Antonio de Pádua Serafim; Fabiana Saffi; Maria Fernanda Faria Achá; Daniel Martins de Barros
7 de outubro de 2011
Dados demográficos, psicológicos e comportamentais de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual Demographic, psychological and behavioral characteristics of child and adolescent victims of sexual abuse Antonio de Pádua SerafimI; Fabiana SaffiII; Maria Fernanda Faria AcháIII; Daniel Martins de BarrosIV IPsicólogo, Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HCFMUSP) RESUMO CONTEXTO: A relação entre transtorno mental e histórico de abuso sexual é frequentemente observada na prática clínica e relatada na literatura. Palavras-chave: Abuso sexual, transtornos mentais, infância, adolescência. ABSTRACT BACKGROUND: There is a well known relationship between sexual abuse in children and mental health disorders, which is seen both in clinical practice as in the scientific literature. Keywords: Sexual abuse, mental disorders, infancy, adolescence. Introdução O abuso sexual é um fenômeno de grande ocorrência no escopo da violência contra crianças e adolescentes, uma vez que se configura por diversas práticas sexuais, tais como manipulação da genitália, pornografia, exibicionismo, assédio sexual, estupro, incesto e prostituição infantil1. Segundo a literatura, crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual tendem a desenvolver e apresentar transtorno de ansiedade, sintomas depressivos e agressivos, problemas quanto ao seu papel e funcionamento sexual e sérias dificuldades em relacionamentos interpessoais2-4. Evidências ainda estabelecem forte associação entre abuso sexual e transtornos mentais, tais como: transtorno afetivo, transtorno de estresse pós-traumático, distúrbios alimentares, dependência química e transtornos psicossexuais5-7. Além da relação com a doença mental, estudos também apontam que o abuso sexual pode acarretar prejuízos cognitivos, emocionais, comportamentais e sociais8. Medo, perda de interesse pelos estudos epelas brincadeiras, dificuldades de se ajustar, isolamento social, déficitde linguagem e de aprendizagem, fugas de casa, ideias suicidas e homicidas, automutilação e agressividade também são frequentes9-11. A importância de pesquisas nesse espectro se apresenta como uma prioridade, visto que é vasta a correlação entre as experiências deabuso sexual na infância e um conjunto de transtornos psiquiátricos e comportamentais na vida adulta12-14. Estudos realizados em diferentes partes do mundo sugerem que,aproximadamente, 7,4% das meninas e 3,3% dos meninos já sofreramalgum tipo de abuso sexual15. A sua real prevalência é desconhecida, visto que muitas crianças não revelam o abuso, somente conseguindofalar sobre ele na idade adulta15. Estudando 100 mulheres com transtorno afetivo bipolar naInglaterra, Garno et al.16 encontraram um percentual de 45% dos casos com histórico de abuso sexual. Segundo Gabel17, cerca de 33% da população feminina estudada relataram ter sofrido abuso sexual antes de completar 8 anos de idade. Outros autores ressaltaram que as possíveis alterações na saúde mental e a futura adaptação social das vítimas estão diretamente relacionadas às características de personalidade de cada vítima, bem como ao tipo de violência sofrida e à capacidade de reação diante de fatos geradores de estresse5. Outra importante consequência da experiência de abuso sexual é a sua estreita relação com a ocorrência de delitos na esfera sexual. Gover e Mackenzie18 enfatizaram a existência de elevada frequência de jovens delinquentes mantidos em instituições penais com histórico de abuso, negligências e experiências traumatizantes no contexto familiar. De acordo com Borges et al.19, o abuso sexual infantil é considerado fator de risco independente para algum tipo de comportamento delinquente. Porém, para Swanston et al.10, há prevalência entre os abusadores sexuais reincidentes daqueles com histórico de abuso sexual na infância. Poucos estudos nacionais tratam da questão do abuso sexual com crianças e adolescentes, o que dificulta a compreensão e limita políticas de intervenção adaptadas à nossa realidade nessa situação19. Assim, a presente pesquisa foi realizada com o objetivo de descrever os dados demográficos e os aspectos emocionais e comportamentais em crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Método Amostra Participaram deste estudo 205 crianças e adolescentes com idade entre 6 e 14 anos, sendo 130 meninas (9,6 ± 3,4 anos) e 75 meninos (7,2 ± 2,9 anos), que foram