F.B. Assumpção
20 de junho de 2006
ESCALA DE AVALIAÇÃO DA
ANSIEDADE-TRAÇO INFANTIL – UM ESTUDO DE SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE
F. B. Assumpção Jr.
(*)
C. Renate Resch (**)
(*) Professor Associado do Departamento de Psicologia
Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Professor
Livre Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo.
(**) Psicóloga clínica. Especialização em Psicoterapia
Infantil. Orientadora Educacional do Complexo Educacional “Pueri Domus”
Endereço
para correspondência: R. Otones 697; V. Clementino; São Paulo; SP; Brasil;
04025-002
RESUMO
Os autores
apresentam estudo de validação da Escala de Avaliação de Ansiedade-traço
Infantil, a partir de sua aplicação em 30 crianças de dez a dezessete anos
(idade média de 11,08 +/- 2,56), sendo 26 do sexo masculino e 4 do sexo
feminino, e 30 crianças portadoras de transtorno de ansiedade de separação,
diagnosticadas conforme os critérios do DSM IV (idade média de 11,82 +/- 2,56
anos), sendo 16 do sexo masculino e 14 do sexo feminino, avaliadas também
através da Escala de Avaliação de Ansiedade Infantil (SCARED).
O Coeficiente Alfa de Cronbach foi igual a 0,864, o coeficiente
de correlação de Pearson mostrou que existiram itens que não se
mostraram bem correlacionados. A curva ROC mostrou ponto de corte com melhor
desempenho, conjunto de sensibilidade e especificidade igual a 41, mostrando
boa sensibilidade e especificidade embora diferentes dos obtidos pelos
idealizadores do instrumento.
A Análise
Fatorial apresentou os 3 primeiros fatores reproduzindo cerca de 43% da
variabilidade dos itens. Entre a escala
traço-ansiedade e a SCARED no grupo com queixa, a correlação de Pearson se mostrou igual a -0,0145, com nível de significância (p) = 0,9395 para
um N=30, caracterizando que a correlação entre a escala traço-ansiedade
e a SCARED foi fraca.
A comparação das médias obtidas com pessoas normais, sem
queixas, através do teste t independente, com nível de significância de 5%,
mostrou-se significante. O alfa de Crombach só para
os itens que foram significantes com a escala total foi de 0,883. Devido
a facilidade de uso e sua confiabilidade, acreditamos que, após outros estudos,
possa ser de utilidade na prática da Psiquiatria Infantil enquanto instrumento
de screening referente aos sintomas
ansiosos em geral.
PALAVRAS-CHAVE: Ansiedade-traço ; Criança;
Questionário; Validação.
ABSTRACT
The authors present the Childhood
Anxiety-Trait Evaluation Scale validation study by its application in thirty
10- to 17-years-old children, from regular school (mean age 11,08 +/- 2,56
years-old), being 26 male and 4 female children, and thirty 10- to 17-years-old
outpatients (mean age 11,82 +/- 3,21 years-old), diagnosed with Separation
Anxiety Disorder by the DSM IV criteria, being 16 male and 14 female children,
also evaluated through the Screen for Child Anxiety Related Emotional Disorders
(SCARED). Cronbach´s alpha was 0,864, and Pearson´s correlation coefficient
showed there were itens not well correlated. The ROC curve obtained a cut off
point with the best performance, sensibility and specificity in 41, showing
good sensibility and specificity, although different from the obtained by the
scale creators.
The
factorial analysis showed the first three factors reproduce around 43% of the
itens´ variability. The Pearson´s correlation was -0,0145 between the Childhood
Anxiety-Trait Evaluation Scale and the SCARED in the symptomatic group, with
significance level (p) = 0,9395 for N=30, showing a weak correlation between
the Childhood Anxiety-Trait Evaluation Scale and the SCARED.
