Artigos Científicos

A Moral e sua Sombra: o choque da alteridade real

Marcelo Pelizzoli

25 de abril de 2007

A Moral e sua Sombra: o choque da alteridade real

         Marcelo Pelizzoli[1]

 

            Palavras-chave: moral, sombra, alteridade, Levinas, emoção

 

            Resumo

 

            Trata-se aqui de refletir sobre a Sombra da moral, o seu outro lado, no sentido daquilo que se oculta por trás de motivações morais e ideais do sujeito, para então apontar elementos desafiadores da realidade da alteridade inspirada em Levinas. Busca-se um tipo de abordagem filosófica relativa ao amor e sofrimento na aceitação da própria “má consciência”, ou Sombra. Tecemos por conseguinte considerações sobre os limites do pensamento de Levinas para lidar com esse outro lado do humano, e apontamos brevemente possibilidades de lidar com isso a partir de pressupostos emocionais.

 

Introdução

 

Aquilo que não fazemos aflorar à consciência aparece em nossas vidas como destino (Jung)

Encontrei o inimigo: e ele sou eu ! (Ditado hindu)

           

 

            Procuro ser sincero neste escrito. Ele trará à tona algumas das inquietações que talvez sejam presentes a outros professores, pesquisadores e educadores que se colocam dentro deste papel, mesmo que essa persona não esteja consciente para uns tantos[2]. Na verdade, partilho com o leitor as inquietações de quem descobre cada vez mais a importância da consideração da Sombra[3] por trás da pretensa luz e da própria negatividade por trás da ordem positiva, sombra esta, seja herdada, seja adquirida de modo institucional e social. Na verdade, é apenas por um exercício de esquizofrenia defensiva que fazemos discursos sobre ética e moral excluindo aquilo que se passa “na surdina” do não dito, no limiar da consciência, mas que é o elemento, preponderantemente emocional, que move muito de nossas racionalizações. É certo sim que os discursos morais surgem como alarme, como tentativa de correção de realidades inaceitáveis. Mas, lá pelas tantas, ao buscar ser autêntico e rigoroso, ou radical no sentido de ir às raízes do que nos ocorre, há grandes partes de nossas personalidades não aceitas, ocultas, sufocadas por nós mesmos, a ponto de que, muitas vezes, fazemos é discursos para nós mesmos ! Nós é que precisaríamos daquilo que pregamos e não temos; mas o fato de enunciar e preencher o espaço de pensamento com tais conteúdos dá a ilusão de que eles nos são próximos, e estariam encarnados. Ou seja, quem sabe, aquilo que digo a respeito do outro e da sociedade e que as teorias deveriam considerar, é justamente aquilo que tenho dificuldade em trabalhar, desde dentro de mim mesmo, desde minha realidade encarnada. Aliás, é ensinamento da filosofia como crítica que o mundo que vejo depende de meu olhar, e este depende de meu estado de espírito ou ânimo. De fato, tocar em questões emocionais na área de filosofia pode despertar defesas e indiferenças, em geral, as mesmas que querem defender uma certa neutralidade da razão, ou do mero conhecimento, ou do profissionalismo e objetivismo do métier da área. Ou daqueles para quem a Forma deve substituir o Conteúdo, ou que o conteúdo deve ficar no nível do Dito, nunca acessando os dragões do não-dito, do sutil, do dissimulado e das “dobras” (para usar a expressão de Deleuze). Neste sentido, remetemos ao pathos que habita também a Filosofia, na medida em que esta é gerada a partir do encontro chocante com a alteridade no sentido radical do que isso seja.

            Enfim, arrisco aqui asserções que tentam resgatar algo do não-dito no nível da Sombra e da emoção que subjaze na base dos discursos acadêmicos tocando em questões morais. É uma tentativa de aproximação mais concreta da alteridade, como veremos mais adiante ao tomar Levinas e a questão emocional para o caso.

 

            I – Asserções interpeladoras ao discurso moral

 

            1 – Os discursos morais (DM) e filosóficos, em geral, não tocam nos dilemas éticos efetivos, atuais e particulares da vida presente e de para onde estamos caminhando em termos de sociedades colonizadas.

            2 – Os encontros acadêmicos filosóficos, mesmo falando de moral, em geral não têm proposições práticas, concretas e inseridas nos contextos sociais, mas apenas boas intenções.

            3 – Os DM geralmente servem para substituir a ação concreta a que (abstratamente) se referem.

            3.1 – Os DM constituem-se em geral na produção de gozo e descarrego de consciência dos que falam e dos que escutam.

            4 – “Você deve”, “você tem que”, “nós deveríamos”, sempre”, “nunca”, “faça isso”... Os DM, em geral, colocam os enunciantes na posição falo-cêntrica do sujeito suposto saber.

            4.1 – Igualmente, usam mais exigências do que pedidos claros, e não conseguem separar os dois; desconhecem assim a subjetividade do Outro, alvo do discurso moralizante.

            5 – Precisar de discursos morais e teorias científicas e filosóficas complexas/profundas, em geral, significa fraqueza do espírito pessoal e/ou coletivo.

            6 – A moral baseada na razão, na sua universalidade, do sujeito egológico, “autônomo”, e “livre”, é um engodo e remendo moral arcaico lamentável.

            7 – Quanto mais rigor/repressão/racionalização moral, mais SOMBRA querendo atuar. Os DM surgem devido à Sombra por trás da fachada personal, mas tentam sufoca-la. A sinceridade seria algo como: “Encontrei o inimigo: e ele sou EU”. “Encontrei o perverso: e ele sou EU”.

            8 – A filosofia tradicional, em geral, não compreende ou não quis compreender a vontade irracional acima da Razão, a sua Sombra.

            9 – A moral é a Circe (feiticeira) dos filósofos, e Nietzsche, lido de forma “porra louca”, é a Circe dos pós-modernos estilísticos descomprometidos.

            10 – A modernidade filosófica, e o Idealismo alemão, compõem um dinossauro cartesiano que alguns insistem em salvar pontos com argumentos ex postum. O “positivismo” é o grande dominador destas teorias, na esteira da crítica da Escola de Frankfurt.

            11 – Qual é a função da moral que não envolve a emoção e a alteridade? A moral lógico-analítico é como um escrínio folhado de prata, como diria Gibran.

            12 – A filosofia em geral é produção sistemática organizada de teorias e significados e discursos que partem da (1)admiração, do (2)incômodo, da (3)alergia ao Outro, e por fim da (4)violação das figuras da alteridade[4].

            13 – Disputas filosóficas em torno de conteúdos endógenos não conduzem a uma nova experiência; é preciso mudar a relação, o modo de lidar com ela e com as pessoas. A prática teórica por si mesma é uma prática da especulação desinteressada-desinteresante que leva sim a algum lugar: o lugar impróprio, em que sempre não estou e de onde construo a não aceitação da própria realidade. “Metafísica” é o grande véu que tem coberto um esqueleto.

            14 – Os filósofos que tentaram superar a metafísica com outra metafísica, seja materialista, lógico-positivista, seja da finitude e ostracismo, representam não mais do que o desespero de um tempo desconstruído e desiludido.

            15 – A ética, sem a perspectiva de um paradigma BIO-ético encarnado, é ainda mais arcaica e deslocada.

            16 – Qual é o benefício mesmo de se definir pontualmente o que é moral e ética, axiologia e deontologia ?

            17 – Como deverá começar um discurso moral mais autêntico, coerente, verdadeiro, de dentro pra fora ? “Eu tenho vontade de matar fulano e cicrano, transar com a aluna tal e tal, enriquecer e olhar todo mundo por cima, roubar se preciso for, ser o number one, mandar essa gentalha longe” etc.

            18 – A ética deve apontar para a segurança ou para a insegurança ?

            19 – O discurso teórico da esperança, do assim deveria ser, da utopia, do mundo ideal ou do mundo calculável são tristes exemplos da não aceitação da alteridade da realidade, do presente do meu ser, a que eu projeto mudança no mundo exterior, comumente apenas em forma ideal.

            20 – A medida da rigidez com que julgo os pecados e erros dos outros - e isso ligado à falta de leveza e senso de humor, é, na maioria das vezes, a medida da rigidez que tenho para com a própria alma, emoções e (re)sentimentos.

 

            II - Algumas questões para uma auto-análise crítico-moral. Ou: trabalho para tentar “engolir” a própria Sombra.

           

            Sabemos bem como é difícil encarar aquilo que rejeitamos nos outros e que na verdade muitas vezes é aquilo que nos incomoda, seja algo que desejaríamos fazer, seja algo que odiamos (e assim também amamos, lá no fundo !), e que então habita de algum modo em nossa subjetividade, mesmo que não em nossa consciência. É difícil “engolir” o Outro e o Si mesmo como Outro, quanto mais digeri-lo, pensando em termos da Sombra. Segue-se então algumas idéias para confrontar e quem sabe assimilar, com o tempo, o lado sombrio que é o irmão maquiavélico da moral. Não haveria a moral sem seu irmão maquiavélico. A dualidade aqui é mãe do condicionamento que nos guia. Trata-se também da recuperação do aspecto diabólico em nós, que tanta potencialidade, poder de ruptura, renovação, crítica, vitalização e também destruição pode nos trazer, desde que possamos encarar o medo dos (próprios) demônios.

