Maria Aparecida Conti; et al
12 de novembro de 2012
Avaliação da equivalência semântica e consistência interna de uma versão em português do Internet Addiction Test (IAT)
Maria Aparecida ContiI; Adan Pelegrino JardimI; Norman HearstII; Táki Athanássios CordásI; Hermano TavaresIII; Cristiano Nabuco de AbreuI
IPrograma de Transtornos Alimentares do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Ambulim-IPq-HCFMUSP)
IIDepartamento de Medicina Comunitária e Familiar e Departamento de Epidemiologia e Bioestatística da Universidade da Califórnia, São Francisco, Estados Unidos
IIIAmbulatório do Jogo Patológico (AMJO) do IPq-HCFMUSP
RESUMO
OBJETIVO: Este estudo teve por objetivo a adaptação transcultural do Internet Addiction Test (IAT) para o idioma português.
MÉTODOS: O trabalho consistiu em cinco etapas: (1) tradução; (2) retradução; (3) revisão técnica e avaliação da equivalência semântica por profissionais da área; (4) avaliação do instrumento por uma amostra de estudantes, avaliando-se o seu grau de compreensão; e (5) análise da consistência interna por meio do coeficiente alfa de Cronbach.
RESULTADOS: O instrumento foi traduzido e adaptado para o idioma português, demonstrando ser facilmente compreendido e apresentando valor de consistência interna de 0,85.
CONCLUSÃO: O instrumento encontra-se traduzido e adaptado para o português e apresenta consistência interna satisfatória. São necessárias análises de equivalência de mensuração e reprodutibilidade.
Palavras-chave: Adaptação transcultural, escalas, estudos de validação, teste de dependência de internet, Brasil.
Introdução
Com o grande avanço tecnológico das últimas décadas, a internet tornou-se cada vez mais popular no mundo, contribuindo para uma das maiores revoluções tecnológicas dos séculos XX e XXI. Além de favorecer a comunicação e a busca de informações, a internet tornou-se uma importante ferramenta de contato social ao possibilitar novos usos e costumes e criar um novo espaço de convivência virtual para aproximadamente 500 milhões de pessoas. Os benefícios decorrentes do uso dos chats (comunicadores instantâneos do tipo "MSN", entre outros), por exemplo, são considerados úteis e uma fonte importante de ajuda para muitas pessoas introvertidas e tímidas. Entretanto, juntamente com o aumento na popularidade do uso da rede mundial, surgiram relatos na imprensa leiga e na literatura científica de indivíduos que estariam "dependentes" da realidade virtual1-9.
Consequentemente, a dependência de internet vem ganhando espaço nas publicações leigas e científicas em todo o mundo, pela crescente e rápida popularidade da rede mundial. Todos nós experienciamos o fenômeno de conviver com a nova Geração Digital (também conhecida como Geração D), composta por jovens nascidos entre 1990 e 2000 que cresceram continuamente expostos às redes virtuais. Esses jovens, de acordo com alguns estudos, apresentam características diferentes das gerações anteriores e, por essa razão, às vezes exibem um comportamento singular. Além disso, o uso crescente da internet tem tornado a linha divisória entre uso recreativo e patológico cada vez mais tênue, ao ponto de constantemente impor um desafio ao profissional de saúde mental, que não sabe como lidar com essa dinâmica, seja em relação ao seu paciente ou à sua própria vida pessoal10.
As primeiras tentativas de descrever esse fenômeno ocorreram na década de 1990. Dizem que Thomas Hodgkin, por exemplo, foi o primeiro a descrever o problema. Mas foi o psiquiatra americano Ivan K. Goldberg quem ficou mais conhecido em relação a essa nova condição não reconhecida, que ainda não havia recebido atenção clínica, tampouco um nome. Em 1986, ele criou o PsyCom.Net. Era um tipo de "clube cibernético" onde terapeutas podiam encontrar informações e trocar experiências quanto ao abuso da internet. Para demonstrar a seriedade do assunto, ele cunhou o termo "internet addiction disorder" ou "transtorno da dependência de internet" (IAD) cujos sintomas incluíam "abandono ou redução da importância das atividades profissionais ou sociais em virtude do uso da internet", "fantasias ou sonhos com a internet" e "movimentos voluntários ou involuntários dos dedos como se estivesse digitando", entre outros11.