The
comparing of means obtained for healthy assymptomatic controls through t
independent test with significance level of 5% was significant. The Cronbach´s
alpha just for the significant itens with the total scale was 0,883.
Due to its facility of use and
reliability, we believe that, after more studies, it may be of utility in the
practice of Child Psychiatry as a screening tool related to anxiety symptoms in
general.
KEYWORDS: Trait-Anxiety; Child; Questionnaire;
Validation.
ESCALA DE AVALIAÇÃO
TRAÇO-ESTADO PARA ANSIEDADE INFANTIL –
um estudo de sensibilidade e especificidade
F.B.Assumpção
Jr. (*)
Christiane
Renate Resch (**)
INTRODUÇÃO
A
nosografia psiquiátrica, baseada principalmente na experiência com pacientes é
fundamentada em observações psicopatológicas de cunho eminentemente descritivo
com a finalidade de estabelecer a especificidade sintomatológica e sindrômica,
tem grandes dificuldades na Psiquiatria da Infância, em função da questão do
desenvolvimento, que propicia uma mudança contínua nas características do
sujeito.
A
ansiedade, conceituada por Sacristán (1995) como “... uma emoção desagradável característica, induzida pela antecipação
de um perigo ou frustração, e que ameaça a segurança, homeostase, ou vida do
indivíduo ou do grupo biopsicosocial a que pertence”, é uma das patologias
mais importantes a serem estudadas, em função de sua prevalência, que chega a
atingir aproximadamente 8 a 10% de crianças com idades inferiores a 10 anos
(Bell-Dolan,1993), com uma prevalência entre 2,5 a 5% na população geral e de
10,6 a 24% na população clínica (Jonvent;1999).
Lewis,
citado por Andrade e Gorenstein (2000), caracteriza-a como um estado emocional,
com a experiência subjetiva de medo ou outra emoção relacionada, como terror,
horror, alarme e pânico, sendo desagradável e podendo chegar a uma sensação de
morte ou colapso, direcionada em relação ao futuro com a sensação implícita de
perigo iminente sem risco real, acompanhada de desconforto corporal subjetivo,
caracterizado por sensação de aperto no peito ou garganta, dispnéia e fraqueza.
Paralelamente, podem ser observadas outras manifestações corporais
involuntárias, como xerostomia, sudorese, tremor, náusea e vômitos, palpitação
e dores abdominais.
Na criança,
seu diagnóstico é difícil, uma vez que depende de uma diferenciação com a
própria ansiedade decorrente do processo de desenvolvimento, e que deve ser
considerada normal de acordo com as manifestações detectadas em cada idade
(Gemelli, 1996). Da mesma forma,
manifestações ansiosas podem ser decorrentes somente de aspectos situacionais
ou podem estar ligadas a quadros mais complexos que caracterizam um Transtorno
Ansioso.
Em função
dessas dificuldades, faz-se necessária a elaboração de testes e escalas
enquanto medidas objetivas e padronizadas dessa amostra de comportamento
(Anastasi,1965).
Visando-se
seu diagnóstico, principalmente em amostras populacionais, Birmaher (1997)
desenvolveu o “Screen for child anxiety
related emotional disorders” (SCARED), autoaplicável, para detecção da
ansiedade na criança que é, freqüentemente, subdiagnosticada devido à
associação com outras patologias psiquiátricas, como depressão ou transtorno
bipolar. Assim, o diagnóstico da ansiedade, enquanto um transtorno específico
ou não, é importante, pois ela afeta o desenvolvimento infantil, predispondo ao
aparecimento de outras patologias psiquiátricas, e pode persistir no indivíduo
adulto ou apresentar pior prognóstico, quando não tratada. Entretanto, nem
sempre a presença do sintoma ansioso representa a presença de um Transtorno de
Ansiedade, uma vez que pode ser decorrente de aspectos situacionais e de
aspectos inerentes a própria personalidade do indivíduo em questão.