           

* Tomar o Pharmakon. Sugere-se beber a poção ou licor amargo-doce que já nos pertence, mas buscando suspender, para o momento, as outras drogas que nos afastam do que nos pertence, de forma artificial. O fármaco sombrio, o fármaco da sinceridade e espontaneidade do sujeito encarnado, do que somos mais profundamente, é o mais natural, mesmo que grandes dores possam advir de seu uso. Do que se trata ? Como sabemos, praticamente todos os fármacos e drogas têm efeitos colaterais, ainda mais se forem da medicina alopática artificial (mercadológica); portanto, todo remédio é também veneno, conforme diz Platão e também Siddhartha Gautama, uns dos Budas na Índia; e muitas vezes alguns venenos têm efeito de remédio. Em tal situação, não temos bem como divisar entre a parte venenosa e medicinal senão na própria experiência do enfrentamento consigo, ou seja, com o que herdamos (“carma”) e com a própria (ruptura) superficialidade moral com que nos defendemos. Tomar o fármaco é cair na real, na real da alteridade inapreensível e ineliminável, experiências por vezes traumáticas, como nascer.

 

* Beber o cálice do próprio sangue e sacrifício. Estamos sempre tentando sacrificar alguém, colocando-o na posição do bode expiatório. Sempre alguém ou instituição ou grupo em posição de fragilidade, rebeldia ou anormalidade pode ser escolhido para receptar as energias sombrias e demoníacas que gravitam em nós e ao nosso redor. Beber o próprio sangue exige então assumir novamente a nossa carne, no que somos e no que nos inquieta no fundo. No caso de um cientista, por exemplo, seria como que conciliar aquele papel profissional com a sua vontade louca de beber, comer, fazer sexo, matar, ignorar ou “deletar” os que o incomodam, e assim por diante. Beber isso significa não apenas uma nova cachaça ou vício, mas uma decisão de ser si mesmo até o fundo, parando talvez de sacrificar outrem, e vendo até onde as atitudes sacrificiais podem ser hipócritas e destrutivas, para si mesmo igualmente. Tal beberagem poderia propiciar diminuir a famosa Sombra coletiva, aquela que nos faz eleger ovelhas negras sociais e sacrificá-las freqüentemente em torno da diferenciação e da punição.

 

* Uns dos trabalhos que procuro fazer é o seguinte: Relaxe, concentre-se numa grande mágoa; uma grande frustração, ferimento; retome a raiva sentida; retome o que causaram a você. Sinta, de olhos fechados, essa dor, e a presença das pessoas que causaram. Digamos que ela está presente, a pessoa envolvida também. Solte tudo o que você diz interiormente para a outra pessoa e para si mesmo, num trabalho de ouvir a voz interior introjetada, por vezes desde a infância. Imagine agora que você está num leito de hospital, e está para morrer. Diga a essa pessoa o que faltou dizer... diga a si mesmo o que está ali latente, em meio ao medo, dor, e outros sentimentos que a racionalização pode ter sufocado. (Seria bom compreender o caráter provisório e precioso da vida humana, e o quanto a mediocridade, os apegos, os dogmas arraigados, o quanto os conceitos fixos anulam nossa vivência do jogo da vida e da compreensão da morte.)

 

Tema de casa

 

            Lanço agora questões para reflexão, que podem ser meditações de cabeceira, a serem usadas o tempo suficiente para que produzam efeito na vida de quem se dispõe a tomar a sério a própria moral e sua Sombra, no veio da alteridade mais que teórica. Tenta-se aqui partir de dentro pra fora, indo além das formas puras da inteligência, atingindo o que está na própria base do pensamento transcendental filosófico ou especulativo.

 

1 – Por que, ocasionalmente, eu preciso das velhas dores/mágoas/angústias e por que eu não aceito que preciso enfrentar isso ?

2 – Por que eu gasto tanta energia, tempo e estratégias me maltratando e auto-violentando para que o meu mal (sombra...) continue preso, e meus medos continuem medos ?

3 – Por que eu ajo como cínico, hipócrita, falso e por que, para piorar, eu projeto tudo isso sobre os outros ?

4 – Como eu lido com a Circe e a prostituta que há dentro de mim ?

5 – (Para mulher) Como é o homem que eu odeio-amo (‘amodeio’), esse patriarca, patrão, machão, grosseiro, ditador, selvagem, e que está dentro de mim ?

6 – O que me atrai tanto numa pessoa, positiva e negativamente, e que eu tenho que cuidar/cultivar dentro de mim ?

7 – Como são e em que momentos o meu fugir da angústia, conflito, tristeza, vazio, em especial fuga da morte, representa a minha fuga da própria vida, da realidade presente ?

8 – Por que eu me desconecto/evito tanto as minhas próprias experiências emocionais positivas e negativas, e estou quase incapaz de sentir o que significam para o meu caminho ?

9 – Por que eu distorço tanto a minha verdadeira personalidade, com a minha auto-imagem e suas máscaras ?

