Artigos Científicos

Diretrizes brasileiras para o diagnóstico de narcolepsia

Flávio Alóe et al.

6 de agosto de 2010

Rev. Bras. Psiquiatr., ahead of print Epub 25-Jun-2010

Diretrizes brasileiras para o diagnóstico de narcolepsia

 

Brazilian guidelines for the diagnosis of narcolepsy

 

 

Flávio AlóeI; Rosana Cardoso AlvesI; John F. AraújoII; Alexandre AzevedoI; Andrea BacelarIII; Márcio BezerraIV; Lia Rita Azeredo BittencourtV; Guilherme BustamanteVI; Tânia Aparecida Marchiori de Oliveira CardosoVII; Alan L. EckeliVIII; Regina Maria França FernandesIX; Leonardo GoulartX; Márcia Pradella-HallinanV; Rosa HasanI; Heidi Haueisen SanderVIII; Luciano Ribeiro Pinto Jr.V; Maria Cecília LopesI; Gisele Richter MinhotoXI; Walter MoraesV; Gustavo Antônio MoreiraV; Daniela PachitoVIII; Mário PedrazolliXII; Dalva PoyaresV; Lucila PradoXIII; Geraldo RizzoXIV; R. Nonato RodriguesXV; Israel RoitmanX; Ademir Baptista SilvaXVI; Stella Márcia Azevedo TavaresI,X

IHospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
IIUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal (RN), Brasil
IIICarlos Bacelar Clínica, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
IVClínica Rio-Sono, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
VDepartamento de Psicobiologia, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil
VIDepartamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Seção de Neurofisiologia Clínica, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
VIIDepartamento de Neurologia, Hospital das Clínicas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil
VIIIHospital das Clínicas, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
IXFaculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
XHospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil
XIPontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil
XIIEscola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
XIIIDepartamento de Neurologia, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil
XIVSONOLAB - Hospital Moinhos de Ventos e Hospital Mãe de Deus, Porto Alegre, RS, Brasil
XVHospital Universitário de Brasília, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil
XVIDepartamento de Neurologia, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil

Correspondência

 


RESUMO

Este artigo relata as conclusões da reunião de consenso com médicos especialistas sobre diagnóstico de narcolepsia baseada na revisão dos artigos sobre narcolepsia listados no Medline entre 1980 e 2010. A narcolepsia é uma doença crônica de início entre a primeira e segunda décadas de vida do indivíduo. Os sintomas essenciais são cataplexia e sonolência excessiva. A cataplexia é definida como episódios súbitos, recorrentes e reversíveis de fraqueza da musculatura esquelética desencadeados por situações de conteúdo emocional. Os sintomas acessórios são alucinações hipnagógicas, paralisia do sono e sono fragmentado. Critérios de diagnóstico clínico de acordo com a Classificação Internacional dos Transtornos do Sono são de sonolência excessiva e cataplexia. Recomenda-se a realização de polissonografia seguida do teste de latência múltipla do sono em um laboratório de sono para confirmação e diagnóstico de comorbidades. Quando não houver cataplexia, deve haver duas ou mais sonecas com sono REM no teste de latência múltipla do sono. Tipagem HLA-DQB1*0602 positiva com níveis de hipocretina-1 abaixo de 110pg/mL devem estar presentes para o diagnóstico de narcolepsia sem cataplexia e sem sonecas com sono REM.

Descritores: Cataplexia; Narcolepsia; Diagnóstico; Distúrbios do sono por sonolência excessiva; Polissonografia


ABSTRACT

This manuscript contains the conclusion of the consensus meeting on the diagnosis of narcolepsy based on the review of Medline publications between 1980-2010. Narcolepsy is a chronic disorder with age at onset between the first and second decade of life. Essential narcolepsy symptoms are cataplexy and excessive sleepiness. Cataplexy is defined as sudden, recurrent and reversible attacks of muscle weakness triggered by emotions. Accessory narcolepsy symptoms are hypnagogic hallucinations, sleep paralysis and nocturnal fragmented sleep. The clinical diagnosis according to the International Classification of Sleep Disorders is the presence of excessive sleepiness and cataplexy. A full in-lab polysomnography followed by a multiple sleep latency test is recommended for the confirmation of the diagnosis and co-morbidities. The presence of two sleep-onset REM period naps in the multiple sleep latency test is diagnostic for cataplexy-free narcolepsy. A positive HLA-DQB1*0602 with lower than 110pg/mL level of hypocretin-1 in the cerebrospinal fluid is required for the final diagnosis of cataplexy- and sleep-onset REM period -free narcolepsy.

Descriptors: Cataplexy; Narcolepsy; Diagnosis; Disorders of excessive somnolence; Polysomnography


 

Introdução

A narcolepsia é um transtorno neurodegenerativo crônico caracterizado por sonolência excessiva (SE) e manifestações dissociativas do sono REM, como cataplexia, paralisia do sono, alucinações hipnagógicas e sono REM precoce (sonecas com sono REM, SOREMP)1. O significativo impacto psicossocial e funcional da narcolepsia faz com que sua importância clínica exceda a magnitude da sua prevalência. A narcolepsia em humanos envolve fatores ambientais, agindo em uma plataforma genética autoimune específica com perda neuronal.

 

1. Epidemiologia da narcolepsia

A prevalência da narcolepsia com cataplexia é de 15 a 50 por 100.000 habitantes e a prevalência da narcolepsia sem cataplexia é 56 por 100.000 habitantes2-6. A incidência de narcolepsia, com e sem cataplexia, foi estimada em 1,37 por 100.000 habitantes por ano4, com pico de incidência na segunda década de vida. Ambos os sexos são afetados, na proporção de 1,4-1,80 homem/mulher4.

 

2. Genética da narcolepsia

Fatores genéticos e ambientais associam-se na narcolepsia, mas cada um deles não é isoladamente suficiente ou necessário para causar a narcolepsia com cataplexia7.

O risco de um parente de primeiro grau de um paciente ser diagnosticado com narcolepsia é de 10 a 40 vezes maior que a população geral. A frequência de narcolepsia-cataplexia em parentes de primeiro grau é de 2,90% a 3,20%7. A concordância em gêmeos monozigóticos para narcolepsia com cataplexia varia entre 25-31%7.

Existe uma associação de narcolepsia com o alelo DQB1*0602 do complexo maior de histocompatibilidade (HLA). A presença do HLA-DQB1*0602 varia entre 88-98% na população com narcolepsia com cataplexia, 40-60% na população de narcolepsia sem cataplexia e 12-34% na população geral8-13 (Tabela 1). Na população do sudeste do Brasil, a porcentagem do HLA-DQB1*0602 em caucasianos é de 13,60%14 e, em mulatos, de 14,30%15 .