Dessa forma, o conceito traço-estado
baseia-se na concepção de ansiedade proposta por Spielberger e Smith (1966),
que os distingue de maneira tal que o estado de ansiedade se refere a um estado
emocional transitório, caracterizado por sentimentos subjetivos de tensão, que
pode variar de intensidade todo tempo. Trata-se, portanto, de uma reação a
situações de estresse com o traço de ansiedade se referindo a uma disposição
relativamente estável para responder dessa forma ao estresse, com uma tendência
a perceber uma ampla gama de situações como ameaçadoras. Conseqüentemente, o
traço diz respeito à parte da estrutura de personalidade do sujeito (Biaggio et al. 1977). Dessa maneira, um
instrumento desenvolvido com essa finalidade mostra-se útil para medir a
ansiedade em diferentes situações relativas a ensino, esporte e doenças
diversas com características clínicas, cirúrgicas ou mesmo psiquiátricas
(Spielberger et al. 1966), sem que no
entanto caracterize obrigatoriamente um Transtorno Ansioso.
A Escala de Avaliação da Ansiedade-traço
na criança (Bouden, 2002) é uma escala clinica, originalmente construída com 34
itens e que apresenta consistência interna elevada (fator a de
Crombach= 0,93, sendo 0,88 para o fator psíquico, 0,84 para o comportamental e
0,86 para o somático). A correlação entre itens também é boa com grau de
significado superior a 0,5 (coeficiente de Person). Finalmente, sua validade
também é boa, sendo sua zona sob a curva ROC de 0,97, com um intervalo de
confiança igual a 0,945-1,002 no qual um score
de 31 oferece uma sensibilidade de 82,5% e uma especificidade de 97%. Mostra-se
assim, um instrumento de screening promissor
na abordagem da ansiedade, considerando-se, não o transtorno psiquiátrico
específico, mas um fenômeno que ocorre em indivíduos sem transtornos
específicos (Biaggio, 1977). Avalia, assim, a ansiedade enquanto sintoma e não
como transtorno ansioso, considerando o grau de ansiedade traço, identificando
se esta é uma condição constante no indivíduo (Birmaher, 1999), o que nos poderia levar a tentar superpô-la,
conforme refere Akiskal (1998), como Transtorno de Ansiedade Generalizada.
Considerando-se essas
características, pareceu-nos útil enquanto escala de rastreamento de indivíduos
com sintomatologia ansiosa (Andreolli, 2000), porém sem diagnóstico obrigatório
de Transtorno Ansioso e, assim, estruturamos
este trabalho visando propiciar mais um instrumento adaptado à realidade
brasileira, para a utilização clinica e em outros projetos de pesquisa na área.
Isso porque poucos são os instrumentos específicos em nosso meio. Optamos,
assim, pela realização deste trabalho, tentando validar este instrumento, com
eficácia já devidamente comprovada em outro ambiente e que pode ser de extrema
utilidade para o pediatra, visando sua utilização como instrumento de triagem
de uma sintomatologia, nem sempre vinculada a uma patologia psiquiátrica.
MÉTODO
Para
adaptação em nosso meio, foi pedida autorização a seu idealizador. Após seu
fornecimento, o questionário foi traduzido do francês para o português por
psiquiatra com conhecimento da língua sendo, posteriormente, feita a
retrotradução por pessoa com conhecimentos da língua francesa e portuguesa
(Anexo I).
Posteriormente,
o questionário foi aplicado em 30 crianças, com idades entre dez e dezessete
anos (idade média de 11,08 +/- 2,56 anos, sendo 26 do sexo masculino e 4 do
sexo feminino), provenientes de escola estadual de primeiro e segundo graus do
município de São Paulo, sem nenhuma queixa psiquiátrica associada.