10 – Por que eu encaro a crítica dos outros sobre mim como ofensa, e por que me coloco tanto como vítima, tornando-me irresponsável pela minha vida emocional ?

 

III – Ler a ética da alteridade[5] a partir da crueldade da Sombra

 

E a lamentável realidade de evocar uma educação emocional para sujeitos esclarecidos...

 

Certamente uma das mais surpreendentes obras da literatura mundial é a clássica de Robert L. Stevenson, The strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, de 1886, um pouco antes de Freud, à época de Nietzsche. No cinema, foi traduzida como O médico e o monstro. É obra reveladora na medida em que somatiza algo que se dá em vários níveis em nossa existência inter-pessoal. Somos outros para nós mesmos no duplo sentido, pela Falta da alteridade que habita no seio da identidade, e também porque não nos conhecemos e não aceitamos suficientemente, porque levamos vida dupla, professor e monstro por exemplo, pastor e estuprador, médico e açougueiro. Dr. Jekyll inventa uma droga que tem efeitos inesperados, transformando-o em “outra” pessoa: Hyde. A tensão que se apresenta é que ele(s) não sabe(m) lidar com o fato de que são um só, e que precisam se abraçar para, quem sabe, transmutar algo dentro dele(s). O primeiro, na superfície, é o homem ideal, da Idéia também, profissionalmente bem sucedido, aceito, comportado, mas absolutamente inquietado por algo em sua mente que não sabe lidar. O grande médico, tomando a poção criada, transforma-se num “monstro”, cheio de energia, ódio, sexualidade desmedida, vontade de matar etc. A dicotomia e a conseqüente atração de tais lados da persona é tão grande que, por fim, o médico é devorado pela sua criatura, matando não somente a outrem mas a si mesmo ! Espelho de nosso tempo, onde a Sombra ignorada dá o retorno do reprimido ?

Ecce homo. Eis que estamos – imaginariamente – diante da alteridade no sentido mais sombrio do que teórico-moralizante. O que fazer ? O que acontecerá? Continuar especulando abstratamente ?

Por que crueldade da alteridade ? Remeto o leitor às análises de Nietzsche para tal conceito. Em todo caso, a força da palavra vale: cruel, cru, estar ex-posto à crueza da alteridade; nu em sua vontade de matar e possibilidade de ser morto a cada momento, de modos diversos, não só matar (afinal, como se diz, “sair pra matar”, “salir a matar”, “petit mort”, etc., trata-se de sexo, por exemplo) mas levar o ego e o super ego à crueza da ‘carne fraca’, da ‘carne trêmula’ e da carne extrema, afinal, como o sangue que sobe à cabeça, e tudo pode acontecer no nível da alteridade da carne alterada. Emoções, por vezes contidas, mas sempre perturbadoras. A literatura está mil anos-luz à frente da filosofia e da ciência nessa compreensão.

Nossa idéia aqui, em termos mais simples, é dizer, acerca dos promulgadores morais e teóricos, da impotência de uma pregação moral que desconheça a Sombra, e que portanto se auto-desconheça; e que, se este é o caso, grandes doses de aceitação emocional poderiam quem sabe despertar para algo outro que o condicionamento idealizante, metafísico, farsante também. Quando Sócrates anunciou a grande e suprema frase da Filosofia, gnote te auton, “matou a charada” da Filosofia; foi ele quem venceu a Esfinge de Édipo. Antes de tudo, trata-se de investigar a partir dos interiores; para mim, sempre foi claro que em filosofia e ciência, no fundo, trata-se da afirmação do homem ocidental diante da natureza, e assim da alteridade, do outro e de si mesmo. Não obstante, a “pureza” da época grega, ou de como nos chega a tragédia e o horror gregos camuflado em Filosofia, Política e “Arqui-teturas”, isso não contempla a demanda do atual “coma a própria Sombra”, um novo imperativo de auto-consciência para tempos pós-modernos mas também reacionários. Hoje, estamos diante de alteridades dantes inimagináveis. Como ter lucidez para abordar isso ? Lidar com a alteridade efetiva exige coragem. E. Dussel, por exemplo, é um dos poucos filósofos nas Américas a levar mais a sério a alteridade, nos níveis não apenas abstratos, mas na erótica, na pedagógica, na política também, mesmo que suas análises ainda careçam de uma maior profundidade quanto à investigação da própria sombra de tudo isso e careça de maior investigação da mente e das emoções.

O pensamento de Levinas sugere uma superação real do idealismo lato sensu, da Modernidade, e da alergia à alteridade que marca o pensamento ocidental. Não obstante, falta a este pensador judeu a coragem de encarar a Sombra como o fez outro pensador judeu menos religioso[6], Freud. Em Freud há essa possibilidade real de tomar a alteridade pelo lado da Sombra, em especial da sombra do sexo, ligada certamente ao Desejo. Não precisamos ser freudianos para isso. Mas apenas reconhecer a experiência - ainda não bem digerida, mesmo que engolida - da terapêutica psicanalítica e o que ela exige de impacto anti-idealizante e anti-defensivo do ego.