 

 

Estudos com GenomeWide Association em caucasianos europeus, americanos saudáveis e narcolépticos com cataplexia e HLADQB1*0602 positivo demonstram na população com narcolepsia um polimorfismo no receptor alfa de linfócitos T (T-cell receptor alpha, TRA)16,17. O TRA expressa uma proteína que ativa as células da classe CD8 citotóxico e CD4 helper, que confere suscetibilidade para destruição das células hipocretinérgicas HLA-DQB1*0602 positivas.16,17. Estes resultados sugerem que a narcolepsia seja uma moléstia autoimune, com HLA e TRA como indicadores de risco.

Outros genes estão envolvidos na genética da narcolepsia. Sabese que a catecol-O-metil-transferase (COMT) é a responsável pela inativação da dopamina e noradrenalina no sistema nervoso. Em narcolépticos, o polimorfismo da COMT influencia na expressão dos sintomas e na resposta à modafinila, sobretudo no sexo feminino18,19.

 

3. Sintomas

Dois sintomas essenciais, a SE (sensível, mas inespecífica) e a cataplexia (que é altamente específica) são os principais sintomas. Paralisia do sono, alucinações hipnagógicas e sono noturno fragmentado ou sintomas acessórios formam uma pentade20-24:

• sonolência diurna;

• cataplexia;

• paralisia do sono;

• alucinações hipnagógicas;

• sono noturno fragmentado.

Outras manifestações da narcolepsia são:

• episódios de comportamentos automáticos;

• pesadelos;

• déficits cognitivos;

• obesidade;

• parassonias;

• diabetes tipo II.

1) SE

A SE é o primeiro sintoma em 90-94% dos casos, sendo a principal queixa do paciente. A SE é crônica, diária e ocorre independente da quantidade de sono no período principal de sono.

Características da SE:

• sensação de sonolência, de intensidade constante ou variável, e duração de uma até várias horas;

• ataques irresistíveis de sono, apesar da tentativa de permanecer acordado;

• cochilos que aliviam a sonolência por até algumas horas nos adultos;

• múltiplos cochilos ao longo do período principal de vigília; • o alívio da sonolência proporcionado pelos cochilos reflete o grau de intensidade da sonolência e tem valor para o diagnóstico diferencial;

• a sonolência pode expressar-se como flutuação no nível de atenção e concentração.

2) Cataplexia

A cataplexia caracteriza-se por episódios súbitos, recorrentes e reversíveis de atonia da musculatura esquelética (ocorrendo durante a vigília, poupando o diafragma), desencadeados por situações de conteúdo emocional. É um fenômeno dissociativo do sono REM (vigília com atonia muscular).

A cataplexia é o sintoma mais específico e patognomônico da narcolepsia com deficiência de hipocretina-1 no líquor (LCR), sendo o melhor marcador diagnóstico da narcolepsia. Aparece, em geral, simultaneamente à SE, embora ataques de cataplexia • episódios desencadeados por situações com forte conteúdo possam aparecer até anos mais tarde. emocional positivo (riso), susto ou raiva;

Características clínicas do ataque de cataplexia:

• episódios súbitos e recorrentes de atonia muscular esquelética

• episódios desencadeados por situações com forte conteúdo emocional positivo (riso), susto ou raiva;

• duração, em média, de alguns segundos até 10 minutos;

• consciência preservada pelo menos ao início do ataque; axial e/ou apendicular bilateralmente;

• capacidade auditiva e de compreensão preservadas durante o atque;

• término súbito com retorno do tônus muscular e sem confusão mental ou amnésia;

• padrão respiratório normal durante o ataque.

3) Alucinações hipnagógicas-hiponopômpicas (AH)

AH são experiências oníricas que ocorrem nas transições vigíliasono ou sono-vigília, respectivamente. Ocorrem em 20 a 65% dos narcolépticos. São geralmente visuais, somatossensoriais (sensação de estar "fora do corpo"), mas também são descritas formas auditivas, vestibulares ou multissensoriais20-24.

As alucinações podem acompanhar ou seguir os ataques de cataplexia e paralisia do sono. Alucinações hipnagógicas aterrorizantes ocorrem em cerca de 4 a 8% dos narcolépticos.

4) Paralisia do sono

A paralisia do sono caracteriza-se por uma incapacidade total para se mover, ocorrendo ao adormecer ou, mais comumente, ao despertar. O paciente fica temporariamente incapaz de realizar atos voluntários, embora se mantenha consciente. Pode ser acompanhada por sensação de incapacidade para respirar e por alucinações variadas em até 50% dos casos, durando de 1 a 10 minutos (com média de 2 minutos), terminando subitamente após esforço mental ou por alguma estimulação sensorial externa.

5) Sono noturno fragmentado

Múltiplos despertares, movimentação excessiva durante o sono e insatisfação com o sono podem ocorrer em até 90% dos pacientes, principalmente acima dos 35 anos de idade. Não há aumento do tempo total de sono na narcolepsia e não há relação entre a qualidade do sono noturno e a gravidade da SE20-24.

6) Outras manifestações da narcolepsia20-24

a) Episódios de comportamentos automáticos

Em 8 a 40% dos casos podem ocorrer comportamentos automáticos com amnésia, variando desde atos repetitivos até dirigir um veículo.

b) Sintomas cognitivos

Narcolépticos apresentam déficits de atenção como consequência da SE, alterando a capacidade de rendimento em tarefas psicomotoras mais longas, monótonas e repetitivas, dependentes do nível de alerta.

 

4. Etiopatogenia da narcolepsia

1) Disfunção do sistema de hipocretinas hipotalâmico

O sistema hipocretinérgico está localizado na região pósterolateral perifornical do hipotálamo25. As hipocretinas tipo 1 e tipo 2 são peptídeos neurotransmissores excitatórios, produzidos exclusivamente pelas células hipotalâmicas.

O sistema de hipocretinas é composto por duas subpopulações de receptores (hipocretina-1 e hipocretina-2) com afinidades distintas21 . Ele regula o ciclo sono-vigília, comportamentos alimentares, locomoção, comportamentos de recompensa, atividade do sistema nervoso autonômico e eixo hipófisepituitário-adrenal21-23.

Estudos anatomopatológicos em narcolépticos com cataplexia mostram uma perda específica dos neurônios hipocretinérgicos (Figura 1). A perda neuronal é seletiva, com desaparecimento apenas de células produtoras de hipocretinas, poupando os neurônios colocalizados com as células produtoras de hipocretinas que contém melanina (melanin concentrating hormone, MCH)25 .