Concomitantemente, também foi aplicada em trinta crianças portadoras de
transtorno de ansiedade de separação, diagnosticadas conforme os critérios do
DSM IV, por psiquiatra com experiência na área (idade média de 11,82 +/- 2,56
anos, sendo 16 do sexo masculino e 14 do sexo feminino). Essas crianças foram
avaliadas também através da Escala de Avaliação de Ansiedade Infantil (SCARED)
conforme a validação proposta por Barbosa et
al. (2002).
Os dados
obtidos foram analisados através do teste t independente com nível de
significância de 5%. O teste t-independente é indicado quando se quer comparar
dois grupos de informações com nível de mensuração numérica, as amostras são
independentes e se deseja saber se em média os dois grupos são diferentes.
Considerando-se que o objetivo proposto foi o de validar a escala
traço-ansiedade, utilizamos ainda o cálculo do coeficiente alfa de Cronbach, as
correlações de Pearson entre a escala total e as escalas individuais e a curva
ROC, sendo que com essa, utilizamos um grupo de pessoas com diagnóstico clínico
de ansiedade (traço ansiedade segundo DSM IV). Para verificarmos o grau de
correlação entre a escala traço-ansiedade e a SCARED no grupo com queixa,
aplicamos a correlação de Pearson (Glantz, 1997).
RESULTADOS.
O presente estudo visou então
avaliar a escala traço-estado composta por 34 itens e já descrita
anteriormente. Assim, o Coeficiente Alfa de Cronbach foi igual a 0,864. Um
coeficiente de 0,80 ou mais é considerado como aceitável para a maioria das
aplicações em ciências humanas, razão pela qual pode ser considerado bom para a
proposta de validação do instrumento. Foi, entretanto, menor do que o
encontrado por seus idealizadores.
Os coeficientes de correlação de Pearson, entre o score total e os vários itens que compõe
esse score, são identificados na tabela
correspondente, na qual os itens marcados em negrito tiveram correlação
significante (p<0,05) com o score
total. Cabe, porém, observar que existiram itens que não se mostraram bem
correlacionados, a saber, os de números 1, 2, 3, 6, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16,
18, 19, 20, 21, 24, 25, 26, 28, 29, 32 e 34.
A curva ROC mostra que o ponto de
corte com melhor desempenho conjunto de sensibilidade e especificidade é o
ponto 41, no qual observamos sensibilidade de 0,733 (73,3%) e especificidade de
0,733 (73,3%). Esses resultados mostram boa sensibilidade e especificidade,
embora também diferentes dos obtidos pelos idealizadores do instrumento.
Foi realizada ainda Análise
Fatorial, na tentativa de formar fatores com os itens da escala que
reproduzissem de forma mais sucinta as variações existentes nesses mesmos
itens. Entretanto, o estudo produziu poucos fatores consistentes (2 ou 3) que
pudessem reproduzir com boa margem de explicação as variações dos itens do
estudo. Assim, os 3 primeiros fatores obtidos reproduzem cerca de 43% da
variabilidade dos itens, quando o ideal seria ter pelo menos 80% dos mesmos. Em
função desses resultados, não realizamos a fase de definição dos fatores.
Em
conseqüência, alguns itens (aqueles em que não observamos correlação significante
com a escala total) poderiam ser retirados da escala, uma vez que não se
correlacionam com o score total.
Entretanto, tal fato deve ser melhor estudado e confirmado com outras amostras,
pois pode estar acontecendo de esse conjunto de itens formar, na verdade, duas
ou mais escalas independentes, e não uma só. Entretanto, isso não foi possível
de ser demonstrado neste estudo.
Para verificarmos o grau de
correlação observado entre a escala traço-ansiedade e a SCARED no grupo com
queixa, aplicamos a correlação de
Pearson, que se mostrou igual a -0,0145 com nível de significância (p) = 0,9395 para um N=30. Esses dados
mostram que a correlação entre a escala traço-ansiedade e a SCARED foi fraca,
ou seja, não há relação entre elas no grupo com queixa. Assim, elas não devem medir as mesmas informações, embora a escala
em questão pareça ser um bom instrumento de mensuração da forma usual de
reação dessas crianças, uma vez que apontou diferença significante entre os
grupos avaliados. Também esse fato deve ser confirmado através de novos
estudos.