encaminhados ao Programa de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (NUFOR) entre 2005 e 2009. O NUFOR é uma unidade de atendimento, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que presta atendimento psicológico e psiquiátrico no campo da saúde mental e justiça. Os casos encaminhados para atendimento são provenientes dos diversos órgãos do Sistema Judiciário do Estado de São Paulo. O critério de encaminhamento dos casos foi de ordem jurídica, isto é, a denúncia de abuso sexual. Procedimentos e instrumentos Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa do Hospital das Clínicas da FMUSP (CAPPesq). O termo de consentimento informado foi assinado pelos respectivos responsáveis legais das crianças e adolescentes atendidos na unidade. Os atendimentos foram realizados nas dependências do ambulatório geral do Instituto de Psiquiatria. Todos os participantes se submeteram ao protocolo-padrão de atendimento, que consistiu em uma avaliação clínica com psiquiatra, entrevista diagnóstica com psicólogo e aplicação de uma bateria de testes psicológicos. Todos os instrumentos utilizados estão descritos a seguir. Entrevista diagnóstica: Coleta de dados sobre a história do paciente realizada por psicólogos e avaliação clínica psiquiátrica considerando a Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Teste de Pfister20: Instrumento projetivo de avaliação da natureza da personalidade, no que tange à dinâmica afetivo-emocional do indivíduo e à presença de transtornos específicos da personalidade. Pode ser usado a partir dos 6 anos de idade e independe do nível de escolaridade. Consiste na execução de três pirâmides coloridas, conforme a preferência do examinando. Compõe-se por um jogo de três cartões em papel pardo com o desenho do esquema de uma pirâmide e um jogo de quadrículos coloridos formado por 10 cores subdivididas em 24 tonalidades. O participante é orientado a construir suas pirâmides,uma de cada vez, até totalizar o número de três. É analisada a frequência das cores usadas, bem como a forma em que o sujeito distribuiu os quadrículos pela pirâmide. Para este trabalho, os dados foram analisados levando em conta, especificamente, a frequência das cores. TAT – Teste de Apercepção Temática21: Técnica projetiva para avaliação dinâmica afetivo-emocional da personalidade. Consiste em uma série de 31 pranchas que retratam certo número de situações sociais e relações interpessoais e é aplicado a partir dos 12 anos de idade. Neste trabalho, foi usada a forma reduzida (10 pranchas). As pranchas selecionadas foram apresentadas aos adolescentes e solicitado que contassem uma história sobre o que está acontecendo em cada uma. Para interpretação dos resultados, foram utilizados apenas os conteúdos referentes às relações do sujeito com figuras de autoridade e as necessidades expressas nos conteúdos das histórias relatadas. CAT-A – Teste de Apercepção Temática Infantil22: Teste projetivo para avaliação da dinâmica afetivo-emocional da personalidade de crianças, constituído por 10 pranchas em que aparecem cenas de animais em situações humanas, solicitando-se à criança que elabore uma história sobre cada prancha. Analisaram-se as dinâmicas interpessoais, a natureza e a força dos impulsos, bem como o uso de defesas contra esses impulsos. Teste de desenho da Casa-Árvore-Pessoa22:Instrumento projetivo de avaliação de personalidade com o objetivo de obter informação sobre como uma pessoa vivencia a sua individualidade em relação aos outros e de facilitar a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflitos. O material utilizado é papel ofício e lápis grafite. Os desenhos são feitos à mão livre, sem régua ou objetos que sirvam a essa função. Solicita-se ao participante desenhar uma casa, em seguida uma árvore e no final uma pessoa. Para esse trabalho, os dados foram analisados levando em conta especificamente a localização e o traçado dos desenhos produzidos. Variáveis estudadas Análise estatística Os dados foram organizados em termos de frequência absoluta e percentual. As variáveis estudadas foram agrupadas segundo os dados demográficos (gênero das vítimas e do perpetrador, idade da vítima quando da ocorrência do abuso e grau de relação do perpetrador com a vítima), aspectos psicológicos e dados psiquiátricos, tais como aspectos comportamentais (isolamento, comportamento erotizado e retraimento perante figuras masculinas) e afetivo-emocionais (culpa, vergonha, medo, insegurança, percepção da figura masculina e feminina e