causal, Callaway conduzirá novo estudo que analisará como se comportam os receptores de serotonina em usuários de longo prazo que deixam de beber o chá Hoasca por um prazo de 6 semanas, e voltam a bebê-lo habitualmente
Seguimento do Projeto Hoasca de 1993
Os principais pesquisadores do Projeto Hoasca (1993) - Callaway, Grob e McKenna - apresentaram uma proposta de estudo para avaliação dos mesmos 15 indivíduos pesquisados em 1993, e possivelmente novos grupos. Entre os objetivos, pretende-se realizar avaliações de perfil psicológico, neuropsiquiátricas, de neurorreceptores, de indicadores de imunidade e avaliações eletrocardiográficas e eletroencefalográficas.
Recuperação de Dependentes de Álcool de Drogas
Os resultados da avaliação psiquiátrica do Projeto Hoasca apontaram um possível efeito de recuperação de indivíduos anteriormente dependentes do álcool após o início do consumo regular da Hoasca. Para avaliar a possibilidade terapêutica do Vegetal na recuperação de alcoólicos e drogadictos, pesquisadores da Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo e Universidade da Califórnia propuseram um estudo no qual o uso ritualístico da Hoasca por alcoólicos seja avaliado como possibilidade de tratamento. Este estudo ainda está em fase de viabilização institucional dentro da UDV, bem como a avaliação dos aspectos éticos envolvidos.
Efeitos da Hoasca na Gestação
Com o objetivo de investigar os efeitos do chá Hoasca na gestação e no desenvolvimento de crianças nascidas de mães que o utilizaram durante a gravidez, um grupo de profissionais de saúde da UDV ligados ao Demec realizou na cidade de Fortaleza, Ceará, um estudo piloto retrospectivo. Através de entrevistas e aplicação de questionários e testes, procurou-se estabelecer a ocorrência de patologias obstétricas entre aquelas gestantes, além de avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças nascidas dessas gestações. Os resultados obtidos necessitam de avaliação metodológica crítica e tratamento estatístico adequado para serem publicados.
O documento a seguir foi elaborado pelos profissionais de saúde do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal durante o I Congresso em Saúde da UDV, em 1991.
Os profissionais de saúde sócios do Centro Espirita Beneficente União do Vegetal, considerando as disposições do Código de Ética Médica (Resolução CEM nº 1246/88), o Código de Ética Profissional dos Psicólogos (Resolução CPF nº 002/87), o Código Internacional de Ética Médica e as declarações de Nuremberg, de Genebra, de Helsinque e a Declaração Universal dos Direitos do Homem;
considerando que, estatutariamente, o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal tem por objetivos fazer uso do chá chamado Hoasca e, também, o de transformar o ser humano no sentido de desenvolver suas virtudes morais, intelectuais e espirituais;
considerando que o uso do chá Hoasca não está autorizado no país como um tipo de terapêutica, e considerando a oportunidade de esclarecimento público quanto aos princípios éticos que norteiam o Centro de Estudos Médicos e os profissionais em saúde da União do Vegetal, DECLARAM QUE:
1º. Não farão, dentro ou fora do âmbito do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal uso, em caráter profissional, da Hoasca, sem que haja comprovação científica de sua qualidade terapêutica.
2º. No âmbito da União do Vegetal limitarão suas atividades profissionais ao atendimento clínico de sócios, quando necessário, e a observações e estudos científicos quanto ao uso do chá pelos sócios do Centro, quando para tal autorizados pelo Centro de Estudos Médicos da União do Vegetal.
3º. Não se prevalecerão da relação profissional e da condição de sócios do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal para encaminhamento de clientes a esta sociedade, com objetivo de fazer uso terapêutico do chá.
4º. Aceitam o Centro de Estudos Médicos da União do Vegetal como órgão supervisor dos estudos e trabalhos científicos relativos à Hoasca, realizados por sócios do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
5º. Todos os estudos e trabalhos supervisionados pelo Centro de Estudos Médicos obedecerão às normas vigentes internas do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal e externas ao mesmo, especialmente as normas do código de Ética Médica e do código de Ética Profissional dos Psicólogos.
6º. Os trabalhos e estudos científicos supervisionados pelo Centro de Estudos Médicos serão norteados pela isenção de preconceitos, pela idoneidade e pelo decoro, abstendo-se os pesquisadores de divulgação de seus resultados, o que só será feito, oportunamente, pelo Centro de Estudos Médicos.
7º. A presente carta de princípios poderá ser reavaliada, havendo a comprovação científica oficial da capacidade terapêutica do chá Hoasca.
São Paulo, 02 de junho de 1991
Os profissionais em saúde do C. E. B. U. D. V. presentes ao 1º Congresso em Saúde da União do Vegetal
A articulação de um departamento congregando os profissionais de saúde da UDV teve como um de seus mais promissores resultados a intensificação de pesquisas científicas no universo acadêmico com a colaboração direta do Centro. A seguir, as principais referências bibliográficas e da internet a respito da Hoasca.
Publicações de resultados do Projeto Hoasca
Human psychopharmacology of hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brazil: Grob, C. S., D. J. McKenna, J. C. Callaway, G. S. Brito, E. S. Neves, G. Oberlender, O. L. Saide, E. Labigalini, C. Tacla, C. T. Miranda, R. J. Strassman, K. B. Boone .