O pensamento de Levinas é digno de nota quanto à sua descrição fenomenológica e busca de concretude social, humanizadora. Ou seja, é notável, como podemos ver em Totalidade e Infinito em especial, pela busca incessante e encarnada da alteridade desde as coisas materiais até o “si mesmo como outro”, no mundo do corpo próprio e da tensão irresoluta que configura o humano na tensão da intersubjetidade abismal (infinita). Levinas na verdade questiona a intersubjetividade no sentido da reciprocidade de iguais. É ponto de concretude da alteridade radical. O que nos parece é que em Levinas se pode gerar uma tendência moralizante, e isso ocultaria a sombra da cru-eldade da carne humana. Em todo caso, Levinas quer ir além do ontológico; esse ponto é revolucionário. Igualmente, podemos pensar uma ampliação do conceito de má consciência em Levinas, para além do aspecto bíblico e fenomenológico, no aspecto do outro em nós e, assim, da própria Sombra.

Nossa tese caminha no sentido de pensar que Levinas se deparou com o horror máximo do lado negativo da Sombra humana, espelhada nas atrocidades da Guerra e do Nazismo. Procurou resgatar na natureza humana uma essência (porém não mais em termos ontológicos) anterior à Sombra, à crueza (ou tirania, como diz ele) do Ser como Totalidade, encontrando este (não)lugar na Lei ética radical, no imperativo interpessoal bem espelhado no Deus Judaico em sua infinitude. Seria uma Lei interna do estar votado radicalmente à alteridade, o que daí implica estar votado ao outro concreto, às pessoas. Lei do humano (tal como uma lei de natureza, ou de cultura; contudo, Levinas a coloca para além destes âmbitos, inclusive do religioso no sentido sagrado ou metafísico; na verdade trata-se do “Santo”(Sanctus = separado), dentro da tradição a que Levinas se filia e proclama o grande valor, como o “Infinito ético”, “Glória e violência do Bem”, pregado na ética da alteridade). Mas a passagem da Lei ética do humano, na bela e encarnada interpretação humanista de Levinas, para a prática da ética, já são “outros quinhentos”. Ou seja, é preciso de um método que toque em condicionamentos interiores encarnados, de um caminho vivo para a realização da ética e sua sombra. A idéia metafísica levinasiana de que constituimos no fundo da subjetividade, anterior à identidade, algo como o um-para-o-outro, um sujeito que acontece (ser humano) votado radicalmente à alteridade do outro, e isso quer dizer a Glória do Bem, ou seja, que nascemos da alteridade e apontamos para ela encontrando na prática ética radical (Judaica-cristã) do sacrifício de si pelo outro, tal postura é por demais significativa e muito humana, ou como ele diz gloriosa. No entanto, colocar isso em prática, fazer a passagem pela natureza humana onde a carne é a alteridade e a Sombra diferença (in)desejável exige muita estratégia e preparação do sujeito. Não adianta absolutamente dizer que em essência somos votados à ética da alteridade, nem dar conselhos, nem fazer proibições, nem vender o peixe de que o mundo será melhor se entrarmos na diaconia (serviço) da alteridade. Na verdade, o que vem à tona é um descompasso claro entre a teoria moral, mesmo da alteridade, e junto às boas vontades idealistas, e a vivência muitas vezes dolorosa da alteridade. Se nós queremos a alteridade, precisamos abraça-la toda ! A saber, junto com os anjos bons, os demônios da alteridade, do que nós somos.

Penso que Levinas não levou à sério a arte e o homo aestheticus, e assim aspectos da psique humana: o Inconsciente e a Sombra. Levinas não levou a sério Nietzsche nem Freud, e todos os que daí se seguem. Não se trata de que ele não os tem como importantes, mas sim que não há lugar de fato para a visão de homem deles em seu pensamento. Por que? Porque ele está ligado radicalmente – e isso é algo bom – à tradição da ética judaica na experiência do Antigo testamento e do Talmud e da tradição rabínica, no que ela tem de menos dogmático certamente. A Filosofia, para Levinas, não chega a ser serva da teologia, mas com certeza passa a ser apenas instrumento da ética da alteridade, o que me parece muito bom para quebrar o especulacionismo filosófico amorfo. A grandeza de Levinas aí é falar em Israel não como particularidade étnica, mas humanidade. Não se trata de uma filosofia de particularidades, mesmo que marcada hermeneuticamente por ela (judaica espiritual-moral). Não obstante, pode-se ampliar o conceito (explosivo) de Deus e conjuntamente o conceito de identidade humana subjacente.