percepção de si em relação ao ambiente). Para as variáveis idade de ocorrência do abuso, perpetrador, quadros psiquiátricos e aspectos comportamentais, utilizou-se teste qui-quadrado (χ2;) no SPSS para Windows versão 14.0, para verificação de diferenças estatisticamente significantes. Para todas as análises, o p < 0,05 foi considerado significante. Resultados Na tabela 1, estão expressos os dados demográficos referentes ao gênero e à faixa etária das vítimas quando da ocorrência do abuso e o grau de parentesco do abusador em relação à vítima. Observa-se que 63,4% da população correspondem ao sexo feminino, enquanto 36,6% são do sexo masculino. Para a análise da frequência da idade quando da ocorrência do abuso, foram organizadas as categorias por intervalos em anos. Assim, pode-se observar que há diferença significativa entre o período de ocorrência do abuso nos dois grupos (meninas e meninos). Para os meninos, o intervalo de idade que corresponde dos 3 aos 6 anos (54,6%) representou a faixa etária de maior risco, enquanto para as meninas tal período corresponde à idade entre 7 e 10 anos (48,5%). Para tal análise, foi utilizado teste qui-quadrado = 29,8; gl = 3, p < 0,001). Utilizando o qui-quadrado de homogeneidade (intragrupo) para análise das distintas categorias de perpetrador, natabela 1 encontrou-se frequência significativamente aumentada do pai (38%) em relação às demais categorias de perpetradores: padrasto (29%), tio (15%), primo (6%), vizinho (9%) e desconhecido (3%) – teste qui-quadrado = 117,8; gl = 5, p < 0,0001. A tabela 2 refere-se aos dados psiquiátricos observados durante avaliação clínica psiquiátrica segundo a CID-10. A depressão se apresentou significativamente aumentada nas meninas (59,2%) em relação aos meninos (38,6%), e os sintomas do transtorno do estresse pós-traumático foram de 36,1% nas meninas e de 29,3% nos meninos (teste qui-quadrado = 12,3; gl = 3, p < 0,001). Quanto aos aspectos comportamentais (Tabela 2) coletados tanto na observação clínica quanto pelos relatos dos pacientes e responsáveis legais, observa-se equivalência entre os grupos para o fator "retraimento perante a figura masculina" (33% no grupo das meninas e 41% no grupo dos meninos), seguido do fator "isolamento" para os meninos (33%) e comportamento erotizado para as meninas (23%). Em relação ao baixo rendimento escolar, as meninas apresentaram mais evidências (14%) em relação a 5% dos meninos (teste qui-quadrado = 45,2; gl = 4, p < 0,0001). Já a agressividade não evidenciou diferenças significantes entre meninas e meninos (24% e 23%, respectivamente). Considerando a totalidade da amostra independentemente do gênero da vítima, observou-se que 77,6% (159) dela apresentaram o seguinte panorama quanto aos aspectos afetivos e emocionais investigados por meio dos instrumentos de avaliação psicológica: culpa (77%), vergonha (64%), medo (61%) e insegurança (59%) (Tabela 3). Ainda com base na análise dos instrumentos psicológicos, foi investigada a percepção das 205 vítimas (independentemente do gênero) em relação à figura feminina (geralmente representada pela figura de cuidado, a mãe), à figura masculina e ao ambiente (Tabela 4). Os dados revelaram que 69% (141 vítimas) percebem a figura feminina como protetora, porém frágil, e 19% (38 vítimas), como incapaz. Já em relação à figura masculina, 43% (89 vítimas) percebem como alguém com necessidade de fazer mal, 33% (67) como uma figura forte e 24% (49 vítimas) como uma figura violenta. Em relação ao ambiente, 34% (69 vítimas) o percebem como hostil, 27% (55) como ameaçador e para 22% (46) representa um ambiente desprovido de amparo. Discussão A realização deste estudo permitiu conhecer a realidade de uma amostra representativa de crianças e jovens vítimas de abuso sexual. Embora atualmente a produção de estudos dentro da temática da violência sexual tenha crescido, ainda são poucos os avanços consistentes, principalmente na realidade brasileira3,19. A dificuldade tanto no relato como na assistência e amparo às vítimas de abuso sexual, a escassez de serviços voltados a essa população e a dificuldade em lidar e controlar o sofrimento diante de casos de violência sexual representam alguns dos fatores que parecem favorecer os limites no avanço de pesquisas nessa área19,23. Nesta pesquisa, a faixa etária da amostra era extensa comparada à de outras pesquisas24, o que permitiu ampliar os estudos para uma amostra populacional mais jovem do que usualmente relatada, contudo limitando as comparações