Journal of Nervous & Mental Disease. 184:86-94, 1996.
Conteúdo: Resultados dos estudos psiquiátricos e psicológicos do Projeto Hoasca.
Farmacologia Humana da Hoasca - planta alucinogena usada em contexto ritual no Brasil - Português - 1996.RTF
Human Psychopharmacology of Hoasca - a plant Hallucinogen used in ritual context in Brazil - English - feb1996.RTF
Human Psychopharmacology of Hoasca - a plant Hallucinogen used in ritual context in Brazil - English - feb1996.PDF
Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans. J.C. Callaway, D.J. Mckenna, C.S. Grob, G.S. Brito, L.P.Raynon, R.E. Poland, E.N. Andrade, D.C. Mash.
Journal of Ethnopharmacology 65 (1999): 243-256.
Conteúdo: Resultados dos aspectos farmacocinéticos e neuroendócrinos do Projeto Hoasca
Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans Callaway English - 1999.pdf
Platelet serotonin uptake sites increased in drinkers of ayahuasca. James.C. Callaway, Mauro M. Airaksimen, Dennis .J. Mckenna, Charles.S. Grob, Glacus.S. Brito
Psychopharmacology (1994) 116: 385-387
Conteúdo: Resultados dos estudos de receptores plaquetários do Projeto Hoasca
The Scientific Investigation of Ayahuasca – A Review of Past and Current Research. McKenna, D. J., & Callaway, J.C., Grob, C. S.
The Heffer Review of Psychedelic Research: 1998 (I):65-77.
Conteúdo: Trata-se de um artigo de revisão atualizado, que aborda aspectos antropológicos, botânicos, fitoquímicos, farmacológicos, clínicos e psiquiátricos a respeito do chá Hoasca.
Heffter Review 1998 - The Scientific investigation of Ayahuasca Review of past and Current Research - English - .PDF
The Scientific Investigation of Ayahuasca A Review of Past and Current Research - English - dez98.rtf
Avaliação Comparativa Basal entre usuários do Chá Hoasca de longo prazo e controles. Avaliações fisiológicas dos efeitos agudos pós ingestão do chá Hoasca. E.N. Andrade, E. O. Andrade, D. J. Mckenna, J. W. Cavalcante, L. Okimura, G.S. Brito, E. S. Neves, C. S. Grob, J. C. Callaway et al.
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados dos aspectos clínicos do Projeto Hoasca
Triagem fitoquímica e influência da Hoasca sobre o consumo voluntário de etanol em camundongos. J.E. Carvalho, M. Costa, P.C. Dias, M.A. Antônio, F. U. Barbosa, M.A. Foglio, A. R. M. S. Brito.
Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da UNICAMP, Campinas, São Paulo
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados de aspectos toxicológicos do Projeto Hoasca
Efeitos farmacológicos do decocto (Hoasca) de Banisteriopsis caapi e Psycotria viridis em camundongos. J.E. Carvalho, M. Costa, P.C. Dias, M.A. Antônio, A. R. M. S. Brito.
Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da UNICAMP, Campinas, São Paulo
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados de aspectos toxicológicos do Projeto Hoasca
Outras referências científicas:
Uso Ritual da Hoasca: Recomendações e Cuidados. Francisco Assis de Sousa Lima M.D
Newsletter of the Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies - MAPS” - Volume 7 Number 1 Winter 1996-97 - pp. 25-26 (www.maps.org)
The ritual use of Hoasca - Comments and advices Francisco Assis de Sousa Lima - English.rtf
The ritual use of Hoasca - Comments and advices Francisco Assis de Souza Lima - English.PDF
Uso Ritual da Hoasca - Recomendacoes e Cuidados Francisco Assis de Sousa Lima - Português.pdf
Uso Ritual da Hoasca - Recomendacoes e Cuidados Francisco Assis de Sousa Lima - Português.rtf
Sistema de Notificação e Monitoramento Psiquiátrico em Instituição de Usuários do Chá Hoasca – União da Vegetal. F. A. S. Lima, M. B. Naves, J. M. C. Motta; J. C. V. D. Migueli, G. S. Brito e Cols.
Conteúdo: Poster apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Psiquiatria. São Paulo, 1998.
XVI Congresso Brasil PQ 1998 - Resumo Poster - Português.PDF
XVI Congresso Brasil PQ 1998 - Resumo Poster - Português.rtf
O uso de Ayahuasca em um contexto Religioso por Ex-Dependentes de Álcool – Um estudo Qualitativo. Tese de Mestrado de Eliseu Labigalini Júnior.
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), São Paulo, 1998.
Uso de Ayahuasca por ex-dependentes de alcool na UDV - Tese de Mestrado de Eliseu Labigalini 1998 - Português.rtf
Referências Científicas na Internet
The Heffter Research Institute: www.heffter.org
Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies: www.maps.org
Em junho de 1991, o Demec - ainda denominado Centro de Estudos Médicos da UDV - realizou em São Paulo o 1º Congresso em Saúde, com o objetivo de atualizar os participantes quanto ao conhecimento acadêmico disponível sobre os aspectos que envolvem o chá Hoasca: botânicos, fitoquímicos, antropológicos, clínicos, psiquiátricos e legais.
Participaram cerca de 180 pessoas, entre autoridades jurídicas, filiados do Centro e pesquisadores nacionais e internacionais de grande expressão nessa área de estudo, como Dennis Mckenna (EUA) e Luis Eduardo Luna (Colômbia).