A comparação das médias obtidas com
pessoas normais, sem queixas, através do teste t independente, com nível de
significância de 5%, mostrou-se significante, observando-se que o grupo com
diagnóstico obteve respostas maiores que o grupo normal (Tabela 3, 4 e Figura
1). Os itens significantes estão marcados em negrito e são aqueles que mais
contribuem para a diferença no score
total.
O alfa de Crombach só para os itens que foram significantes
com a escala total (22) foi de 0,883, maior, portanto, que o da escala total, o
que pode ser indício de que os itens não significantes não contribuem para uma
escala mais diferenciada.
Item |
Correlação de Pearson |
nível de signficância (p) |
N |
I1 |
0,717 |
0,00001 |
30 |
I2 |
0,491 |
0,00587 |
30 |
I3 |
0,443 |
0,01420 |
30 |
I4 |
0,060 |
0,75168 |
30 |
I5 |
0,324 |
0,08027 |
30 |
I6 |
0,497 |
0,00523 |
30 |
I7 |
0,292 |
0,11694 |
30 |
I8 |
-0,042 |
0,82573 |
30 |
I9 |
0,488 |
0,00622 |
30 |
I10 |
0,309 |
0,09628 |
30 |
I11 |
0,472 |
0,00844 |
30 |
I12 |
0,651 |
0,00010 |
30 |
I13 |
0,390 |
0,03324 |
30 |
I14 |
0,675 |
0,00004 |
30 |
I15 |
0,396 |
0,03011 |
30 |
I16 |
0,665 |
0,00008 |
29 |
I17 |
0,200 |
0,28931 |
30 |
I18 |
0,601 |
0,00044 |
30 |
I19 |
0,383 |
0,03696 |
30 |
I20 |
0,783 |
0,00000 |
30 |
I21 |
0,491 |
0,00592 |
30 |
I22 |
0,343 |
0,06370 |
30 |
I23 |
0,070 |
0,71156 |
30 |
I24 |
0,423 |
0,01995 |
30 |
I25 |
0,710 |
0,00001 |
30 |
I26 |
0,468 |
0,00906 |
30 |
I27 |
0,279 |
0,13610 |
30 |
I28 |
0,503 |
0,00462 |
30 |
I29 |
0,369 |
0,04452 |
30 |
I30 |
0,268 |
0,16839 |
28 |
I31 |
0,223 |
0,23547 |
30 |
I32 |
0,522 |
0,00306 |
30 |
I33 |
0,086 |
0,65166 |
30 |
I34 |
0,537 |
0,00221 |
30 |
Tabela 1 - Coeficientes de
correlação de Pearson entre
o score total e os vários itens que
compõe esse score,
Pontos de Corte |
Sensibilidade |
Especificidade |
9,00 |
1,000 |
0,000 |
11,00 |
1,000 |
0,033 |
12,50 |
1,000 |
0,067 |
14,50 |
1,000 |
0,133 |
16,50 |
1,000 |
0,167 |
17,50 |
1,000 |
0,200 |
19,50 |
1,000 |
0,233 |
22,50 |
1,000 |
0,267 |
24,50 |
1,000 |
0,300 |
26,00 |
1,000 |
0,333 |
27,50 |
0,967 |
0,333 |
28,50 |
0,933 |
0,367 |
29,50 |
0,933 |
0,400 |
30,50 |
0,933 |
0,500 |
31,50 |
0,933 |
0,533 |
32,50 |
0,900 |
0,533 |
34,50 |
0,900 |
0,600 |
36,50 |
0,867 |
0,600 |
37,50 |
0,800 |
0,667 |
39,00 |
0,800 |
0,700 |
41,00 |
0,733 |
0,733 |
42,50 |
0,633 |
0,800 |
43,50 |
0,600 |
0,800 |
45,00 |
0,533 |