Em 1995, Mark Griffiths propôs o termo "dependência tecnológica" decorrente da interação não química entre homem e máquina, geralmente envolvendo características como indução e reforço de comportamentos. Segundo o autor, essa dependência constitui um subgrupo de dependências comportamentais, apresentando um perfil que inclui isolamento, mudança de humor, tolerância e recaída.
Em 1996, a psicóloga americana, Kimberly Young, apresentou na conferência anual da Associação Psicológica Americana, em Toronto, um dos primeiros estudos de pesquisa sobre abuso da internet intitulado "Dependência de internet: o surgimento de um novo transtorno". A investigação de Young baseou-se em uma combinação de critérios derivados daqueles usados no DSM-IV para abuso de substâncias para criar o primeiro delineamento conceitual. O primeiro estudo incluiu 496 estudantes, dos quais 396 relatavam que o uso excessivo da internet resultava em prejuízo significativo de suas rotinas de vida. Embora a amostra fosse pequena se comparada com os 47 milhões de usuários da internet naquele momento, esse estudo foi considerado como a primeira tentativa empírica de caracterizar o problema11.
Depois de dois anos e mais pesquisas, ela modificou seus critérios, incluindo oito dos 10 critérios usados no DSM-IV para descrever o jogo patológico: 1) Preocupação excessiva com a internet; 2) Necessitar aumentar o tempo conectado (online) para ter a mesma satisfação; 3) Exibir esforços repetidos para diminuir o tempo de uso da internet; 4) Apresentar irritabilidade e/ou depressão; 5) Quando o uso da internet é restringido, apresentar labilidade emocional (internet como forma de regulação emocional); 6) Permanecer conectado (online) mais tempo do que o programado; 7) Ter o trabalho e as relações sociais em risco pelo uso excessivo; 8) Mentir aos outros sobre a quantidade de horas conectadas12.
Dada à amplitude e severidade dos casos, a Associação Psiquiátrica Americana já considera sua inclusão desse diagnóstico na próxima versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V)13. Entretanto, as tentativas de estimar o número de pessoas que apresentam um uso patológico são variadas em função das diferentes definições que, inevitavelmente, criam parâmetros distintos de entendimento e medição, impedindo, assim, uma interpretação ou estimativa comum para definir a prevalência desse transtorno na população geral1.
Algumas propostas de avaliação e mensuração dos comportamentos ligados à dependência de internet são descritas na literatura, incluindo: Chinese Internet Addiction Inventory (CIAI)14, Generalized Problematic Internet Use Scale15 e Internet Consequences Scale (ICONS)16. Embora vários desses instrumentos sejam utilizados para avaliação, o Internet Addiction Test (IAT)17 ainda é o mais utilizado e o que conta com mais versões validadas para os mais diversos idiomas. Ele consiste em 20 itens de autopreenchimento com as respostas dadas em uma escala Likert de pontos, variando de 1 (raramente) a 5 (sempre). Quanto maior sua pontuação, maior o grau de severidade da dependência. Foi elaborado para avaliar quais áreas da vida de um indivíduo pode ser afetada por seu uso excessivo da internet17. Na avaliação das propriedades psicométricas pela análise de fatores, foram identificados seis domínios: saliência, uso excessivo, abandono do trabalho, antecipação, falta de controle e abandono da vida social.
O estudo original17 do IAT apresentou a análise fatorial, a consistência interna e as correlações das seis subescalas relacionado-as à idade e ao uso da internet. A análise fatorial demonstrou a existência de seis domínios que explicavam 62,8% da variância. Esses incluíam: saliência (itens 10, 12, 13, 15, 19), uso excessivo (itens 1, 2, 14, 18, 20), abandono do trabalho (itens 6, 8, 9), antecipação (itens 7, 11), falta de controle (itens 5, 16, 17) e abandono da vida social (itens 3, 4). A consistência interna variou de 0,54 a 0,82 para os seis domínios. Houve correlação positiva para as subescalas de saliência e uso excessivo com uso médio da internet (r = 0,32 p < 0,005 e r = 0,27 p < 0,005 respectivamente), bem como de abandono da vida social e uso da internet (r = 0,22 p < 0,005). Houve correlações negativas de uso excessivo com idade (r = - 0,27 p < 0,005) e de abandono da vida social com duração do uso (r = - 0,26 p < 0,005).