Um dos resultados do 1º Congresso em Saúde da UDV foi a proposta feita ao PhD. Dennis Mckenna para a realização de uma pesquisa abrangente a respeito do uso do chá Hoasca no contexto da União do Vegetal, desafio que foi aceito e resultou no projeto Farmacologia Humana da Hoasca.
Um mês após o 1º Congresso em Saúde da UDV, um de seus participantes - o jurista do Conselho Federal de Entorpecentes Domingos Bernardo de Sá - defendeu publicamente, no Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o uso ritualístico da Hoasca.
Com o tema "Hoasca e o desenvolvimento integral do ser humano", foi realizado em 1993 em Campinas, São Paulo, o II Congresso em Saúde da UDV, que contou com a participação de 450 pessoas. O programa científico abrangeu a apresentação feita pelos pesquisadores dos resultados preliminares de partes do Projeto Hoasca. Além do conteúdo científico, o congresso teve também em sua programação temas de interesse médico-comunitário, não diretamente relacionados aos aspectos científicos do chá.
Em 1995, foi realizada no Rio de Janeiro a 1a. Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, com o objetivo de apresentar os resultados formais do Projeto Hoasca e promover uma reflexão comum com a comunidade científica, esclarecendo os setores responsáveis pela gestão jurídica do assunto.
Foi expressiva a participação tanto de autoridades jurídicas e acadêmicas mundialmente reconhecidas nas áreas de Etnobotânica de substâncias enteógenas, Neuroquímica e Psiquiatria, quanto de profissionais de saúde filiados do Centro e demais sócios interessados no assunto, num total de 900 participantes.
A 1a. Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca ensejou o desenvolvimento de novas pesquisas, sempre tendo como referência o uso da bebida no ritual da União do Vegetal.
Em direção a Deus
O termo "alucinógeno" é a denominação corrente nos estudos de etnobotânica para classificar, por seus efeitos, o chá Hoasca (Vegetal), enquadrando em parâmetros já conhecidos uma manifestação incomum da natureza. No âmbito científico, a palavra significa "substância que produz falsas percepções da realidade" e tem sua origem na classificação farmacológica das substâncias psicoativas (que agem nas emoções e pensamentos).
Para alguns pesquisadores, a classificação do Vegetal como "alucinógeno" é uma imprecisão, pois o mesmo não causa perda do contato com a realidade - como pressupõe o termo - mas sim um grau ampliado de percepção que permite a compreensão daquela realidade com maior clareza ou transcendência.
Além disso, a evidência de que seu uso responsável tem sido de comprovada importância no processo de desenvolvimento pessoal, em todos os sentidos - físico, mental, moral e intelectual - para um grande número de adeptos, contribui para uma nova percepção do chá Hoasca no meio científico.
Nesse sentido, pesquisadores da área de Etnobotânica têm proposto a classificação do Vegetal como "enteógeno", ou seja, substância que "gera uma experiência de contato com o divino", causando uma sensação generalizada de aproximação com o Sagrado e facilitando o autoconhecimento e o aprimoramento do ser humano.
Inofensivo à saúde
A afirmação do Mestre da União, de que a Hoasca "é comprovadamente inofensivo à saúde", vem sendo avaliada pela comunidade científica internacional, numa iniciativa da própria UDV. Os primeiros resultados das pesquisas vão ao encontro das palavras do Mestre.
O Projeto Hoasca, realizado em 1993, avaliou um grupo de 15 usuários que há mais de 10 anos utilizavam regularmente o Vegetal em rituais da UDV nos aspectos de saúde geral e mental. Outros 15 indivíduos - que nunca utilizaram o chá Hoasca - foram estudados com os mesmos métodos para efeito de comparação de resultados (grupo controle).
O Projeto Hoasca indicou a existência de segurança no uso ritual que é feito do chá Hoasca na UDV. Seus resultados ensejaram o desenvolvimento de novas pesquisas, atualmente em andamento.
A avaliação da condição geral de saúde (avaliação clínica basal) não encontrou nenhum dano em qualquer sistema do organismo: respiratório, cardiovascular, renal-metabólico, neurológico e gastrointestinal entre os usuários do chá Hoasca.
A avaliação dos aspectos de saúde mental foi abrangente. O inquérito de diagnósticos psiquiátricos CIDI avaliou a existência atual e anterior de todos os tipos de transtornos psiquiátricos, inclusive dependência de substâncias. Os resultados obtidos demonstraram a inexistência de distúrbios psiquiátricos atuais entre os usuários do Vegetal, inclusive os que caracterizam "vício" (abstinência, tolerância, comportamento de abuso e perda social). A avaliação neuropsicológica demonstrou que os membros da UDV tinham maior poder de concentração e melhor resposta de memória auditiva imediata que os indivíduos do grupo controle.
A análise da personalidade dos indivíduos da UDV evidenciou que estes tendiam a ser pessoas mais seguras, calmas, dispostas, alegres, emocionalmente maduras, ordeiras, persistentes e confiantes em si mesmas em relação aos indivíduos do grupo controle.
A pesquisa indicou que os usuários regulares do chá Hoasca apresentam um melhor nível de humor. Esse resultado, correlacionado com os achados do estudo de receptores plaquetários de serotonina aponta um possível efeito anti-depressivo do chá.