0,833 |
47,50 |
0,467 |
0,867 |
49,50 |
0,433 |
0,900 |
50,50 |
0,433 |
0,933 |
51,50 |
0,400 |
0,933 |
53,00 |
0,367 |
0,933 |
54,50 |
0,333 |
0,967 |
56,00 |
0,267 |
0,967 |
57,50 |
0,233 |
0,967 |
58,50 |
0,200 |
1,000 |
59,50 |
0,167 |
1,000 |
61,50 |
0,133 |
1,000 |
64,00 |
0,100 |
1,000 |
65,50 |
0,067 |
1,000 |
67,00 |
0,000 |
1,000 |
Tabela 2 - Curva ROC para o ponto de corte com melhor
desempenho conjunto de sensibilidade e especificidade
|
Com Queixa |
Sem Queixa |
Média |
47,90 |
31,70 |
Desvio-padrão |
11,10 |
13,20 |
N |
30 |
30 |
Tabela 3 - médias e desvios-padrão entre população normal e
população ansiosa, avaliadas através da
escala traço-estado.
Teste t (p)<0,001 *
Fig. 1 -gráfico descritivo da diferença entre scores obtidos na população normal e na
população diagnosticada através da escala traço-estado.
Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96 *
desvio-padrão / √ (n-1)
|
Com Queixa |
Sem Queixa |
Mann-Whitney |
||||
Média |
Desvio-padrão |
n |
Média |
Desvio-padrão |
n |
(p) |
|
I1 |
2,2 |
0,8 |
30 |
1,3 |
1,0 |
30 |
0,001 * |
I2 |
2,0 |
1,0 |
30 |
1,0 |
0,9 |
30 |
<0,001
* |
I3 |
1,2 |
0,9 |
30 |
1,0 |
0,8 |
30 |
0,390 |
I4 |
1,2 |
1,1 |
30 |
0,9 |
1,0 |
30 |
0,304 |
I5 |
1,5 |
1,2 |
30 |
1,5 |
1,1 |
30 |
0,891 |
I6 |
1,3 |
1,3 |
30 |
0,8 |
1,0 |
30 |
0,130 |
I7 |
1,0 |
0,9 |
30 |
1,1 |
1,0 |
30 |
0,708 |
I8 |
1,2 |
0,9 |
30 |
0,7 |
0,7 |
30 |
0,033 * |
I9 |
2,2 |
1,0 |
30 |
1,4 |
1,0 |
30 |
0,005 * |
I10 |
1,7 |
1,1 |
30 |
1,2 |
0,9 |
30 |
0,072 |
I11 |
0,5 |
0,9 |
30 |
0,7 |
1,0 |
30 |
0,645 |
I12 |
2,1 |
1,0 |
30 |
1,4 |
1,1 |
30 |
0,013 * |
I13 |
1,6 |
1,3 |
30 |
0,9 |
1,1 |
30 |
0,039 * |
I14 |
2,0 |
0,9 |
30 |
0,9 |
1,0 |
30 |
<0,001
* |
I15 |
1,7 |
1,0 |
30 |
1,2 |
0,8 |
30 |
0,035 * |
I16 |
2,2 |
0,9 |
30 |
1,9 |
0,8 |
29 |
0,125 |
I17 |
1,7 |
1,3 |
30 |
1,0 |
1,1 |
30 |
0,029 * |
I18 |
2,4 |
0,9 |
30 |
1,8 |
1,0 |
30 |
0,014 * |
I19 |
2,0 |
1,2 |
30 |
1,3 |
1,1 |
30 |
0,026 * |
I20 |
1,9 |
1,1 |
30 |
1,1 |
1,1 |
30 |
0,009 * |
I21 |
1,2 |
1,3 |
30 |
0,8 |
1,1 |
30 |
0,246 |
I22 |
1,8 |
1,2 |
30 |
1,1 |
1,2 |
30 |
0,038 * |
I23 |
0,7 |
1,0 |
30 |
0,3 |
0,6 |
30 |
0,073 |
I24 |
0,9 |
1,3 |
30 |
0,8 |
1,0 |
30 |
0,948 |
I25 |
1,6 |
1,3 |
30 |
1,0 |
1,1 |
30 |
0,103 |
I26 |
1,5 |
1,1 |
30 |
0,9 |
0,9 |
30 |
0,021 * |
I27 |
1,0 |
1,2 |
30 |
1,3 |
1,2 |
30 |
0,393 |
I28 |
0,6 |
0,9 |
30 |
0,1 |
0,3 |
30 |
0,004 * |
I29 |
1,9 |
1,3 |
30 |
1,0 |
1,2 |
30 |
0,011 * |
I30 |
0,1 |
0,4 |
30 |
0,0 |
0,2 |
28 |
0,980 |
I31 |
1,2 |
1,2 |
30 |
0,4 |
0,6 |
30 |
0,023 * |
I32 |
0,8 |
0,9 |
30 |
0,6 |
0,9 |
30 |
0,309 |
I33 |
0,3 |
0,7 |
30 |
0,1 |
0,3 |
30 |
0,150 |
I34 |
0,9 |
1,2 |
30 |
0,3 |
0,7 |
30 |
0,011 * |
Tab.4 - Comparação entre dois grupos avaliados através da
escala traço-estado, um deles composto por pessoas consideradas normais e sem
queixa e outro grupo com diagnóstico clínico de ansiedade realizado segundo os
critérios do DSM-IV.
teste t-independente com nível de significância de 5%.
DISCUSSÃO
A avaliação
psicopatológica da criança é difícil,embora deva ser estabelecida visando a
determinação de seus índices populacionais, para que medidas preventivas e
terapêuticas possam ser implementadas.
Neste
estudo, avaliamos uma escala específica para sintomas de ansiedade infantil
enquanto forma usual de resposta de determinadas crianças. A importância desse
tipo de validação deve-se ao fato de termos pouquíssimos instrumentos adequados
à abordagem da criança, da mesma forma que os idealizadores deste instrumento
referem quando a consideram o único instrumento realizado em árabe dialetal. No
Brasil, enquanto instrumento destinado à avaliação de transtornos de ansiedade
na infância, temos tão somente a SCARED, validada por Barbosa et al. (2002). Para avaliação do sintoma
ansiedade-traço, não possuímos muitos instrumentos padronizados.
As
diferenças que observamos em relação ao trabalho original talvez possam ser
compreendidas em razão da tradução realizada e das diferenças culturais entre
ambas as populações.
As
diferenças com a SCARED podem ser compreendidas em função desta ser
auto-aplicável e, assim, termos com ela uma visão pessoal da criança referente
a um quadro de ansiedade de separação e com a escala traço-ansiedade, termos
obtido a visão dos genitores (ansiedade-traço) sobre a maneira usual de
resposta da criança. Também deve ser considerado o fato de a SCARED procurar
avaliar Transtornos Ansiosos propriamente ditos ao passo que o instrumento em
questão se propõe a avaliar formas usuais de reação da criança diante de
determinados eventos. A irregularidade dos valores obtidos nos diferentes itens
pode também ser compreendida pelo fato de que, como a ansiedade corresponde a
uma reação complexa, ela pode ser expressa de maneiras diferentes e,
freqüentemente, imbricadas.