Foram conduzidos dois estudos de validação do IAT. No primeiro, realizado na Suíça18, a análise fatorial demonstrou boas características psicométricas, ainda que um único fator tenha sido responsável por toda a variância da escala (45%). Um estudo italiano19 demonstrou a existência dos seis fatores, semelhante ao estudo original, explicando 55,6% da variância total. O IAT é um instrumento completo e de fácil compreensão, além de ser autoadministrável17.
Os especialistas ressaltam a importância de um processo rigoroso de tradução e adaptação transcultural para garantir que o instrumento traduzido continue a medir de maneira precisa o construto desejado20. Apesar de existirem estudos que reforçam a importância de descrever o processo de tradução e adaptação transcultural de instrumentos, faltam procedimentos padronizados para esse fim20-22. Nesse sentido, diferenças culturais podem interferir na medição dos construtos, uma vez que instrumentos que não são avaliados pelo processo de tradução e adaptação transcultural estão sujeitos a muitas distorções conceituais e semânticas que podem fazer com que eles percam sua validade23.
Desde 2010, o Brasil é o líder mundial em tempo gasto em conexão doméstica24 e tem disponibilizado o acesso cada vez mais fácil à internet, o que representa um potencial para problemas de dependência. Assim, uma versão traduzida e adaptada para o idioma português seria útil para pesquisas epidemiológica e clínica. Desse modo, o rastreamento desse comportamento poderá ser realizado de forma a contemplar a possível magnitude desse problema. Portanto, é importante ter um instrumento disponível e adaptado para avaliar a dependência de internet na população brasileira. O objetivo dessa comunicação é apresentar o processo de adaptação transcultural do Internet Addiction Test, incluindo sua tradução, avaliação de sua equivalência semântica e análise de sua consistência interna.
Métodos
O processo de adaptação transcultural foi baseado nos procedimentos sugeridos por Reichenheim e Moraes20 e Moraes et al.25 e aplicados por Kachani et al.26, Teixeira et al.27 e Toledo et al.28, que incluem a avaliação de seis tipos de equivalência: semântica, conceitual, de itens, de medição, operacional e funcional. A avaliação da equivalência conceitual deve basear-se na revisão e discussão da literatura tanto com especialistas como com membros da população-alvo. A equivalência de itens também deve incluir tanto especialistas como a população-alvo. A equivalência semântica envolve tradução, retradução, avaliação de equivalência entre a retradução e o instrumento original e informações fornecidas por especialistas e a população-alvo para os ajustes finais antes do pré-teste. A equivalência operacional envolve a avaliação do preenchimento do instrumento pelo grupo quanto à sua relevância e completude. A equivalência de medição envolve estudos psicométricos de validade e de fatores. A equivalência funcional é uma combinação geral de todas essas.
Com base nisso, desenvolvemos um processo de cinco etapas20-23. A primeira etapa consistiu na tradução do instrumento original do idioma inglês para o português, realizada de maneira independente por dois investigadores experientes e fluentes em inglês (CNA, MAC). A segunda etapa foi a retradução das versões iniciais em português (tradução 1 e 2) para o inglês por um falante nativo de inglês (NH).
A terceira etapa foi a revisão técnica e a avaliação da equivalência semântica dessas versões, realizada por dois psicólogos especializados na adaptação de escalas (CNA, MAC), priorizando o significado referencial e o significado geral20 do instrumento. Foram feitos ajustes e uma nova versão foi elaborada, sendo avaliados a inteligibilidade (capacidade de ser corretamente entendido) e o grau de compreensão de cada pergunta e do instrumento como um todo. Para tanto, pediu-se a dez profissionais de saúde mental com experiência em transtornos do impulso (três psiquiatras, três psicólogos, três nutricionistas e um educador físico) que avaliassem o instrumento, pergunta a pergunta, e respondessem usando uma escala verbal numérica adaptada19,20. Eles foram orientados a responder à seguinte pergunta: "Você entendeu o que foi perguntado?" As respostas foram dadas usando uma escala Likert de pontos, na qual: 0 = Não entendi nada; 1 = Entendi só um pouco; 2 = Entendi mais ou menos; 3 = Entendi quase tudo, mas tenho algumas dúvidas; 4 = Entendi quase tudo; 5 = Entendi perfeitamente e não tenho dúvidas. Consideramos as respostas 0, 1, 2 e 3 como indicadores de compreensão insuficiente20,21. Também foi pedido aos especialistas, caso não entendessem a pergunta ou a linguagem utilizada parecesse inadequada, que sugerissem mudanças, justificando seu raciocínio. Com base nisso, foi elaborada uma nova versão do instrumento.