Quando, em 1851, o botânico inglês Richard Spruce encontrou-se com os índios Tucanos nas margens do rio Vaupés, na Amazônia brasileira, o acontecimento foi celebrado em ritual nativo, com a ingestão de um chá de nome caapi, que diziam provocar visões.
Foi o primeiro encontro do conhecimento acadêmico da etnobotânica com a sabedoria de um mundo transcendental cuja origem poucos conhecem. O cipó com o qual era preparado o chá veio a ser denominado Banisteriopsis caapi.
Aquele cipó, que a União conhece como Mariri, é usado em decocção com as folhas de um arbusto também nativo da Amazônia, Psychotria viridis - Chacrona para os seguidores da UDV - resultando no chá conhecido no meio acadêmico como Ayahuasca ou Hoasca - que a União denomina Vegetal, utilizado em suas sessões para efeito de concentração mental.
Foi por reconhecer na Hoasca o benéfico poder de facilitar a transformação da consciência humana, quando orientada por uma doutrina reta, baseada na bondade e na justiça, na paz e no amor, que o Mestre da União, José Gabriel da Costa, iniciou a sua distribuição no âmbito do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
Estudos médicos
A partir da década de 1960, surgiram questionamentos das autoridades em relação ao uso do Vegetal em rituais religiosos, culminando em 1985 com a inclusão temporária do Banisteriopsis caapi na lista de substâncias proscritas da Dimed.
Diante disso, profissionais de saúde filiados à UDV se organizaram para reunir informações científicas existentes a respeito da Hoasca. Foi criado em 1986 o Centro de Estudos Médicos, atualmente Departamento Médico-Científico da UDV - Demec.
Composto por comissões, o Demec tem entre suas atribuições, o Demec incentiva e acompanha a realização de pesquisas científicas. É o órgão de interlocução entre o Centro e o meio acadêmico, e agente facilitador das condições institucionais necessárias para que os cientistas realizem pesquisas.
Orientado por princípios éticos compatíveis com a doutrina da União, o Demec é hoje um importante centro de referência no conhecimento científico do chá Hoasca.
Além de disponibilizar informações sobre o tema, colabora com pesquisas a respeito dos efeitos do chá e promove congressos científicos.
Com a ampliação das solicitações atendidas pelo Demec, houve a necessidade de serem criados grupos de trabalho específicos. Formadas por profissionais de saúde da UDV especializados em cada área de atuação, as comissões têm as seguintes atribuições:
1. Comissão Científica: avaliar as propostas de pesquisa apresentadas ao Demec, referentes aos aspectos de natureza bio-psicológica relacionados ao uso da Hoasca no âmbito da UDV.
2. Comissão Clínica: formada por médicos, atua no monitoramento dos aspectos clínicos relacionados ao uso do chá Hoasca.
Comissão de Saúde Mental: formada por profissionais de saúde mental, realiza monitoramento e acompanhamento de casos da área de saúde mental. Emite, ainda, recomendações para situações de associação do chá Hoasca com medicamentos neurológicos, psiquiátricos e outros.
Atribuições
· Reunir e atualizar os conhecimentos dos aspectos científicos relacionados ao chá Hoasca.
· Disponibilizar todos os conhecimentos científicos da Hoasca para todos os sócios da UDV.
· Ser órgão de referência para recomendações médicas quanto aos efeitos das substâncias presentes no chá Hoasca.
· Acompanhar e colaborar com o cumprimento das normas estabelecidas pela Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde nos cuidados de higiene com o preparo, manuseio, transporte e conservação do chá Hoasca
· Recomendar cuidados com a saúde coletiva dos filiados do Centro nos aspectos higiênico-sanitários, particularmente na prevenção e controle das doenças infecto-contagiosas.
· Estabelecer recomendações e acompanhamento na área de saúde mental, bem como em situações de associação com medicamentos neurológicos, psiquiátricos e outros.
· Zelar pelo cumprimento da Carta de Princípios dos Profissionais da Saúde da UDV, bem como ser o órgão responsável por sua atualização.
· Representar a UDV junto a autoridades legais e científicas, enquanto departamento médico-científico da instituição.
· Avaliar e acompanhar propostas de pesquisas apresentadas pelos filiados do centro ou de pesquisadores ligados a outras instituições científicas.
· Ser responsável pela divulgação institucional dos resultados de pesquisas desenvolvidas no âmbito da UDV que estiveram sob responsabilidade e acompanhamento deste Departamento.
Como decorrência dos esforços de realização dos dois primeiros congressos de saúde da UDV, em 1991 (São Paulo-SP) e 1993 (Campinas-SP), centros universitários e instituições de pesquisa do Brasil, Estados Unidos e Finlândia conduziram, com financiamento da "Botanical Dimensions" (ONG dos EUA sem fins lucrativos, que apoia estudos etnobotânicos), dez pesquisas que compõem o Projeto Hoasca.
Com o objetivo de responder a duas perguntas básicas - "O Chá Hoasca utilizado no contexto da UDV é seguro?" e "Como ele age no cérebro?" -, nove centros, entre instituições de pesquisa e universidades brasileiras, norte-americanas e da Finlândia participaram desse projeto, envolvendo um total de mais de 30 pesquisadores.