Devido à
sua facilidade de uso, bem como sua confiabilidade, acreditamos que, após
outros estudos, este instrumento diagnóstico possa ser de utilidade na prática
da Psiquiatria Infantil enquanto instrumento de screening referente aos sintomas ansiosos em geral, mais do que
para a sua classificação diagnóstica. Poderia ser utilizado, portanto,
principalmente em Pediatria, para posterior encaminhamento a serviços
especializados. Sugerimos, assim, que o estudo deve prosseguir, aumentando-se a
amostra estudada para que se observem as diferenças relativas às variações de
idade e sexo, devendo-se ainda verificar a estabilidade da mensuração através
do tempo, uma vez que ansiedade-traço é manifestação crônica, discriminando-se
o sintoma em questão dos sintomas depressivos.
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Sevilla: Universidad de Sevilla, 1995.
ANEXO I
ESCALA TRAÇO-ANSIEDADE
INFANTIL
Nome:
Sexo: Idade: Data:
Vocês
encontrarão aqui indicações descrevendo os comportamentos infantis ou seus
problemas. Leiam atentamente as indicações e escolham o grau de sofrimento da
criança em relação ao problema apresentado.
Indique 0:
ausente; 1: raramente; 2: freqüentemente; 3: sempre.
1. Tem tendência a se mostrar inquieto ou a ficar preocupado
a propósito de qualquer coisa (exames, competições, doenças de pessoas
próximas, brigas entre os pais...).
2. Tem tendência a preocupar-se, evitar ou recusar situações
novas.
3. Tem tendência a ter dores de barriga.
4. Tem tendência a preocupar-se ou evitar pessoas que não
lhe são familiares.
5. Tem tendência a perguntar muito a respeito de fatos
cotidianos.
6. Tem tendência a preocupar-se com a volta às aulas, as
idas ao quadro negro, os exames.
7. Queixa-se de dores de cabeça.
8. Queixa-se de vários tipos de dores.
9. Tende a ser irritável, nervoso, reclamando de tudo.
10. Tem a tendência de perguntar muito no que se refere a
temas insólitos ou surpreendentes.
11. Queixa-se, espontaneamente, de esquecimento ou lacunas
de memória.
12. Preocupa-se com o que os outros pensam a seu respeito
(colegas, professores, instrutores etc.).
13. Recusa-se a ficar sozinho ou tem medo da solidão.
14. Abandona rapidamente as tarefas iniciadas.
15. Chora facilmente
16. Procura situações de segurança (por contato físico, pela
presença e pessoa familiar, por encorajamento).
17. Tem medo de escuro.
18. É sensível às críticas.
19. Apresenta recusas sistemáticas e apresenta “caprichos”
(para levantar-se pela manhã, para se vestir, para lavar-se, para fazer as
lições da escola etc.).
20. Duvida de seu valor e de seu sucesso (escolar, esportivo
etc.).
21. Justifica os maus resultados escolares por esquecimento
ou falhas de memória.
22. É instável, agitado, superexcitado.
23. Tem tendência a apresentar problemas digestivos
(náuseas, vômitos, diarréias).
24. Tem dificuldades para se alimentar (apetite caprichoso,
recusas alimentares).
25. Preocupa-se em ter mau desempenho ou fazer mau aos
outros (exames, competições, relacionamento com os colegas ou professores).
26. Tende a se distrair ou apresenta dificuldades em se
concentrar.
27. Rói unhas.
28. Queixa-se de opressão no peito ou dificuldades em
respirar (independentemente de esforço físico).
29. Tem dificuldades de sono (recusa-se a deitar, tem
rituais de adormecimento, exige companhia).
30. Dificuldades em engolir (queixa-se de uma bola na
garganta).
31. Sobressalta-se com ruídos.
32.
Apresenta pesadelos freqüentes.
33. Queixa-se de que o coração bate muito forte
(independente de esforço físico).
34. Tem tendência a apresentar movimentos nervosos
(tremores, tiques).
(A. Bouden;
MB Halayem; R. Fakhfakh. Neuropsychiatrie de I’Enfance et de I’Adolescence; 2002;50(2):25-30)