e possíveis correlações dos dados. Diante do exposto, pode-se levantar a questão de que a variável faixa etária de ocorrência do abuso não representa necessariamente uma especificidade marcante em termos de danos ou sequelas, mas deve ser considerada como uma estimativa de um dos fatores de risco para o abuso sexual25. O impacto do abuso sexual à saúde mental das vítimas tem sido extensamente estudado e relatado na literatura. É consenso entre os autores que a violência sexual aumenta o risco de as vítimas desenvolverem algum transtorno mental e apresentarem comportamentos autodestrutivos8,11,12,19,26. Os resultados deste estudo corroboram os achados da literatura quanto ao diagnóstico de depressão e TEPT como os mais comuns entre as vítimas5,6,13. Nesse aspecto, ressalta-se que uma das limitações deste estudo, também relatada em outras pesquisas, refere-se à real extensão do trauma psíquico causado pela experiência do abuso. Ainda que em nossa amostra tenha sido encontrado um elevado percentual das vítimas com diagnóstico psiquiátrico, concorda-se com os apontamentos de Polanczyk et al.27 e Crisman et al.9, quando estes enfatizam que a escassez e a irregularidade dos serviços de assistência, o amparo limitado oferecido às vítimas e a dificuldade em acompanhar os casos registrados como abuso concorrem para que o assunto permaneça pouco debatido e seus danos por muitas vezes irreparáveis. Aded et al.3 acrescentam que as diferenças de ordem cultural e legislativa, além das condutas dos diferentes profissionais envolvidos (médicos legistas, assistentes sociais, autoridades policiais e judiciárias), podem resultar em equívocos no que tange ao diagnóstico e análise do caso, como também no agravo das questões emocionais, o que, certamente, pode se converter em um "falso-positivo", como é provável em alguns casos de presença de sintomas de estresse. Quanto ao impacto emocional da violência sexual, observa-se que ele se constitui em uma repercussão grave no que tange ao funcionamento psicológico das vítimas, uma vez que a maioria de sua ocorrência se dá no ambiente familiar, que a priori deveria se configurar como espaço protetivo3. Todavia, traduz-se, na realidade, como ambiente ameaçador, desencadeando na vítima sensação de desamparo, medo e abandono, visto que a maioria esmagadora dos agressores convive diariamente com a criança e o adolescente, tornando-os praticamente incapazes de defesa. Esses apontamentos são reforçados pelos dados encontrados neste estudo, os quais corroboram os achados da literatura no tocante aos aspectos psicológicos e comportamentais das vítimas, principalmente no que concerne aos fatores que dizem respeito ao retraimento das vítimas perante figuras masculinas (apontadas em nosso estudo como os principais abusadores), isolamento e comportamento erotizado28. Autores como Passarela et al.7 e Clark et al.14 enfatizam que uma criança que tenha sido abusada sexualmente será traumatizada por toda a vida, contudo a ajuda especializada somente será procurada quando esses traumas emocionais e psicológicos vierem a se agravar. Para esses autores, o que mais chama a atenção é que a vítima, na maioria das vezes, não encontrará em um primeiro momento uma situação favorecedora para a sua denúncia, o que implica um tempo de exposição à violência, que certamente se configurará como um agravante psicopatológico do caso. As observações supracitadas são reforçadas pelos achados da análise dos testes aplicados, que permitiu traçar o perfil psicológico de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, em sua maioria no ambiente familiar, identificando que a vítima se sente, emocionalmente, perseguida, violada, assustada, abandonada e desprotegida pelo mundo que a rodeia. As vivências de medo e desamparo se traduzem em dificuldades como consequência dos parcos recursos internos próprios da faixa etária em que se situam. Visto isso, não se configura mera especulação estimar que essas características podem favorecer o desenvolvimento de comportamentos desadaptativos decorrentes do isolamento, retraimento social e depressão, como já apontado pela literatura2,9,11,25,29. O estudo permitiu, ainda, observar que, na ótica da criança que sofre abuso sexual, a figura masculina, por exemplo, é percebida como ameaçadora, egoísta, despreocupada com a família e ineficiente. A relevância desse dado está no fato de que essa percepção pode se tornar generalizada e comprometer o estabelecimento de um vínculo adequado de confiança e segurança