Resgatar o papel da Sombra negativa e positiva, falta a Levinas. Significa que não podemos pular direto para a ética da alteridade sem assumir o lado demoníaco do humano, a começar pela psicologia própria de cada um. O lado positivo da Sombra é ligado imediatamente à arte, dons sufocados, criatividade estética, que para Levinas muito facilmente se coaduna com o sagrado totalizante, e com um afrouxamento da moral. Isso traduz a demanda de um pensamento muito marcado pela dor e sofrimento humano, pela Sombra macabra que caiu sobre os judeus, e não vê mais gosto no jogo livre da vida, pois receia sua violência. Por outro lado, falta à ética da alteridade levinasiana, e à filosofia ocidental em geral, caminhos específicos, métodos incorporados que possam vencer a dicotomia entre o mundo externo e o mundo interno, razão e emoção, teoria e prática. A experiência da alteridade é chocante, mas preciso estar preparado para ela, no sentido de responder a ela com sinceridade, maturidade e quem sabe compaixão. Como posso gerar compaixão pelos outros se estou o tempo todo me debatendo apenas com minha Sombra oculta, meus desejos, meus apegos, minhas idealizações da realidade e da alteridade ? Adianta pregar o dever de abraçar a ética ? É aí que entra a importância dos caminhos da abordagem e educação emocional. Se a razão convence, a “emoção arrasta”. Preciso estar preparado para lidar com as mazelas e alienações de uma e de outra. Como ? Será que tenho condições de ser senhor de minha mente - desejos, sombras, idealizações, conflitos, sentido de existência, lucidez ou loucura pessoal - tudo isso implicado na minha relação com os outros ?

 

 

IV – Por fim: Pensar a Alteridade como experiência de choque e aprendizado Emocional[7]

 

 

Do que se trata ? Remetimento-comprometimento do fazer a ex-periência da alteridade, sair fora dos condicionamentos, para além da egologia defensiva em que fomos formados contra a alteridade, seja a Sombra positiva ou negativa, seja a alteridade chamada de ética. Levinas não nos dá uma pedagogia nem um método, nem práticas pessoais existenciais para a grande preparação que requeremos hoje em tempos de novidades e de degenerações. Ele nos dá sim um exemplo do incansável trabalho dos textos, da busca da sabedoria escrita tentando remeter à preciosidade da vida humana no seio da vivência da alteridade pela comunidade. Uma vida para a palavra (como a Bíblia...) e uma palavra de honra ao outro (ética); um amor à sabedoria voltado para sabedoria do amor. Mas são muito sutis as vias que devem e podem levar a tal, muito mais do que apresenta a filosofia e os estudos sobre Levinas. O grito profético não é mais ouvido como antes, no passado. A seriedade da Palavra desliza pelo falatório midiático, na avalanche dos signos pós-modernos e nos bits virtuais, produzindo uma Matrix geradora onde nossas mentes são cooptadas. Mais do que nunca precisamos de métodos e abordagens que possam competir com a Matrix que educa-condiciona intensamente nossas mentes na sociedade de consumo. É uma questão mental, cultural e de emoções. Movimentamo-nos por emoções (e-movere = mover-se, e ser movido por...)

A situação que configuro aqui, esquematicamente tem tais significantes:

Filosofia de Levinas à grito pela Alteridade à lidar com a Sombra à

necessidade de educação emocional à

Maior superação da dicotomia teoria X prática à

Sabedoria do Amor (como quer Levinas).

 

Talvez, um dos mais graves destinos do pensamento ocidental foi o não conseguir vincular-se a um saber emocional efetivo, uma verdadeira educação emocional, incluindo sexo, afetividade, desejos, enfim, a atividade mental e desejante, e separar isso da inteligência racional, especulativa e calculadora. Essa dicotomia produziu monstros no duplo sentido, grande racionalidade e grande poder de destruição. O mito da razão levou a uma racionalidade instrumental, diga-se, altamente violenta e destrutiva da alteridade. Exemplos temos muitos. Que alguém seja um grande cientista ou filósofo, e ao mesmo tempo um ser primitivo emocionalmente, um ser intragável, ou um ser amorfo ou uma peça na engrenagem, isso não parece assustar; ou que produza armas de morte, ou escreva artigos para meia dúzia de leitores especulativos, ou seja um boçal profissional ou um idiota da Matrix sem o saber, isso parece ainda não assustar. Ao que se deve tal desconexão que toca à hipocrisia ?

Como aponta Heidegger em Ser e Tempo, nem o “dois mais dois é quatro” está desligado das disposições afetivas (Befindlichkeit). O existencialismo tentou levar a sério o homem concreto, mas pouco ofereceu em termos de pro-posições concretas, métodos ou práticas que nos propicie a lidar melhor com emoções negativas/destrutivas por exemplo, tais como a angústia, o medo e o niilismo (perda de sentido da vida por ignorância da própria preciosidade humana), os quais na verdade tornam-se até ícones de um tempo e teorias decadentes. Um dos bons ensinamentos aqui da trilogia Alteridade – Sombra – Emoções, seria tomar consciência de que eu, professor, acadêmico ou cientista, sou muitas vezes débil, como marionete, contaminado pela Matrix, e me escondendo da alteridade sombria, fugindo do primitivo e até do criativo, e é por isso mesmo que enfrento conflitos, verdadeiros carmas nas relações pessoais, no amor, a ponto de cair em ostracismo, ou em normoses (loucura da normalidade), neuroses sem fim e desconexão emocional, tal como a da teoria X prática. Coisas da vida. Sim, mas então rogo para que eu não tenha a pretensão de me considerar melhor do que outrem somente porque tenho algum estudo, ou de pregar sobre alteridade estando tão distante dela quanto aquele que dela não quer saber. Quem sabe, devo tentar aprender a conhecer emoções negativas e positivas, para além do que é espelhado nos mundos profissionais e das boas aparências institucionais. Trata-se igualmente de referir-se à primeira pessoa, buscando na experiência interna, pessoal e interpessoal conseqüentemente, confirmar ou refutar a teoria e o pensamento que prego ou escrevo. Responsabilidade pessoal. Abominável é a neutralidade, o carreirismo e a mera especulação na Academia, pois é por demais egóica, presa à formalidades e negadora tanto de sua Sombra quanto de seu gozo desinteressado[8].

 

O que se evidencia em nossa tradição de pensamento depois da Modernidade é que pouco temos, além da psicanálise e de algumas psicologias, de disciplinas que possam lidar com nossas emoções destrutivas e a Sombra, bem como nos propicie auto-conhecimento real, e nos torne senhores de nossa própria mente/vida, de dentro pra fora, e assim favoreça a aceitação da alteridade e da realidade. Os filósofos (fenomenólogos e hermeneutas em especial) questionaram muito bem os conceitos de realidade e outros conceitos da metafísica, não obstante não ofereceram um trabalho para lidar com a Sombra negativa e positiva da identidade do sujeito, e tampouco um método de auto-conhecimento emocional e da mente no sentido de ampliar seus horizontes para além do nível do conceito e da reflexão especulativa. Se as teorias baseadas na reflexividade e filosofias do sujeito foram desconstruídas, não o foram os condicionamentos que fazem com que ajamos da mesma forma e não obtenhamos uma maior liberdade frente aos nossos vícios, apegos, identidades defensivas e idealismos do ego exacerbado. Freud e Jung são tardios em nossa tradição. De outro lado, chamam atenção filosofias e psicologias como a budista, que catalogou não menos que 84 mil nuances de emoção em estados mentais diferentes, testados sempre na prática. Ou o Yoga, vindo da Índia, de mais de 5 mil anos, que une razão, corpo, emoção e a mente. Temos a própria tradição meditativa cristã, e a tradição dos místicos cristãos, ou a tradição do silêncio e da contemplação, e tudo o que decorre de uma nova visão do homem livre na espiritualidade – aquela que não é a dos impérios e das neuroses certamente. Surpreendentemente, são alguns físicos quânticos, neurobiólogos e neurocientistas que começam a levar a sério o papel de construtora da realidade que é a mente humana em sua amplitude e concretude, e o funcionamento holístico dos seres vivos, falando-se inclusive numa consciência cósmica, ou mesmo Deus[9].

É certo que a fenomenologia colocou também esta questão, mas a mesma não teve penetração e método para ir além da especulação racional interna, não gerando mudança de configuração mental, condicionamentos e comportamentos, aquilo que penso, desejo e faço todo dia, muitas vezes até sem saber. Portanto, casar a ética da alteridade com abordagem (educação) emocional de veio meditativo e prático é algo revolucionário para o ocidente[10]. Digo para o ocidente pois este casamento já é feito naturalmente na tradição budista, na medida em que todo trabalho de entrada e familiaridade com a própria mente (que não é só a cabeça, como podemos pensar, mas a vida no sentido radical, de dentro pra fora), tal trabalho é julgado pela prática da compaixão. O que significa ? Quer dizer que a validade dos métodos e filosofias passa pelo crivo rigoroso da produção de maior e substancial capacidade de lidar com o sofrimento pessoal e diminuir então o sofrimento alheio e produzir lucidez sábia. Não é apenas com o assistencialismo que se entra numa ética da alteridade. Coloca-se o imperativo de uma mudança ex-cêntrica, de egocentricidade para a lucidez mental e ampliada que aceitou a sombra e assim pode apreciar a interligação de todos os seres e a amorosidade. Trata-se de produção de maior compreensão e aceitação humana, o que quer dizer a base da inteligência, sinônimo de inteligência emocional. Isso implica lidar com a própria existência com coragem, para então compreender a alteridade de dentro pra fora e propiciar – se for o caso - mudança reais de condicionamentos e comportamentos. Possibilidade da ética ?  Só cada instante e contextos reais podem dizê-lo.