A fase de campo (coleta de dados) foi realizada em Manaus (AM), em junho de 1993, e abrangeu todos os aspectos da pesquisa: botânicos, fitoquímicos, toxicológicos, farmacocinéticos, neuroendócrinos, clínicos e psiquiátricos. Segundo o Dr. Charles Grob (UCLA), principal investigador do projeto, "foi um estudo intensivo e exaustivo jamais realizado dos aspectos médicos da Hoasca".
Em 1994, começaram a ser publicados na literatura científica os primeiros artigos decorrentes desse trabalho, com os resultados preliminares da pesquisa. Outros ainda estão em fase de publicação.
Foram as seguintes as instituições de pesquisa e centros universitários participantes do Projeto Hoasca com o Centro de Estudos Médicos da UDV:
Escola Paulista de Medicina
(UNIFESP/EPM) - Brasil
Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP) - Brasil
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) - Brasil
Universidade Federal do Amazonas
(UFAM) - Brasil
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA) - Manaus, Brasil
Universidade de Kuopio - Finlândia
Universidade da Califórnia
Los Angeles - Estados Unidos
Universidade de Miami - Estados Unidos
Universidade do Novo México
Estados Unidos
Em conjunto, o Projeto Farmacologia Humana da Hoasca abordou as seguintes aspectos:
Botânico: identificação das espécies vegetais utilizadas no preparo do chá Hoasca.
Fitoquímico: análise dos princípios ativos presentes no chá Hoasca e nas plantas que o compõem.
Neurotoxicidade Aguda: ensaios em animais para avaliar se o chá Hoasca causa danos ao sistema nervoso central.
Farmacocinético: mecanismos de distribuição, armazenamento e metabolização pelo organismo humano das substâncias presentes no chá Hoasca.
Neurorreceptores: investigação de possíveis mecanismos da fisiologia cerebral envolvidos no
uso da Hoasca, através do estudo dos receptores de serotonina em plaquetas.
Neuroendócrino: Verificação do comportamento de alguns hormônios (cortisol, hormônio do crescimento e prolactina) durante o efeito agudo do chá, e sua correlação com mecanismos de ação dos constituintes da Hoasca no cérebro.
Clínicos: avaliação da condição geral de saúde (avaliação clínica basal) e dos efeitos fisiológicos agudos provocados pela ingestão do chá Hoasca.
Psiquiátricos: análise da estrutura de personalidade e investigação da existência de dependência ou outros distúrbios psiquiátricos atuais ou anteriores nos usuários do chá Hoasca. Avaliação neuropsicológica (memória auditiva de curta duração) e da fenomenologia (percepção orgânica, sensorial e mental) vivenciada na experimentação do chá.
As respostas obtidas nas avaliações do Projeto Hoasca ensejaram entre os pesquisadores o desenvolvimento de novas pesquisas. Há interesse em continuar a investigação dos aspectos médicos da Hoasca para elucidar questões levantadas nos resultados e avaliar novos aspectos.
Adolescentes
Para avaliar se o chá Hoasca (Vegetal) causa algum tipo de prejuízo ao desenvolvimento afetivo, moral, psíquico e social de adolescentes que freqüentam a UDV, está sendo conduzida uma pesquisa pelo Dr. Charles Grob, da Universidade da Califórnia, em conjunto com a Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina. Em três cidades brasileiras - Brasília, Campinas e São Paulo -, cerca de 45 adolescentes da UDV estão sendo avaliados com testes neuropsicológicos e entrevistas individuais e dinâmicas de grupo. A fase de campo, bem como os resultados, estão previstos para 2001.
Receptores de Serotonina
O estudo do PhD Jace Callaway, da Universidade de Kuopio - Finlândia, apontou o aumento da população de receptores plaquetários de serotonina, sendo tais resultados inéditos em pessoas mentalmente sadias. Para verificar se o chá Hoasca é o fator causal, Callaway conduzirá novo estudo que analisará como se comportam os receptores de serotonina em usuários de longo prazo que deixam de beber o chá Hoasca por um prazo de 6 semanas, e voltam a bebê-lo habitualmente
Seguimento do Projeto Hoasca de 1993
Os principais pesquisadores do Projeto Hoasca (1993) - Callaway, Grob e McKenna - apresentaram uma proposta de estudo para avaliação dos mesmos 15 indivíduos pesquisados em 1993, e possivelmente novos grupos. Entre os objetivos, pretende-se realizar avaliações de perfil psicológico, neuropsiquiátricas, de neurorreceptores, de indicadores de imunidade e avaliações eletrocardiográficas e eletroencefalográficas.
Recuperação de Dependentes de Álcool de Drogas
Os resultados da avaliação psiquiátrica do Projeto Hoasca apontaram um possível efeito de recuperação de indivíduos anteriormente dependentes do álcool após o início do consumo regular da Hoasca. Para avaliar a possibilidade terapêutica do Vegetal na recuperação de alcoólicos e drogadictos, pesquisadores da Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo e Universidade da Califórnia propuseram um estudo no qual o uso ritualístico da Hoasca por alcoólicos seja avaliado como possibilidade de tratamento. Este estudo ainda está em fase de viabilização institucional dentro da UDV, bem como a avaliação dos aspectos éticos envolvidos.