Na quarta e na quinta etapas, o instrumento foi testado com 115 estudantes universitários (38 do sexo masculino e 77 do sexo feminino), com idade média de 23 anos (desvio-padrão: 3,7 anos), cursando Administração de Empresas. Esses estudantes universitários foram selecionados de forma aleatória simples. Das 18 salas de aula, duas foram selecionadas aleatoriamente para o estudo. Em uma única ocasião, durante o período de aula, todos os estudantes presentes foram convidados a participar voluntariamente e receberam instruções da primeira autora (MAC), garantindo a uniformidade da coleta de dados. Com o consentimento do participante, o instrumento foi autoaplicado, em grupo, em sala de aula. Não houve recusa e/ou desistência. Para uma parcela do grupo (38 indivíduos), aplicou-se a escala numérica verbal adaptada para classificar o grau de compreensão do instrumento21,22. Para o restante do grupo (77 indivíduos), o instrumento foi aplicado para verificar o grau de consistência interna das perguntas por meio da análise do coeficiente alfa de Cronbach.
As análises estatísticas foram realizadas usando o programa SPSS versão 15.0. Foram calculados médias e desvio-padrão para os escores de compreensão verbal. A consistência interna do instrumento foi calculada usando o alfa de Cronbach.
Foram solicitadas e concedidas autorização e permissão da autora para a realização da pesquisa. Todos os participantes assinaram um Formulário de Consentimento Informado e Esclarecido, e o presente estudo está de acordo com as normas nº 196, de 10/10/1996, do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados
Na tradução, algumas expressões precisaram ser adaptadas. Os termos "online" e "off-line" foram adaptados em todas as perguntas para as expressões "na internet" e "desconectado", respectivamente. Foram aplicadas modificações de estilo, como a omissão do pronome "você", quando viável, para manter a fluência do texto em português.
Por vezes, escolhemos palavras em português que não eram uma tradução direta das palavras originais em inglês, mas que detinham o conteúdo semântico e eram menos coloquiais, mantendo, assim, o texto acessível. Nos itens 2 e 4, os verbos "negligenciar" e "formar" foram substituídos por "abandonar" e "criar", respectivamente. No item 6, o uso da expressão "são prejudicados" e o uso do verbo "gastar" foram substituídos pelos termos "sofrem" e "passam na internet". No item 8, o verbo "sofrer" foi substituído por "cair" e transferido para o início da frase. Na pergunta 10, a expressão "pensamentos sobre a internet" exigiu atenção especial. No item 15, a palavra "fantasia" foi substituída por "imagina". No item 13, "estourar" foi substituído por "explodir" e a expressão "agir com irritação", por "irritado". A palavra "logins", no item 14, foi substituída por "conectado" e, na expressão "diminuir a quantidade de tempo", a palavra "quantidade", no item 17, foi omitida na versão em português. No item 18, a expressão "há quanto tempo" foi substituída por "a quantidade de tempo" (Tabela 1).
Para a análise da compreensão verbal, no parecer dos especialistas, as perguntas eram fáceis de entender, registrando valores médios acima de 4,1 (valor máximo de 5,0). O mesmo ocorreu para a amostra de estudantes, que registrou uma média acima de 4,0 (Tabela 2). Observou-se, portanto, que tanto profissionais como estudantes entenderam facilmente o conteúdo semântico das perguntas que compõem o instrumento.
O instrumento demonstrou consistência interna satisfatória para todos os itens (0,84), exceto para os números 1 e 7 (Tabela 2). O tamanho de nossa amostra não era o ideal para avaliar os domínios da escala (as melhores práticas para a análise de fatores exigem pelo menos 10 indivíduos para cada item dentro da escala29). Uma análise de fatores exploratória de nossos dados confirmou uma estrutura de seis fatores para a versão traduzida, mas os itens agrupados para cada domínio coincidiu apenas parcialmente entre a versão original e a traduzida. Portanto, apresentamos o alfa de Cronbach apenas para o instrumento como um todo, deixando a avaliação da estrutura fatorial e dos domínios do IAT para estudos futuros.
Discussão
Estudos que descrevam o processo de adaptação transcultural são essenciais para garantir a fidedignidade do instrumento traduzido. Embora os critérios diagnósticos padronizados contribuam diretamente para a pesquisa e a psiquiatria clínica, ao utilizar uma linguagem internacional comum, pouca atenção é dada aos determinantes culturais relacionados aos fenômenos mentais e, por essa razão, os instrumentos acabam sendo usados sem uma adaptação adequada. Essa situação mudou, e a necessidade de uma avaliação psicométrica dos instrumentos traduzidos é hoje um consenso.
O presente estudo descreve as etapas do processo de adaptação transcultural do IAT e apresenta dados que descrevem algumas de suas propriedades psicométricas. Empenhamo-nos para tomar as precauções apropriadas neste estudo.
Quanto à tradução, em quase todas as perguntas, os verbos, pronomes e conjunções verbais foram ajustados, o que assegurou que o significado conotativo e o denotativo fossem respeitados ao transferir o significado das palavras entre os dois idiomas19. Assim, a compreensão do instrumento é maximizada, completando uma das etapas essenciais e necessárias na avaliação da equivalência semântica. Isso pode ser observado pelos valores satisfatórios registrados nos escores da compreensão verbal.
O processo de adaptação transcultural envolveu avaliações feitas por especialistas e estudantes, por meio da análise da compreensão verbal. O instrumento foi facilmente entendido, sem sugestões de mudanças estruturais. Portanto, não houve necessidade de maior adaptação, sendo mantidos na versão traduzida os mesmos componentes da versão original.
Na análise da consistência interna, o instrumento mostrou bons resultados (0,85), bastante próximos dos valores do estudo original (0,54 a 0,82)17. Ao calcular o alfa de Cronbach, Bland e Altman30 sugerem que cada item seja testado individualmente em relação a todos os outros itens do instrumento. Desse modo, um item deve ser eliminado do instrumento se o coeficiente alfa final da escala for maior sem ele. Assim, de maneira estritamente psicométrica, os itens 1 e 7 deveriam ser cortados, pois não se relacionam com os itens restantes da escala (baixa correlação total dos itens, vide tabela 2) e não contribuem para o alfa final da escala (de fato, o alfa da escala melhora sem eles - veja a coluna "alfa se item excluído" na tabela 2). Entretanto, ambos os itens traduzem comportamentos que clinicamente representam os comportamentos típicos de um relacionamento comprometido com a internet e mantê-los na escala não representa grande perda de coerência interna, uma vez que a contribuição de sua exclusão representa uma adição mínima de 0,0165 pontos no alfa de Cronbach final. Assim sendo, nossa recomendação, por ora, é a manutenção dos itens 1 e 7 e revisar suas propriedades psicométricas em amostras maiores para verificar se tais achados preliminares são consistentes. Uma explicação possível para esse achado seria o fato que eles descrevem comportamentos tão comuns que são endossados tanto por pessoas com problemas relacionados à internet como por aquelas que não têm esses problemas, enquanto os outros itens da escala se relacionam mais exclusivamente com o uso desadaptativo da internet.
O Teste de Dependência de Internet foi traduzido e adaptado para o idioma português, sendo essa versão disponibilizada a partir deste momento. A análise de consistência interna mostrou resultados satisfatórios, com valores muito próximos daqueles do estudo original. São necessárias pesquisas futuras para concluir a adaptação transcultural, especialmente no que tange à análise fatorial. Seriam úteis estudos de validade dos construtos para a análise confirmatória e exploratória dos itens.
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Endereço para correspondência:
Cristiano Nabuco de Abreu
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