 

 

Bibliografia

 

FREUD, S. O Mal estar da civilização. In: Obras Completas. SP: Imago.

GOLEMAN, D. & DALAI LAMA. Como lidar com emoções destrutivas. SP: EDIOURO, 2003.

JUNG, C. G. Civilização em transição. Petrópolis: Vozes, 1996.

LEVINAS, E. Autrement qu´être ou au dela de l´essence. La Haye: Martinus Nijhoff, 1974.

NIETZSCHE, F. Genealogia da moral. SP: Cia das Letras.

PELIZZOLI, Marcelo. Levinas: a reconstrução da subjetividade. EDIPUCRS, 2002.

__________ (org.). Bioética como novo paradigma. Petrópolis: Vozes, 2007.

__________. O sujeito, paixão e pathos. In.: Éticas em diálogo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

VARELA, F, Thompson, E. Rosch, E. A Mente Corpórea - Ciência Cognitiva e ExperiênciaHumana. Lisboa: Editora Piaget, 2001.

ZWEIG C. & ABRAMS J. (orgs.). Ao encontro da sombra. SP: Cultrix, s/d.



[1] PhD. em Filosofia. Prof. da UFPE. E-mail: opelicano@gmail.com

[2] É interessante que se tenha a idéia de que professor sabe, tem a luz, enquanto que aluno (a-lumen) é “sem luz”. No fundo todos gravitamos entre luzes e sombras, um não vige sem o outro.

[3] Para o importante e inquietante assunto da Sombra, veja a teorização, além de Nietzsche, de C.G. Jung. E a exemplar obra: Ao encontro da sombra, de Zweig C. & Abrams J. (orgs.), Ed. Cultrix.

[4] Cf. mais adiante sobre essas figuras, bem como minha obra Levinas, da EDPUCRS, 2002, e Correntes da ética ambiental, da Vozes, 2003.

[5] Pressupomos aqui um certo conhecimento de Levinas para entender melhor nossa tese abordada de forma mais livre. Para aprofundar seu pensamento, ver nossa obra Levinas: a reconstrução da alteridade, Edipucrs, 2002.

[6] Não se trata tamto aqui de que Levinas era religioso ou tenha um pensamento colado à religião, mas sim de que está nitidamente dentro de concepções altamente matizadas pela religiosidade judaica, pelo Antigo Testamento, pelo talmud e coisas do gênero. Isso não desmerece o autor, mas é um ponto de partida a ser considerado na questão de como vai lidar com a moral, com a subjetividade, com o social e com a Sombra. A tradição judaico-cristã, no sentido da sombra e do sexo por exemplo, tem bem mais problemas ou neuroses do que tradições indígenas ou asiáticas.

[7] Aprendizagem ou educação emocional aqui não se trata apenas de um método utilitário para educar emoções ou algo que o livro Educação Emocional de Goleman e da tradição norte-americana seja suficiente. O livro é excelente sem dúvida alguma. Não obstante, deve partir de nosso contexto. No caso, o ápice da Educ. emocional que falo aqui diz respeito às práticas de atenção/meditativas (em especial do Budismo) como vem sendo usado no Brasil, produzindo diminuição de sofrimento aos seres e gerando lucidez pessoal, sem excluir outras tradições e militâncias, seja espiritual, psicológica, política e pedagógica, na verdade âmbitos interligados. As obras de Dalai Lama são um bom exemplo da força de uma visão e prática através do mundo. Em todo caso, ela não pode ser dicotômica. A psicanálise tb. deve entrar aqui.

[8] Nos papeis oficiais dos órgãos de fomento à pesquisa em Filosofia no Brasil há retórica muito bela, tal como: caráter social da pesquisa, educação, qualidade, sociedade, inclusão, e assim por diante. Não obstante, interessa muito pouco ou quase nada na verdade se nosso trabalho de pesquisador e professor beneficia alguém, diminui sofrimento humano, nos torna mais humanos e éticos na prática e incluí excluídos; interessa antes quantos pontos o pesquisador tem na contabilidade da produção (lucro) e como ele se enquadra na Matrix da Pesquisa oficial. Quanto mais seu trabalho se afasta do alcance popular melhor !

[9] Cito o maior deles, Amit Goswami, o grande físico indiano radicado nos EUA; igualmente, F. Varela, famoso neurobiólogo radicado tb. nos EUA; os psicólogos D. Goleman e a grande cabeça que é Ken Wilber, todos estes grandes praticantes de meditação na tradição budista tibetana; temos tb. H. Maturana, James Lovelock entre muitos outros.

[10] Isto está muito bem explicitado, filosófica e cientificamente e também cotidianamente por Varela, em sua obra A Mente Corpórea.

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