Efeitos da Hoasca na Gestação
Com o objetivo de investigar os efeitos do chá Hoasca na gestação e no desenvolvimento de crianças nascidas de mães que o utilizaram durante a gravidez, um grupo de profissionais de saúde da UDV ligados ao Demec realizou na cidade de Fortaleza, Ceará, um estudo piloto retrospectivo. Através de entrevistas e aplicação de questionários e testes, procurou-se estabelecer a ocorrência de patologias obstétricas entre aquelas gestantes, além de avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças nascidas dessas gestações. Os resultados obtidos necessitam de avaliação metodológica crítica e tratamento estatístico adequado para serem publicados.
O documento a seguir foi elaborado pelos profissionais de saúde do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal durante o I Congresso em Saúde da UDV, em 1991.
Os profissionais de saúde sócios do Centro Espirita Beneficente União do Vegetal, considerando as disposições do Código de Ética Médica (Resolução CEM nº 1246/88), o Código de Ética Profissional dos Psicólogos (Resolução CPF nº 002/87), o Código Internacional de Ética Médica e as declarações de Nuremberg, de Genebra, de Helsinque e a Declaração Universal dos Direitos do Homem;
considerando que, estatutariamente, o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal tem por objetivos fazer uso do chá chamado Hoasca e, também, o de transformar o ser humano no sentido de desenvolver suas virtudes morais, intelectuais e espirituais;
considerando que o uso do chá Hoasca não está autorizado no país como um tipo de terapêutica, e considerando a oportunidade de esclarecimento público quanto aos princípios éticos que norteiam o Centro de Estudos Médicos e os profissionais em saúde da União do Vegetal, DECLARAM QUE:
1º. Não farão, dentro ou fora do âmbito do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal uso, em caráter profissional, da Hoasca, sem que haja comprovação científica de sua qualidade terapêutica.
2º. No âmbito da União do Vegetal limitarão suas atividades profissionais ao atendimento clínico de sócios, quando necessário, e a observações e estudos científicos quanto ao uso do chá pelos sócios do Centro, quando para tal autorizados pelo Centro de Estudos Médicos da União do Vegetal.
3º. Não se prevalecerão da relação profissional e da condição de sócios do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal para encaminhamento de clientes a esta sociedade, com objetivo de fazer uso terapêutico do chá.
4º. Aceitam o Centro de Estudos Médicos da União do Vegetal como órgão supervisor dos estudos e trabalhos científicos relativos à Hoasca, realizados por sócios do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
5º. Todos os estudos e trabalhos supervisionados pelo Centro de Estudos Médicos obedecerão às normas vigentes internas do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal e externas ao mesmo, especialmente as normas do código de Ética Médica e do código de Ética Profissional dos Psicólogos.
6º. Os trabalhos e estudos científicos supervisionados pelo Centro de Estudos Médicos serão norteados pela isenção de preconceitos, pela idoneidade e pelo decoro, abstendo-se os pesquisadores de divulgação de seus resultados, o que só será feito, oportunamente, pelo Centro de Estudos Médicos.
7º. A presente carta de princípios poderá ser reavaliada, havendo a comprovação científica oficial da capacidade terapêutica do chá Hoasca.
São Paulo, 02 de junho de 1991
Os profissionais em saúde do C. E. B. U. D. V. presentes ao 1º Congresso em Saúde da União do Vegetal
A articulação de um departamento congregando os profissionais de saúde da UDV teve como um de seus mais promissores resultados a intensificação de pesquisas científicas no universo acadêmico com a colaboração direta do Centro. A seguir, as principais referências bibliográficas e da internet a respito da Hoasca.
Publicações de resultados do Projeto Hoasca
Human psychopharmacology of hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brazil: Grob, C. S., D. J. McKenna, J. C. Callaway, G. S. Brito, E. S. Neves, G. Oberlender, O. L. Saide, E. Labigalini, C. Tacla, C. T. Miranda, R. J. Strassman, K. B. Boone .
Journal of Nervous & Mental Disease. 184:86-94, 1996.
Conteúdo: Resultados dos estudos psiquiátricos e psicológicos do Projeto Hoasca.
Farmacologia Humana da Hoasca - planta alucinogena usada em contexto ritual no Brasil - Português - 1996.RTF
Human Psychopharmacology of Hoasca - a plant Hallucinogen used in ritual context in Brazil - English - feb1996.RTF
Human Psychopharmacology of Hoasca - a plant Hallucinogen used in ritual context in Brazil - English - feb1996.PDF
Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans. J.C. Callaway, D.J. Mckenna, C.S. Grob, G.S. Brito, L.P.Raynon, R.E. Poland, E.N. Andrade, D.C. Mash.
Journal of Ethnopharmacology 65 (1999): 243-256.
Conteúdo: Resultados dos aspectos farmacocinéticos e neuroendócrinos do Projeto Hoasca
Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans Callaway English - 1999.pdf
Platelet serotonin uptake sites increased in drinkers of ayahuasca. James.C. Callaway, Mauro M. Airaksimen, Dennis .J. Mckenna, Charles.S. Grob, Glacus.S. Brito
Psychopharmacology (1994) 116: 385-387
Conteúdo: Resultados dos estudos de receptores plaquetários do Projeto Hoasca
The Scientific Investigation of Ayahuasca – A Review of Past and Current Research. McKenna, D. J., & Callaway, J.C., Grob, C. S.
The Heffer Review of Psychedelic Research: 1998 (I):65-77.
Conteúdo: Trata-se de um artigo de revisão atualizado, que aborda aspectos antropológicos, botânicos, fitoquímicos, farmacológicos, clínicos e psiquiátricos a respeito do chá Hoasca.