2) Transmissão de hipocretinas e narcolepsia-cataplexia

A deficiência de hipocretina gera um estado de desorganização e instabilidade do padrão sono-vigília. Há SE, intrusões de sono durante a vigília e intrusões de vigília no período de sono principal, com sono fragmentado e inúmeras transições entre sono-vigíla-sono. Há, principalmente, fenômenos dissociativos do sono REM, como, por exemplo, cataplexia, paralisia do sono, alucinações hipnagógicas e ausência de atonia muscular durante o sono REM20-24.

3) Mecanismo autoimune lesional hipotalâmico na narcolepsia

A etiologia autoimune para casos de narcolepsia-cataplexia idiopática esporádica é sustentada por algumas evidências:

• a presença do HLA-DQB1*0602 e do polimorfismo do TRA confere uma suscetibilidade genética para o desenvolvimento de um mecanismo de lesão seletiva e irreversível no período pós-natal dos neurônios hipocretinérgicos17,26,27;

• co-ocorrência esporádica de narcolepsia com EM -outra doença autoimune associada com HLA-DQB1*0602;

• associação de narcolepsia e síndromes paraneoplásicas autoimunes do tipo encefalite límbica com anticorpos antiMa222-24,27;

• não há uma evolução significativa dos sintomas, o que não é compatível com uma doença neurodegenerativa com perda neuronal progressiva22-24,27;

• alguns pacientes apresentam uma melhora dos sintomas com o tempo, o que sugere uma doença não degenerativa22-24,27;

• sorologia antiestreptolisina. ASLO (procedimento que demonstra a presença de anticorpos produzidos pelo organismo em resposta a infecções causadas por estreptococos) para estreptococos com títulos elevados em casos de narcolepsia de início recente. Infecções por estreptococos poderiam funcionar como um desencadeador ambiental de uma reação autoimune mediada por linfócitos tipo T com receptores alfa positivos contra células produtoras de hipocretina26;

• destruição seletiva dos neurônios hipocretinérgicos poupando neurônios contendo MHC, que se co-localizam na mesma região anatômica que os neurônios que contêm hipocretinas27;

• resposta clínica parcial à imunoglobulina G endovenosa em casos de início recente26;

• cães narcolépticos no início do quadro respondem parcialmente a agentes imunossupressores tradicionais, como metrotrexate, azatioprina ou prednisona, retardando o início da doença26,27.

 

5. Complicações

1) Qualidade de vida e desempenho acadêmico, profissional e social

Sonolência diurna é a principal causa da má qualidade de vida, e cataplexia é um fator limitante na funcionalidade do paciente28,29. Diferentemente de outras condições, como a doença de Parkinson e a síndrome da apneia obstrutiva do sono (na qual o início da sonolência é mais tardio), a narcolepsia e os efeitos colaterais do tratamento afetam uma faixa etária precoce, prejudicando especificamente os anos de formação acadêmica e desenvolvimento da personalidade28,29.

Outras complicações incluem dificuldades profissionais com baixo rendimento, perda de promoções, demissões, desemprego e especialmente prejuízo acadêmico28,29. Efeitos colaterais da medicação, como hipotensão ortostática, boca seca e disfunção sexual erétil, adicionam-se aos sintomas da narcolepsia, prejudicando mais ainda a qualidade de vida28,29.

2) Risco de acidentes de trabalho e de trânsito

A SE confere riscos de acidentes de trabalho e automobilísticos especificamente na população abaixo de 40 anos de idade. Narcolépticos apresentam um número significativo de erros no simulador de direção progressivamente maior quanto mais longa a duração do teste30,31.

 

6. Comorbidades

1) Depressão

Dezoito a 57% dos pacientes com narcolepsia referem apresentar sintomas de humor depressivo, perda do interesse e do prazer. Contudo, a prevalênciade transtorno depressivoé igualada população geral33. A redução da qualidade de vida devido à sonolência diurna, o isolamento e prejuízo social e os déficits cognitivos são fatores para o desenvolvimento de sintomas depressivos33 .

2) Ansiedade

A prevalência de sintomas de ansiedade, ataques de pânico e fobia social é de 25%, independentemente da idade e tempo de duração do quadro clínico33. Ansiedade, ataques de pânico e fobia social são consequências da cronicidade e da limitação dos sintomas da narcolepsia sobre a funcionalidade socioprofissional da população dos pacientes com narcolepsia33.

3) Transtorno comportamental do sono REM (TCSREM)

A prevalência deTCSREM na narcolepsia é de aproximadamente de 36 a 61%.

O TCSREM em pacientes com narcolepsia difere clinicamente do TCSREM não associado à narcolepsia. A idade de início do TCSREM é mais precoce (cerca 31 anos de idade), há um menor predomínio do sexo masculino. Não existem evidências de que o TCSREM associado à narcolepsia represente um fator de risco para o desenvolvimento de moléstias neurodegenerativas34-37 .

4) Transtornos alimentares

A prevalência de compulsão alimentar e comportamentos alimentares restritivos é maior na população com narcolepsia que na população geral38. Os sintomas de transtornos alimentares não apresentam correlação com uso de medicação e tão pouco com sintomas afetivos38.

5) Obesidade

Obesidade é mais prevalente em pacientes com narcolepsia de início precoce e em pacientes com SE mais intensa, independentemente do uso de medicações. A obesidade é do tipo central, com o índice de massa corporal de 10 a 20% mais elevado que em controles normais39.

As causas da obesidade podem estar na relação entre a neurotransmissão de hipocretinas, atividade do sistema nervoso autonômico, metabolismo basal e sistema leptina-grelina, responsáveis pela sinalização da necessidade calórica, apetite e saciedade39-41.

6) Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS)

A prevalência de SAOS é mais alta na população de narcolépticos (taxa de prevalência de 9 a 19%) que na população geral42.

7) Migrânea

A prevalência de migrânea no sexo feminino e masculino em narcolépticos com cataplexia é de, respectivamente, 44% e 28%. A prevalência de enxaquecas é maior em subpopulações com sintomas mais intensos43-44.

8) Narcolepsia e EM

Narcolepsia e EM apresentam o alelo HLA 0602 em comum e ambas são consideradas transtornos autoimunes. A EM é um fator de risco para narcolepsia, mas o contrário não é verdadeiro45 .