com figuras do sexo masculino, o que certamente provocará inadequações no ajustamento dessas crianças, como pontuaram Meyerson et al.30. Considerações finais De fato, existe uma variedade de maus-tratos contra crianças e adolescentes, tais como o abuso físico, sexual e psicológico, a exploraçãosexual, além da negligência, entre outros, que resultam em profundostraumas. E dentre essa realidade, não se consegue precisar qual a que provoca mais danos2. Todavia, este estudo permitiu identificar uma parcela relevante de aspectos psicológicos, psiquiátricos ecomportamentais que podem afetar de forma impactante o desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes. Esse aspecto suscita o aprimoramento de estudos longitudinais focados nas possíveisrepercussões na adaptação social e alterações da saúde mental de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Referências 1. Serafim AP, Saffi F, Rigonatti SP, Casoy I, Barros DM. Perfil psicológico e comportamental de agressores sexuais de crianças. Rev Psiq Clín. 2009;36(3):101-11. 2. Maniglio R. The impact of child sexual abuse on health: a systematic review of reviews. Clin Psychol Rev. 2009;29(7):647-57. 3. Aded NLO, Dalcin BLGS, Moraes TM, Cavalcanti MT. Abuso sexual em crianças e adolescentes: revisão de 100 anos de literatura. Rev Psiq Clín. 2006;33(4):204-13. 4. Horonor H. 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IIPsicóloga, IPq-HCFMUSP
IIIPsicóloga, colaboradora do Programa em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (NUFOR), IPq-HC-FMUSP
IVPsiquiatra, doutor, supervisor da Sessão de Perícia Psiquiátrica do NUFOR, IPq-HC-FMUSP
OBJETIVO: Descrever os dados demográficos e os aspectos emocionais e comportamentais em crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual.
MÉTODO: 205 crianças e adolescentes com idade entre 6 e 14 anos, sendo 130 meninas (9,6 ± 3,4 anos) e 75 meninos (7,2 ± 2,9 anos) vítimas de abuso sexual passaram por avaliação psicológica e psiquiátrica individual no período de 2005 a 2009. As variáveis estudadas foram: gênero, faixa etária, grau de relação da vítima com o perpetrador, aspectos psicológicos, dados psiquiátricos, aspectos comportamentais e afetivo-emocionais (culpa, vergonha, medo, insegurança, percepção da figura masculina e feminina e de si em relação ao ambiente).
RESULTADOS: As meninas são as maiores vítimas (63,4%). A faixa etária de maior risco para as meninas é entre 7 e 10 anos de idade (48,5%), enquanto para os meninos é de 3 a 6 anos (54,6%). Os pais são os maiores perpetradores do abuso sexual (38%), seguidos do padrasto (29%). Meninos e meninas expressaram elevada frequência para depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). As meninas expressam comportamento mais erotizado, enquanto os meninos ficam mais isolados.
CONCLUSÃO: Este estudo permitiu identificar uma parcela relevante de aspectos psicológicos, psiquiátricos e comportamentais, os quais podem afetar de forma impactante o desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes.
OBJECTIVE: To describe demographic profile as well as behavioral and emotional features of a cohort of children and adolescents sexually abused.
MÉTODO: 205 children and adolescent, ranging from 6 to 14 years old, 130 girls (age 9.6 ± 3.4 yo) and 75 boys (age 7.2 ± 2.9 yo) were evaluated due to being victims of sexual abuse between the years 2005 and 2009. Gender, age, relationship with the perpetrator, psychological and psychiatric symptoms, behavioral and affective-emotional features (blame, shame, fearfulness, male and female figures image and self perception) were all properly evaluated.
RESULTS: Girls were the main victims (63.4%). The riskier age ranging from 7 to 10 yo (48.5%) among then, and from 3 to 6 yo (54.6%) for the boys. Fathers are the major perpetrators (38%) followed by step-fathers (29%). Boys and girls show high risk for depression and Post-traumatic stress disorder (PTSD) symptoms. Girls tend to be more sexualized whilst boys tend to isolate themselves.
DISCUSSION: This research allowed to identify an important set of psychological, psychiatric and behavioral characteristics that affect the normal emotional development of children and adolescents.
Antonio de Pádua Serafim
Programa de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (NUFOR)
Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP
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05403-010 – São Paulo (SP), Brasil
E-mail: apserafim@hcnet.usp.br
Artigo original: