Artigos Científicos

Força-tarefa brasileira de psiquiatras da infância e adolescência

César de Moraes; Caio Abujadi; Sylvia Maria Ciasca; Maria Valeriana Moura-Ribeiro

29 de setembro de 2009

Revista Brasileira de Psiquiatria

CARTA AOS EDITORES

 

Força-tarefa brasileira de psiquiatras da infância e adolescência

 

Brazilian child and adolescent psychiatrists task force

 

 

Sr. Editor,

A International Association for a Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP) propõe que cada país implemente um currículo de especialização e pós-graduação de alto nível em psiquiatria da infância e adolescência, garantindo um número suficiente de profissionais treinados para prevenção, intervenção e tratamento dos transtornos mentais incidentes nessa faixa etária.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), deve haver um psiquiatra infantil trabalhando em período integral para cada 30.000 crianças e adolescentes. Os psiquiatras infantis brasileiros atendem a uma população 20 vezes maior do que esse número (um para 621.504 indivíduos). Considerando a prevalência de 5,4% para qualquer transtorno mental severo,1 no Brasil, há um psiquiatra infantil para cada 33.561 indivíduos menores de 20 anos com transtornos mentais severos. Uma taxa menor que três psiquiatras para cada 100.000 indivíduos menores de 20 anos com severos transtornos mentais. A taxa nos Estados Unidos da América (EUA) é de 160 para cada 100.000.2

Esse quadro é agravado de acordo com a região do país. Nas regiões menos desenvolvidas, a falta de psiquiatras ocorre no interior e nos grandes centros, como Natal, Manaus, Fortaleza e Belém. Nas regiões Sudeste e Sul, o interior dos Estados sofre a falta de profissionais, visto que grande parte dos existentes permanece onde realizaram sua formação, como Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte, raramente migrando para o interior.

Entre 2006 e 2007, houve um aumento de 18 psiquiatras com título de especialista na área de atuação em psiquiatria infantil, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).3,4 Nesse ritmo, sem contar o crescimento populacional, 117 anos serão necessários para que o Brasil atinja o número proposto pela OMS. A cada ano, uma grande parte dos profissionais formados presta assistência na rede privada, agravando a falta de profissionais na rede pública.

Fica evidente que há uma deficiência de profissionais treinados para atender à população de crianças e adolescentes brasileiros com transtornos mentais severos (Tabela 1).

 

 

A AACAP propõe as seguintes estratégias para aumentar o recrutamento de profissionais na área:

1) supervisionar estudantes de graduação e residentes de psiquiatria geral com psiquiatras de crianças e adolescentes, para aumentar o interesse dos estudantes pela área.

2) Aumentar o espaço da saúde mental infantil nos currículos dos psiquiatras generalistas.

3) Ampliar os esforços na educação de estudantes de medicina e do público sobre a importância do trabalho dos psiquiatras infantis.

É fundamental conscientizar os responsáveis pelas políticas educacionais e de saúde da força-tarefa disponível de psiquiatras infantis e da premente necessidade da ampliação do número de novos profissionais.

O aumento do número de residências médicas na área é essencial. Enquanto, nos EUA, 300 médicos por ano concluem a residência em psiquiatria infantil, no Brasil, não há um número exato de psiquiatras que completam a residência. Apesar de haver 15 programas de residência na área, com um ano de duração, cadastrados pelo Ministério da Educação e Cultura, o número exato dos que concluem o treinamento não é conhecido.

 

César de Moraes
Centro de Ciências da Vida,
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puc-Camp),
Campinas (SP), Brasil
Laboratory of Learning and Attention Disorders (DISAPRE),
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Campinas (SP), Brasil

Caio Abujadi
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puc-Camp),
Campinas (SP), Brasil
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Campinas (SP), Brasil

Sylvia Maria Ciasca, Maria Valeriana Moura-Ribeiro
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Campinas (SP), Brasil

 

Financiamento e conflito de interesses

 

References

1. Shaffer D, Fisher P, Dulcan MK, Davies M, Piacentini J, Schwab-Stone ME, Lahey BB, Bourdon K, Jensen PS, Bird HR, Canino G, Regier DA. The NIMH Diagnostic Interview Schedule for Children Version 2.3 (DISC-2.3): description, acceptability, prevalence rates, and performance in the MECA Study. Methods for the Epidemiology of Child and Adolescent Mental Disorders Study. J Am Acad Adolesc Psychiatry. 1996;35(7):865-77.

2. Thomas CR, Holzer CE 3rd. The continuing shortage of child and adolescent psychiatrists. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2006;45(9):1023-31.

3. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). População. Censo populacional. Disponível em: www.ibge.gov.br/home/. Acessado 16 Fevereiro 2007.

4. Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Associados. Disponível em: www.abpbrasil.org.br/socios/. Acessado 17 Agosto 2006.

5. Associação Brasileira de Psiquiatria. Associados. Disponível em: www.abpbrasil.org.br/socios/. Acessado 14 Fevereiro 2007.


Artigo original:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000300021&lng=e&nrm=iso&tlng=e

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