 

7. Diagnósticos diferenciais

1) Diagnósticos diferencial da SE1,46

• Síndrome do sono insuficiente de causa comportamental;

• síndrome da apneia obstrutiva de sono;

• hipersonia idiopática do sistema nervoso central (SNC);

• hipersonias associadas a transtornos do SNC;

• hipersonias devido a condições médicas;

• hipersonias devido a drogas ou substâncias;

• hipersonias recorrentes;

• alterações do ritmo circadiano.

A presença de cataplexia, sintomas secundários, idade de início e características dos cochilos são importantes para o diagnóstico diferencial.

2) Síndrome do sono insuficiente de causa comportamental

Privação crônica voluntária de sono gera sintomas de SE mais constantes e desejos para dormir, ao contrário dos ataques irresistíveis de sono da narcolepsia. Os cochilos são longos e reparadores e a SE desaparece. O diagnóstico diferencial é alcançado com a história médica, diários de sono e com extensão do período de sono46 .

3) SAOS

SAOS e narcolepsia podem coexistir devido à obesidade do tipo central nas duas condições. O diagnóstico diferencial é feito pela história médica, polissonografia (PSG) e teste das latências múltiplas do sono (TLMS). A fragmentação do sono causada pelas apneias pode simular alterações clássicas da narcolepsia na PSG e no TLMS sono. Eventualmente, o diagnóstico definitivo pode ser alcançado apenas com o tratamento da SAOS, desmascarando a sonolência causada pela narcolepsia46.

4) Hipersonia idiopática do SNC

O diagnóstico diferencial entre narcolepsia sem cataplexia e sonolência idiopática do SNC é intrinsecamente difícil1,45. Os cochilos da narcolepsia são curtos, refrescantes, ocorrem em forma de ataques e não precedidos de um grau importante de sonolência. Os cochilos da hipersonolência idiopática são longos, não restauradores e precedidos de sonolência. Sono noturno longo (> 10 horas) não reparador e cansaço de manhã ao acordar, além de episódios de embriaguez do sono com confusão mental são característicos de hipersonia idiopática, e não de narcolepsia. A sonolência idiopática do SNC não cursa com anormalidades clássicas de sono REM na PSG e no TLMS1,47.

5) Hipersonias recorrentes

SE pode ocorrer nas hipersonias recorrentes, como na síndrome de Kleine-Levin, que se caracteriza por surtos autolimitados de 8 a 15 dias de duração com sonolência associada a hiperfagia, copropraxia, coprolalia e hipersexualidade48.

6) Diagnósticos diferenciais da cataplexia

Condições médicas com episódios que mimetizem ataques recorrentes de cataplexia são muito raras. Alguns achados presentes durante um ataque de cataplexia que auxiliam de forma significativa no diagnóstico diferencial são:

• Arreflexia tendínea profunda transitória durante o ataque;

• preservação da consciência;

• ausência de amnésia;

• manutenção da capacidade auditiva e de compreensão durante o ataque;

• desencadeamento por riso, excitação ou susto;

• término súbito do ataque sem amnésia ou confusão mental.

7) Cataplexia e epilepsia

Cataplexia e paralisia do sono podem ser confundidas com o diagnóstico de crises epilépticas do tipo astáticas ou acinéticas49,50.

8) Cataplexia e crises gelásticas

Apesar da ocorrência de risos durante as crises gelásticas e no desencadeamento de cataplexia, não há perda de tônus neuromuscular durante as crises gelásticas, mas sim confusão mental50 .

9) Doenças hereditárias com ataques do tipo catapléticos isolados

Ataques de cataplexia podem ocorrer nas doenças de Niemann-Pick tipo C, doença de Norrie, na síndrome Coffin Lowry e síndrome de Möbious23,51.

10) Pseudocataplexia

A pseudocataplexia é a simulação de ataques de cataplexia por parte de narcolépticos com cataplexia, como uma forma de ganho que objetiva o acesso à medicação estimulante ou alguma outra forma de compensação52.

11) Diagnóstico diferencial das alucinações na narcolepsia

a) Esquizofrenia

As alucinações da esquizofrenia são principalmente auditivas, ocorrendo durante a vigília, enquanto as alucinações da narcolepsia são de natureza visual (na forma de vultos, sombras, em branco e preto), ocorrendo nas transições entre sono e vigília53. O paciente narcoléptico refere que se tratam de alucinações54.

12) Diagnóstico diferencial da paralisia do sono

A prevalência de paralisia do sono na população geral é 2,50% a 40%. Ela pode estar associada ao uso de medicação ansiolítica, doença médica, transtorno bipolar e sono não restaurador55.

 

8. Narcolepsia secundária a doenças médicas ou neurológicas

Mais de 90% dos casos de narcolepsia são esporádicos. Casos familiares e de narcolepsia secundária constituem uma rara parcela7. A narcolepsia secundária é associada com patologias hipotalâmicas, como doença de Niemann-Pick tipo C, tumores, traumatismo de crânio, EM, pós-encefalite, agenesia de corpo caloso, sarcoidose, neurocisticercose e encefalites límbicas. A narcolepsia-cataplexia sintomática pode não estar associada com a redução de hipocretina-1 no LCR. Cerca de 20% de casos de trauma de crânio cursam cronicamente com redução dos níveis de hipocretina-1 no LCR. Apenas uma minoria dos casos de trauma crânio-encefálico desenvolvem narcolepsia-cataplexia pós-traumática com alterações neurofisiológicas compatíveis45,56.

 

9. Diagnóstico laboratorial da narcolepsia

1) Avaliação neurofisiológica

A avaliação neurofisiológica requer uma PSG realizada no laboratório de sono, seguida, no dia seguinte, do TLMS1. Estes exames devem ser realizados sob supervisão de pessoal técnico e de médico habilitados56,57. O rigor técnico para evitar resultados falso-negativos ou falso-positivos inclui58:

• retirar agentes supressores do sono REM, como antidepressivos (tricíclicos, inibidores de monoamino-oxidase, inibidores da recaptação de monoaminas etc.) e estimulantes do SNC. Estas medicações devem ser suspensas por um período de 14 dias antes da realização dos exames (no caso de fluoxetina, seis semanas);

• retirar sedativos, hipnóticos e anti-histamínicos pelo menos uma semana antes dos testes;

• substâncias estimulantes, como cafeína e nicotina devem ser reduzidas ou retiradas na semana do exame;

• manter horários regulares e pelo menos seis horas de sono por noitepara dormir eacordarnasduas semanas anteriores ao exame.

2) PSG

a) Indicação da PSG na narcolepsia

A PSG seguida do TLMS é indicada de forma mandatória na narcolepsia sem cataplexia para diagnóstico laboratorial (vide mais abaixo). Nos casos de narcolepsia com cataplexia bem caracterizada a PSG é necessária para diagnóstico de comorbidades59.

b) Interpretação e achados da PSG

Os achados mais frequentes na narcolepsia são60-62:

• eficiência de sono normal nos pacientes mais jovens, podendo estar reduzida em pessoas com mais tempo de quadro clínico;

• latência de sono NREM abaixo de 10 minutos;

• redução da latência de sono REM abaixo de 70 minutos;

• aumento do número de microdespertares;

• aumento de transições entre os estágios de sono e vigília;

• aumento de tempo acordado após o início do sono;

• aumento de estágio 1.

Outros achados polissonográficos significativos incluem:

• aumento da densidade de movimentos oculares durante o sono REM;

• sono REM sem atonia (SREMSA);

• aumento de atividade fásica no eletromiograma de mento.

Estes achados são mais prevalentes na população de narcolépticos que na população geral34,63,64.

3) TLMS

O TLMS deve ser realizado segundo diretrizes definidas pela força-tarefa da American Academy of Sleep Medicine65 . Uma PSG realizada na noite que antecede o TLMS é necessária para se documentar a quantidade noturna de sono e avaliar a arquitetura do sono65. O TLMS consiste de cinco oportunidades para adormecer, realizadas a cada duas horas durante o período principal de vigília.

a) Indicações do TLMS

O TLMS é indicado a todos os pacientes com suspeita de narcolepsia sem cataplexia para confirmação do diagnóstico65.

b) Interpretação do TLMS

Os achados mais frequentes na narcolepsia são60-62:

Uma latência média de sono inferior ou igual a 8 minutos, com a presença de dois ou mais episódios de sono REM, é suficiente para o diagnóstico polissonográfico de narcolepsia1.

A sensibilidade e a especificidade do TLMS são de, respectivamente, 0,78 e 0,93, quando utilizado um ponto de corte de dois ou mais episódios de SOREMP65. Um TLMS negativo para narcolepsia não descarta definitivamente o diagnóstico65,66.

Os SOREMP não ocorrem apenas na narcolepsia, sendo importante descartar ou tratar outras doenças antes de avaliar o achado de SOREMP para sustentar o diagnóstico de narcolepsia. A fragmentação do sono associada com a síndrome da apneia obstrutiva do sono pode causar falso-positivos no TLMS65,66.

c) Indicações de repetição do TLMS na narcolepsia67

• Quando o primeiro teste é afetado por circunstâncias externas ou as condições do estudo não sejam inadequadas;

• resultados ambíguos (por exemplo, apenas um SOREMP);

• suspeita clínica de narcolepsia, porém um ou mais TLMS anterior(es) negativos.

4) Teste da Manutenção da Vigília (TMV)

O TMV consiste em uma avaliação diurna que mede a capacidade de uma pessoa permanecer acordada em um ambiente com pouca estimulação sensorial68. Não é um teste diagnóstico para narcolepsia e a American Academy of Sleep Medicine recomenda a indicação do TMV quando houver necessidade de avaliar65:

• a capacidade de um paciente em permanecer acordado quando houver risco para a sua segurança ou de terceiros66,67;

• a resposta a tratamento em paciente portador de SE66,67.

5) Conclusões da avaliação neurofisiológica

A PSG e o TLMS são úteis para se confirmar o diagnóstico de narcolepsia. Se a repetição da PSG seguida do TLMS mostrar a inexistência de dados positivos em diferentes ocasiões, isto exclui o diagnóstico de SE devido à narcolepsia.

6) Avaliação subjetiva da SE

A escala mais utilizada para avaliação clínica da SE é a Escala de Sonolência de Epworth70 (Tabela 2). Valores acima de 10 pontos são considerados acima do normal71,72.

 

Imunogenética e tipagem HLA-DQB1*0602

Oitenta e oito a 98% dos casos de narcolepsia com cataplexia demonstram antígeno HLA-DQB1*0602 positivo7,12,13,73.

Contudo, a presença deste alelo não é fator suficiente nem necessário para o desenvolvimento da narcolepsia7,73. Na população geral, a prevalência do antígeno HLA-DQB1*0602 varia entre 1234%8,14,15 (Tabela 1). Na população de narcolepsia sem cataplexia, a prevalência do HLA-DQB1*0602 é de 40% a 60%8,9. A tipagem HLA possui, portanto, uma baixa especificidade nestes casos de narcolepsia sem cataplexia e não é um instrumento isolado para se realizar o diagnóstico da narcolepsia sem cataplexia46,74. Um HLA positivo é critério de suporte diagnóstico, mas sua ausência não elimina a presença de narcolepsia sem cataplexia.

Em conclusão, o uso clínico do alelo HLA-DQB1*0602 é limitado, já que possui baixas sensibilidade e especificidade em pacientes sem cataplexia46,74.

 

Hipocretina-1 no LCR

A concentração normal de hipocretina situa-se acima de 200pg/ mL em todas as idades e em ambos os sexos75-78.

Níveis de hipocretina-1 abaixo de 110pg/mL são altamente específicos (99%) e sensíveis (87-89%) para casos de narcolepsia com cataplexia, mas não são sensíveis para casos sem cataplexia (Tabela 1). Apenas 16% dos casos de narcolepsia sem cataplexia apresentam redução da hipocretina-1 lombar, sendo que níveis maiores de 110pg/ mLnãoexcluem odiagnóstico de narcolepsia semcataplexia79-81.Existe uma forte associação entre a redução da hipocretina-1 no LCR com a presença de cataplexia e com o HLA-DQB1*0602 positivo13 .

A dosagem de hipocretina-1 no LCR está indicada nas seguintes situações para o diagnóstico de narcolepsia:

• indivíduos com SE, mas com um ou mais TLMS negativo;

• quando houver dúvidas sobre a existência de cataplexia;

• uso de medicações de ação no SNC que interfiram nos resultados do TLMS;

• pacientes jovens (crianças e adolescentes) ainda sem cataplexia;

• pacientes que não podem realizar o TLMS por motivos operacionais.

Nas situações acima, a tipagem HLA-DQB1*0602 deve anteceder a dosagem de hipocretina-1 no LCR. Se o HLA-DQB1*0602 for negativo, não há necessidade de se dosar a hipocretina, uma vez que não existe redução de hipocretina-1 no LCR sem HLA-DQB1*0602 positivo46,74 em casos de narcolepsia esporádica.

 

Referências

1. American Academy of Sleep Medicine. International classification of sleep disorders, second edition: diagnostic and coding manual. Westchester, IL: American Academy of Sleep Medicine; 2005.

2. Longstreth WT Jr, Ton TG, Koepsell T, Gersuk VH, Hendrickson A, Velde S. Prevalence of narcolepsy in King County, Washington, USA. Sleep Med. 2009;10(4):422-6.

3. Longstreth WT Jr, Koepsell TD, Ton TG, Hendrickson AF, van Belle G. The epidemiology of narcolepsy. Sleep. 2007;30(1):13-26.

4. Silber MH, Krahn LE, Olson EJ, Pankratz VS. The epidemiology of narcolepsy in Olmsted County, Minnesota: a population-based study. Sleep. 2002;25(2):197-202.  

5. Hublin C, Kaprio J, Partinen M, Koskenvuo M, Heikkila K, Koskimies S, Guilleminault C.The prevalence of narcolepsy: an epidemiological study of the Finnish Twin Cohort. Ann Neurol. 1994;35(6):709-16.

6. WingYK, Li RH, Lam CW, Ho CK, FongSY,LeungT.The prevalence ofnarcolepsy among Chinese in Hong Kong. Ann Neurol. 2002;51(5):578-84.  

7. Mignot E. Genetic and familial aspects of narcolepsy. Neurology. 1998;50(2 Suppl 1):S16-22.

8. Mignot E, Lin L, Rogers W, Honda Y, Qiu X, Lin X, Okun M, Hohjoh H, Miki T, Hsu S, Leffell M, Grumet F, Fernandez-Vina M, Honda M, Risch N. Complex HLA-DR and -DQ interactions confer risk of narcolepsycataplexy in three ethnic groups. Am J Hum Genet. 2001;68(3):686-99.

9. Pelin Z, Guilleminault C, Risch N, Grumet FC, Mignot E. HLA-DQB1*0602 homozygosity increases relative risk for narcolepsy but not disease severity in two ethnic groups. US Modafinil in Narcolepsy Multicenter Study Group. Tissue Antigens. 1998;51(1):96-100.

10. Mignot E, Kimura A, Lattermann A, Lin X, Yasunaga S, Mueller-Eckhardt G, Rattazzi C, Lin L, Guilleminault C, Grumet FC, Mayer G, Dement WC, Underhill P. Extensive HLA class II studies in 58 non-DRB1*15 (DR2) narcoleptic patients with cataplexy. Tissue Antigens. 1997;49(4):329-41.

11. Ellis MC, Hetisimer AH, Ruddy DA, Hansen SL, Kronmal GS, McClelland E, Quintana L, Drayna DT, Aldrich MS, Mignot E. HLA class II haplotype and sequence analysis support a role for DQ in narcolepsy. Immunogenetics. 1997;46(5):410-7.

12. Mignot E, Lin X, Arrigoni J, Macaubas C, Olive F, Hallmayer J, Underhill P, Guilleminault C, Dement WC, Grumet FC. DQB1*0602 and DQA1*0102 (DQ1) are better markers than DR2 for narcolepsy in Caucasian and black Americans. Sleep. 1994;17(8 Suppl):S60-7.

13. Mignot E, Hayduk R, Black J, Grumet FC, Guilleminault C. HLA DQB1*0602 is associated with cataplexy in 509 narcoleptic patients. Sleep. 1997;20(11):1012-20.

14. Morgun A, Gonçalves-Primo A, Shulzhenko N, Rampim GF, Mine KL, Gerbase-DeLima M. HLA-DQB1 and -DRB1 Alleles, Cytokine Polymorphismis and KIR Gene Frequencies in a Population (Caucasian) from South East Brazil. Hum Immunol. 2004;65(9):879-82.

15. Temin J, Marques GD, Morgun A, Shulzhenko N, Rampim GF, Gerbase-de Lima M. HLA-DQB1 and -DRB1 Alleles and Cytokine Polymorphismis in a Mulatto population from South East Brazil. Hum Immunol. 2004;65(9):882-6.

16. Miyagawa T, Honda M, Kawashima M, Shimada M, Tanaka S, Honda Y, Tokunaga K. Polymorphism located in TCRA locus confers susceptibility to essential hypersomnia with HLA-DRB1*1501-DQB1*0602 haplotype. J Hum Genet. 2010;55(1):63-5.

17. Hallmayer J, Faraco J, Lin L, Hesselson S, Winkelmann J, Kawashima M, Mayer G, Plazzi G, Nevsimalova S, Bourgin P, Hong SC, Honda Y, Honda M, Högl B, Longstreth WT Jr, Montplaisir J, Kemlink D, Einen M, Chen J, Musone SL, Akana M, Miyagawa T, Duan J, Desautels A, Erhardt C, Hesla PE, Poli F, Frauscher B, Jeong JH, Lee SP,TonTG, Kvale M, Kolesar L, Dobrovolná M, Nepom GT, Salomon D, Wichmann HE, Rouleau GA, Gieger C, Levinson DF, Gejman PV, Meitinger T, Young T, Peppard P, Tokunaga K, Kwok PY, Risch N, Mignot E. Narcolepsy is strongly associated with the T-cell receptor alpha locus. Nat Genet. 2009;41(6):708-11.

18. Dauvilliers Y, Neidhart E, Lecendreux M, Billiard M, Tafti M. MAO-A and COMT polymorphisms and gene effects in narcolepsy. Mol Psychiatry. 2001;6(4):367-72.  

19. Dauvilliers Y, Neidhart E, Billiard M, Tafti M: Sexual dimorphismof the catechol-O-methyltransferase gene in narcolepsy is associated with response to modafinil. Pharmacogenomics J. 2002,2(1):65-8.

20. Dauvilliers Y, Arnulf I. Narcolepsie avec cataplexie. Revue Neurologique. 2008;164(8-9):634-45.  

21. Dauvilliers Y, Arnulf I, Mignot E. Narcolepy with cataplexy. Lancet. 2007;369(9560):499-511.  

22. Nishino S. Clinical and neurobiological aspects of narcolepsy. Sleep Med. 2007;8(4):373-99.  

23. Nishino S. Narcolepsy. Sleep Med Clin. 2006;1:47-61.

24. Dauvilliers Y, Billiard M, Montplaisir J. Clinical aspects and pathophysiology of narcolepsy. Clin Neurophysiol. 2003;114(11):2000-17.   

25. Thannickal TC, Nienhuis R, Siegel JM. Localized loss of hypocretin (orexin) cells in narcolepsy without cataplexy. Sleep. 2009;32(8):993-8.  

26. Overeem S, Black JL 3rd, Lammers GJ. Narcolepsy: immunological aspects. Sleep Med Rev. 2008;12(2):95-107.

27. Boehmer LN, Wu MF, John J, Siegel JM. Treatment with immunosuppressive and anti-inflammatory agents delays onset of canine genetic narcolepsy and reduces symptom severity. Expl Neurol. 2004;188(2):292-9.  

28. Vignatelli L, D'Alessandro R, Mosconi P, Ferini-Strambi L, Guidolin L, De Vincentiis A, Plazzi G; GINSEN (Gruppo Italiano Narcolessia-Studio Epidemiologico Nazionale). Health-related quality of life in Italian patients with narcolepsy: the SF-36 health survey. Sleep Med. 2004:5(5):467-75.

29. Rieger M, Mayer G, Gauggel S. Attention deficits in patients with narcolepsy. Sleep. 2003;26(1):36-43.

30. Bayon V, Damien Léger D, Philip P. Socio-professional handicap and accidental risk in patients with hypersomnias of central origin. Sleep Med. 2009;13(6):421-6. 

31. Aldrich MS. Automobile accidents in patient with sleep disorders. Sleep. 1989;12(6):487-94.  

32. Fortuyn HA, Lappenschaar MA, Furer JW, Hodiamont PP, Rijnders CA, Renier WO, Buitelaar JK, Overeem S. Anxiety and mood disorders in narcolepsy: a case-control study. Gen Hosp Psychiatry. 2010;32(1):49-56.

33. Bonakis A, Howard RS, Williams A, Bonakis A, Howard RS, Williams A. Narcolepsy presenting as REM sleep behaviour disorder. Clinical Neurol Neurosurg. 2008;110(5):518-20. 

34. Dauvilliers Y, Rompré S. REM Sleep Characteristics in narcolepsy and REM Sleep Behavior Disorder. Sleep. 2007;30(7):844-9.

35. Mattarozzi K, Bellucci C, Campi C, Cipolli C, Ferri R, Franceschini C, Mazzetti M, Russo PM, Vandi S, Vignatelli L, Plazzi G. Clinical, behavioural and polysomnographic correlates of cataplexy in patients with narcolepsy/cataplexy. Sleep Med. 2008;9(4):425-33.

36. Nevsimalova S, Prihodova I, Kemlink D, Linm L, Mignot E. REM behavior disorder (RBD) can be one of the first symptoms of childhood narcolepsy. Sleep Med. 2007;8(7-8):784-6.

37. Nightingale S, Orgill JC, Ebrahim IO, de Lacy SF, Agrawal S, Williams AJ. The association between narcolepsy and REM behavior disorder (RBD). Sleep Med. 2005;6(3):253-8.

38. Fortuyn HA, Swinkels S, Buitelaar J, Renier WO, Furer JW, Rijnders CA, Hodiamont PP, Overeem S. High prevalence of eating disorders in narcolepsy with cataplexy: a case-control study. Sleep. 2008;31(3):335-41.

39. Dahmen N, Bierbrauer J, Kasten M. Increased prevalence of obesity in narcoleptic patients and relatives. Eur Arch Psychiatry Clin Neurosci. 2001;251(2):85-9.

40. Chabas D, Foulon C, Gonzalez J, Nasr M, Lyon-Caen O, Willer JC, Derenne JP, Arnulf I. Eating disorder and metabolism in narcoleptic patients. Sleep. 2007;30(10):1267-73.

41. Kotagal S, Krahn LE, Slocumb N. A putative link between childhood narcolepsy and obesity. Sleep Med. 2004;5(2):147-50.

42. Sansa G, Iranzo A, Santamaria J. Obstructive sleep apnea in narcolepsy. J Sleep Med. 2010;11(1):93-5.

43. Dahmen N, Kasten M, Wieczorek S, Gencik M, Epplen JT, B Ullrich B. Increased frequency of migraine in narcoleptic patients: a confirmatory study. Cephalalgia. 2003;23(1):14-9.

44. Dahmen N, Querings K, Grun B, Bierbrauer J. Increased frequency of migraine in narcoleptic patients. Neurology. 1999;52(6):1291-3.

45. Nishino S, KanbayashiT. Symptomatic narcolepsy, cataplexy and hypersomnia, and their implications in the hypothalamic hypocretin/orexin system. Sleep Med Rev. 2005;9(4):269-310.

46. Billiard M. Diagnosis of narcolepsy and idiopathic hypersomnia. An update based on the International Classification of Sleep Disorders. Sleep Med Rev. 2007;11(5):377-88.

47. Sasai T, Inoue Y, Komada Y, Sugiura T, Matsushima E. Comparison of clinical characteristics among narcolepsy with and without cataplexy and idiopathic hypersomnia without long sleep time, focusing on HLA-DRB1*1501/DQB1*0602 finding. Sleep Med. 2009;10(9):961-6.

48. Arnulf I, Zeitzer JM, File J, Farber N, Mignot E. Kleine-Levin syndrome: a systematic review of 186 cases in the literature. Brain. 2005;128(Pt 12):2763-76.

49. Doose H. Myoclonic-astatic epilepsy in early childhood. In: Roger J, Bureau M, Dravet C, editors. Epileptic Syndromes in infancy, childhood and adolescence. 2 ed. London: John Libbey; 1992. p.103-14.

50. Zeman A, Douglas N, Aylward R. Narcolepsy mistaken for epilepsy. BMJ. 2001;322(7280);216-8. 

51. Zeman A, Britton T, Neil Douglas D, Hansen A, Hicks J, Robin H. Narcolepsy and excessive daytime sleepiness. BMJ. 2004;329(7468):724-8.

52. Baumann CR, Bassetti CL, Valko PO, Haybaeck J, Morten Keller M, Clark E, Stocker R, Markus Tolnay M, Scammell TE. Loss of hypocretin (Orexin) neurons with traumatic brain injury. Ann Neurol. 2009;66(4):555-9.  

53. Droogleever-Fortuyn HA, et al. Psychotic symptoms in narcolepsy: phenomenology and a comparison with schizophrenia. Gen Hospital Psychiatr. 2009;31:146-54.  

54. Ohayon MM, Priest RG, Caulet M, Guilleminault C. Hypnagogic and hypnopompic hallucinations: pathologic phenomenon? Br J Psychiatry. 1996;169(4):459-67  

55. Ohayon MM, Zulley J, Guilleminault C, Smirne S. Prevalence and pathologic association of sleep paralysis in the general population. Neurology. 1999;52(6):1194-200.  

56. D'Cruz O, Vaughn B, Gold S. Symptomatic cataplexy in pontomedullary lesions. Neurology. 1994;44(11):2189-91.

57. Iber C, Ancoli-Israel S, Chesson AL, Quan SF. The AASM manual for the scoring of sleep and associated events: rules, terminology, and technical specifications. Westchester, Illinois: American Academy of Sleep Medicine; 2007.   

58. Kushida CA, Littner MR, Morgenthaler T, Alessi CA, Bailey D, Coleman J Jr, Friedman L, Hirshkowitz M, Kapen S, Kramer M, Lee-Chiong T, Loube DL, Owens J, Pancer JP, Wise M. The indications for polysomnography and related procedures. Sleep. 2005;28(4):499-521.

59. Standards of Practice Committee of the American Academy of Sleep Medicine. Practice parameters for clinical use of the multiple sleep latency test and the maintenance of wakefulness test. Sleep. 2005;28:113-21.

60. Broughton R, Dunham W, Newman J, Lutley K, Duschesne P, Rivers M. Ambulatory 24 hour sleep-wake monitoring in narcolepsy -cataplexy compared with matched control subjects. Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1988;70(6):473-81.

61. Montplaisir J, Billiard M, Takahashi S, Bell IR, Guilleminault C, Dement WC. Twenty-four-hour recording in REM-narcoleptics with special reference to nocturnal sleep disruption. Biol Psychiatry. 1978;13(1):73-89.

62. Montplaisir J, Godbout R. Nocturnal sleep of narcoleptic patients: revisited. Sleep. 1986;9(1 Pt 2):159-61.  

63. Vankova J, Nevsimalova S, Sonka K, Spackova N, Svejdova- Blazejova K. Increased REM density in narcolepsy-cataplexy and the polysymptomatic form of idiopathic hypersomnia. Sleep. 2001;24(6):707-11.

64. Dauvilliers Y, Pennestri MH, Petit D, Dhang-Vu T, Lavigne G, Montplaisir J. Periodic leg movements during sleep and wakefulness in Narcolepsy J. Sleep Res. 2007;16(3):333-9. 

65. Arand D, Bonnet M, Hurwitz T, Mitler M, Rosa R, Sangel B. The Clinical Use of the MSLT and MWT. Sleep 2005;28(1):123-44.

66. Bonnet MH. ACNS clinical controversy: MSLT and MWT have limited clinical utility. J Clin Neurophysiol. 2006;23(1):50-8.

67. Wise MS. Objective Measures of Sleepiness and Wakefulness: Application to the Real World? J Clin Neurophysiol. 2006;23(1):39-49.

68. Mitler MM, Gujavarty KS, Browman CP. Maintenance of wakefulness test: a polysomnographic technique for evaluation treatment efficacy in patients with excessive somnolence. Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1982;53(6):658-61. 

69. Doghramji K, Mitler M, Sangal B, Shapiro, Taylor S. Shapiro C, Taylor S, Walsleben J, Belisle C, Erman MK, Hayduk R, Hosn R, O'Malley EB, Sangal JM, Schutte SL, Youakim JM. A normative study of the maintenance of wakefulness test (MWT). Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1997;103(5):554-62.

70. Johns MW. A new method for measuring daytime sleepiness: the Epworth sleepiness scale. Sleep. 1991;14(6):540-5.

71. Johns MW. Sleepiness in different situations measured by the Epworth sleepiness scale. Sleep. 1994;17(8):703-10.

72. Johns MW. Sensitivity and specificity of the multiple sleep latency test (MSLT), the maintenance of wakefulness test and the Epworth sleepiness scale: failure of the MSLT as a gold standard. J Sleep Res. 2000;9(1):5-11.

73. Lin L, Hungs M, Mignot E. Narcolepsy and the HLA region. J Neuroimmunol. 2001;117(1-2):9-20.

74. Bougin P, Zeitzer JM, Mignot E. CSF hypocretin-1 assessment in sleep and neurological disorders. Lancet Neurol. 2008;7(7):649-62.

75. de Lecea L, Kilduff TS, Peyron C, Gao X, Foye PE, Danielson PE, Fukuhara C, Battenberg EL, Gautvik VT, Bartlett FS 2nd, Frankel WN, van den Pol AN, Bloom FE, Gautvik KM, Sutcliffe JG. The hypocretins: hypothalamus-specific peptides with neuroexcitatory activity. Proc Natl Acad Sci USA. 1998;95(1):322-7.

76. SakuraiT, Amemiya A, Ishii M, Matsuzaki I, Chemelli RM,Tanaka H, Williams SC, Richarson JA, Kozlowski GP, Wilson S, Arch JR, Buckingham RE, Haynes AC, Carr SA, Annan RS, McNulty DE, Liu WS, Terrett JA, Elshourbagy NA, Bergsma DJ, Yanagisawa M. Orexins and orexin receptors: a family of hypothalamic neuropeptides and G protein-coupled receptors that regulate feeding behavior. Cell. 1998;92(4):573-85. 

77. Fronczek R, Bauman CR, Lammers GJ, Bassetti CL, Overeem S. Hypocretin/ orexin disturbances in neurological disorders. Sleep Med Rev. 2009;13(1):9-22. 

78. Shchenko D, Murillo-Rodriguez E, Lin L, Xu M, Hallett L, Nishino S, Lin L, Xu M, Hallett L, Nishino S, Mignot E, Shiromani PJ. Relationship between CSF hypocretin levels and hypocretin neuronal loss. Exp Neurol. 2003;184(2):1010-6.

79. Mignot E, Lammers GJ, Ripley B, Okun M, Nevsimalova S, Overeem S, Overeem S, Vankova J, Black J, Harsh J, Bassetti C, Schrader H, Nishino S. The role of cerebrospinal fluid hypocretin measurement in the diagnosis of narcolepsy and other hypersomnias. Arch Neurol. 2002;59(10):1553-62.

80. Dauvilliers Y, Baumann CR, Carlander B, Bischof M, Blatter T, Lecendreux M, Maly F, Besset A, Touchon J, Billiard M, Tafti M, Bassetti CL. CSF hypocretin-1 levels in narcolepsy, Kleine-Levin syndrome, and other hypersomnias and neurological conditions. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2003;74(12):1667-73.

81. Baumann CR, Bassetti CL. Hypocretins (orexins) and sleep-wake disorders. Lancet Neurol. 2005;4(10):673-82.

 

Correspondência
Flávio Alóe
Rua Joaquim Floriano, 871, conjunto 43
04534-013 São Paulo, SP, Brasil
E-mail: piero.ops@terra.com.br

 


Clique para ampliar


Artigo original:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462010005000014&lng=pt&nrm=iso&tlng=en

O portal Psiquiatria Infantil.com.br já recebeu

49.745.983 visitantes