Heffter Review 1998 - The Scientific investigation of Ayahuasca Review of past and Current Research - English - .PDF
The Scientific Investigation of Ayahuasca A Review of Past and Current Research - English - dez98.rtf
Avaliação Comparativa Basal entre usuários do Chá Hoasca de longo prazo e controles. Avaliações fisiológicas dos efeitos agudos pós ingestão do chá Hoasca. E.N. Andrade, E. O. Andrade, D. J. Mckenna, J. W. Cavalcante, L. Okimura, G.S. Brito, E. S. Neves, C. S. Grob, J. C. Callaway et al.
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados dos aspectos clínicos do Projeto Hoasca
Triagem fitoquímica e influência da Hoasca sobre o consumo voluntário de etanol em camundongos. J.E. Carvalho, M. Costa, P.C. Dias, M.A. Antônio, F. U. Barbosa, M.A. Foglio, A. R. M. S. Brito.
Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da UNICAMP, Campinas, São Paulo
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados de aspectos toxicológicos do Projeto Hoasca
Efeitos farmacológicos do decocto (Hoasca) de Banisteriopsis caapi e Psycotria viridis em camundongos. J.E. Carvalho, M. Costa, P.C. Dias, M.A. Antônio, A. R. M. S. Brito.
Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da UNICAMP, Campinas, São Paulo
Documento preliminar ainda não publicado. Trabalho apresentado na I Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, Rio de Janeiro, 1995.
Conteúdo: Resultados de aspectos toxicológicos do Projeto Hoasca
Outras referências científicas:
Uso Ritual da Hoasca: Recomendações e Cuidados. Francisco Assis de Sousa Lima M.D
Newsletter of the Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies - MAPS” - Volume 7 Number 1 Winter 1996-97 - pp. 25-26 (www.maps.org)
The ritual use of Hoasca - Comments and advices Francisco Assis de Sousa Lima - English.rtf
The ritual use of Hoasca - Comments and advices Francisco Assis de Souza Lima - English.PDF
Uso Ritual da Hoasca - Recomendacoes e Cuidados Francisco Assis de Sousa Lima - Português.pdf
Uso Ritual da Hoasca - Recomendacoes e Cuidados Francisco Assis de Sousa Lima - Português.rtf
Sistema de Notificação e Monitoramento Psiquiátrico em Instituição de Usuários do Chá Hoasca – União da Vegetal. F. A. S. Lima, M. B. Naves, J. M. C. Motta; J. C. V. D. Migueli, G. S. Brito e Cols.
Conteúdo: Poster apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Psiquiatria. São Paulo, 1998.
XVI Congresso Brasil PQ 1998 - Resumo Poster - Português.PDF
XVI Congresso Brasil PQ 1998 - Resumo Poster - Português.rtf
O uso de Ayahuasca em um contexto Religioso por Ex-Dependentes de Álcool – Um estudo Qualitativo. Tese de Mestrado de Eliseu Labigalini Júnior.
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), São Paulo, 1998.
Uso de Ayahuasca por ex-dependentes de alcool na UDV - Tese de Mestrado de Eliseu Labigalini 1998 - Português.rtf
Referências Científicas na Internet
The Heffter Research Institute: www.heffter.org
Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies: www.maps.org
Em junho de 1991, o Demec - ainda denominado Centro de Estudos Médicos da UDV - realizou em São Paulo o 1º Congresso em Saúde, com o objetivo de atualizar os participantes quanto ao conhecimento acadêmico disponível sobre os aspectos que envolvem o chá Hoasca: botânicos, fitoquímicos, antropológicos, clínicos, psiquiátricos e legais.
Participaram cerca de 180 pessoas, entre autoridades jurídicas, filiados do Centro e pesquisadores nacionais e internacionais de grande expressão nessa área de estudo, como Dennis Mckenna (EUA) e Luis Eduardo Luna (Colômbia).
Um dos resultados do 1º Congresso em Saúde da UDV foi a proposta feita ao PhD. Dennis Mckenna para a realização de uma pesquisa abrangente a respeito do uso do chá Hoasca no contexto da União do Vegetal, desafio que foi aceito e resultou no projeto Farmacologia Humana da Hoasca.
Um mês após o 1º Congresso em Saúde da UDV, um de seus participantes - o jurista do Conselho Federal de Entorpecentes Domingos Bernardo de Sá - defendeu publicamente, no Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o uso ritualístico da Hoasca.
Com o tema "Hoasca e o desenvolvimento integral do ser humano", foi realizado em 1993 em Campinas, São Paulo, o II Congresso em Saúde da UDV, que contou com a participação de 450 pessoas. O programa científico abrangeu a apresentação feita pelos pesquisadores dos resultados preliminares de partes do Projeto Hoasca. Além do conteúdo científico, o congresso teve também em sua programação temas de interesse médico-comunitário, não diretamente relacionados aos aspectos científicos do chá.
Em 1995, foi realizada no Rio de Janeiro a 1a. Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca, com o objetivo de apresentar os resultados formais do Projeto Hoasca e promover uma reflexão comum com a comunidade científica, esclarecendo os setores responsáveis pela gestão jurídica do assunto.
Foi expressiva a participação tanto de autoridades jurídicas e acadêmicas mundialmente reconhecidas nas áreas de Etnobotânica de substâncias enteógenas, Neuroquímica e Psiquiatria, quanto de profissionais de saúde filiados do Centro e demais sócios interessados no assunto, num total de 900 participantes.
A 1a. Conferência Internacional dos Estudos da Hoasca ensejou o desenvolvimento de novas pesquisas, sempre tendo como referência o uso da bebida no ritual da União do Vegetal.
Em direção a Deus
O termo "alucinógeno" é a denominação corrente nos estudos de etnobotânica para classificar, por seus efeitos, o chá Hoasca (Vegetal), enquadrando em parâmetros já conhecidos uma manifestação incomum da natureza. No âmbito científico, a palavra significa "substância que produz falsas percepções da realidade" e tem sua origem na classificação farmacológica das substâncias psicoativas (que agem nas emoções e pensamentos).
Para alguns pesquisadores, a classificação do Vegetal como "alucinógeno" é uma imprecisão, pois o mesmo não causa perda do contato com a realidade - como pressupõe o termo - mas sim um grau ampliado de percepção que permite a compreensão daquela realidade com maior clareza ou transcendência.
Além disso, a evidência de que seu uso responsável tem sido de comprovada importância no processo de desenvolvimento pessoal, em todos os sentidos - físico, mental, moral e intelectual - para um grande número de adeptos, contribui para uma nova percepção do chá Hoasca no meio científico.
Nesse sentido, pesquisadores da área de Etnobotânica têm proposto a classificação do Vegetal como "enteógeno", ou seja, substância que "gera uma experiência de contato com o divino", causando uma sensação generalizada de aproximação com o Sagrado e facilitando o autoconhecimento e o aprimoramento do ser humano.
Inofensivo à saúde
A afirmação do Mestre da União, de que a Hoasca "é comprovadamente inofensivo à saúde", vem sendo avaliada pela comunidade científica internacional, numa iniciativa da própria UDV. Os primeiros resultados das pesquisas vão ao encontro das palavras do Mestre.
O Projeto Hoasca, realizado em 1993, avaliou um grupo de 15 usuários que há mais de 10 anos utilizavam regularmente o Vegetal em rituais da UDV nos aspectos de saúde geral e mental. Outros 15 indivíduos - que nunca utilizaram o chá Hoasca - foram estudados com os mesmos métodos para efeito de comparação de resultados (grupo controle).
O Projeto Hoasca indicou a existência de segurança no uso ritual que é feito do chá Hoasca na UDV. Seus resultados ensejaram o desenvolvimento de novas pesquisas, atualmente em andamento.
A avaliação da condição geral de saúde (avaliação clínica basal) não encontrou nenhum dano em qualquer sistema do organismo: respiratório, cardiovascular, renal-metabólico, neurológico e gastrointestinal entre os usuários do chá Hoasca.
A avaliação dos aspectos de saúde mental foi abrangente. O inquérito de diagnósticos psiquiátricos CIDI avaliou a existência atual e anterior de todos os tipos de transtornos psiquiátricos, inclusive dependência de substâncias. Os resultados obtidos demonstraram a inexistência de distúrbios psiquiátricos atuais entre os usuários do Vegetal, inclusive os que caracterizam "vício" (abstinência, tolerância, comportamento de abuso e perda social). A avaliação neuropsicológica demonstrou que os membros da UDV tinham maior poder de concentração e melhor resposta de memória auditiva imediata que os indivíduos do grupo controle.
A análise da personalidade dos indivíduos da UDV evidenciou que estes tendiam a ser pessoas mais seguras, calmas, dispostas, alegres, emocionalmente maduras, ordeiras, persistentes e confiantes em si mesmas em relação aos indivíduos do grupo controle.
A pesquisa indicou que os usuários regulares do chá Hoasca apresentam um melhor nível de humor. Esse resultado, correlacionado com os achados do estudo de receptores plaquetários de serotonina aponta um possível efeito anti-depressivo do chá.
FICHA TÉCNICA
Título: "O uso ritual da ayahuasca"
Autor: LABATE, Beatriz C. e ARAÚJO, Wladimir S. (orgs.)
Editora: FAPESP/Mercado das Letras (Campinas – SP)
Edição: 1ª edição
Ano de Publicação: 2002
Número de páginas: 686 p.
ISBN 8585725915
Disponível em livrarias eletrônicas.
FICHA TÉCNICA
Título: "O uso ritual da ayahuasca"
Autor: LABATE, Beatriz C. e ARAÚJO, Wladimir S. (orgs.)
Editora: FAPESP/Mercado das Letras (Campinas – SP)
LABATE, Beatriz Caiuby e ARAÚJO, Wladimyr Sena (orgs.)
O Uso Ritual da Ayahuasca. Campinas, Mercado de Letras, São Paulo, Fapesp, 2002
FICHA TÉCNICA
Título: "O uso ritual da ayahuasca"
Autor: LABATE, Beatriz C. e ARAÚJO, Wladimir S. (orgs.)
Editora: FAPESP/Mercado das Letras (Campinas – SP)
Edição: 1ª edição
Ano de Publicação: 2002
Número de páginas: 686 p.
ISBN 8585725915
Disponível em livrarias eletrônicas.
[2] Membros da Comissão de Saúde Mental do Departamento Médico-Científico do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal
Rua Caiubi, 1004, Perdizes. São Paulo- SP. CEP 05010-000 Fone/Fax 3673-8298
e-mail: demec@udv.org.br