Cristine Scattolin Andersen, Larissa Prado Fontoura, Luis Cesar de Castro, Vanessa Andina Teixeira, Fernanda Marques Paz, Marina Schmitt, Rogério Lessa Horta
8 de fevereiro de 2022
ARTIGOS ORIGINAIS • J. bras. psiquiatr. 65 (1) • Jan-Mar 2016 • https://doi.org/10.1590/0047-2085000000099
Parents’ relationship and their alcohol consumption as reported by 12 to 14 years old schoolchildren from southern Brazil
Cristine Scattolin Andersen, Larissa Prado Fontoura, Luis Cesar de Castro, Vanessa Andina Teixeira, Fernanda Marques Paz, Marina Schmitt, Rogério Lessa Horta
Investigar a relação entre uma avaliação negativa do relacionamento entre pai e mãe e seu consumo de álcool segundo o relato de escolares de 12 a 14 anos do sul do Brasil.
Estudo transversal de base escolar, no qual foram visitadas todas as escolas dos municípios de Lajeado e Sapiranga, no interior do Rio Grande do Sul, em 2012, com amostragem aleatória, estratificada por sexo, idade, município e rede de ensino (pública estadual, pública municipal ou privada). Os dados foram submetidos a análise descritiva e a regressão de Poisson, com controle de efeito de delineamento para a variável escola.
A amostra foi composta por 2.189 escolares, sendo 1.351 (61,7%) da cidade de Lajeado e 838 (38,3%) de Sapiranga. Não se identificou associação estatisticamente significativa entre consumo de álcool da mãe e relacionamento entre pai e mãe percebido como negativo. Já o consumo de álcool do pai reduziu a probabilidade de a relação entre ele e a mãe do escolar ser referida de modo negativo, na análise bruta [RP = 0,857 (IC95%: 0,744-0,988)]. Essa associação também desaparece na análise ajustada para sexo, idade e escolaridade do principal responsável.
Do conjunto dos relatos dos escolares, não se mantém qualquer associação entre o consumo de álcool dos adultos e relacionamentos avaliados pelos jovens como negativos. Há risco de haver dissonância entre essas evidências e as que embasam discursos que indicam riscos decorrentes do consumo de álcool para as relações familiares. Aprofundar estudos como esse pode ser oportuno para qualificar políticas públicas na área.
Escolares; álcool; bebidas alcoólicas; relações familiares; família
To examine the relationship between parents’ relationship and their alcohol consumption as reported by students from 12 to 14 years old.
A cross-sectional school-based study was performed, visiting all schools of two towns in the state of Rio Grande do Sul, southern Brazil (2012), involving a sample stratified by gender, age, municipality and type of school (public or private). Data were submitted to descriptive and Poisson regression analysis with design effect control for the variable school.
The sample consisted of 2,189 students who were 1,351 (61.7%) from the city of Lajeado and 838 (38.3%) from Sapiranga. No statistically significant association between mother’s alcohol consumption and relationship between father and mother perceived as negative was found. Father’s alcohol consumption reduced the likelihood of the relationship between him and the mother being reported as negative in the crude analysis [PR = 0.857 (95%CI: 0.744-0.988)]. This association also disappears when the analysis was adjusted by sex, age and education level of the main responsible in the family house.
There is a risk of strong dissonance between the perception the students have about the influence of adults’ alcohol beverage on the relationships in their homes and speeches aiming to show to schoolchildren that alcohol consumption is harmful to loving relationships and care.
Students; alcohol; alcoholic beverages; family relations; family
O consumo de drogas, incluindo bebidas alcoólicas, sempre esteve presente na história da humanidade, nas mais diversas culturas1. O aumento significativo do mercado de bebidas alcoólicas nas últimas décadas está relacionado ao turismo em massa, ao desemprego2 e ao grande crescimento da indústria de bebidas alcoólicas, com pesado investimento em propaganda no setor3-5. A Organização Mundial da Saúde promove monitoramento dos danos associados a esse comportamento, em suas mais diferentes formas, no mundo todo, como parte das ações estratégicas de enfrentamento e promoção da redução do consumo de bebidas alcoólicas6. No Brasil, estima-se que 74,6% da população já fez uso de álcool alguma vez na vida7 e que a prevalência de dependência de álcool chegue a 9,3% e de seu uso pesado, a 15,5%7,8. Esses números mostram a dimensão desse mercado no país e alguns riscos associados à ingesta de bebidas alcoólicas.
As políticas públicas nesse campo enfrentam dificuldades, como a desinformação e a glamourização que os esforços publicitários da indústria promovem4. O uso de álcool e seus efeitos são, facilmente, conotados positivamente em campanhas publicitárias3-5. Por exemplo, os efeitos das intoxicações agudas e leves no organismo, como o aumento da loquacidade, relaxamento e, em maiores doses, percepção alterada do ambiente, com julgamento prejudicado e alguma perda da coordenação9, podem ser descritos como algo desejável ou satisfatório. Tais manifestações podem fazer com que a convivência pareça melhor ou mais harmônica, desafios pareçam mais facilmente transponíveis, as pessoas se coloquem de modo mais confortável e os conflitos fiquem menos expostos4. Isso é especialmente evidente quando se analisam prevalências de consumo de bebidas alcoólicas entre jovens diante de desafios sociais, como em momentos que antecedem relações sexuais10.
De maneira geral, o consumo de álcool começa ainda na adolescência1,2, e o padrão de consumo está intimamente relacionado com o tipo de relacionamento existente entre o adolescente e seus pais11-15. A perspectiva que o adolescente desenvolve acerca de seu ambiente familiar tem sido percebida como importante fator formador de seus hábitos e valores16, entre eles a decisão pelo consumo ou não de álcool. Conotações positivas desse comportamento no ambiente doméstico são potenciais reforçadores de hábitos etílicos entre gerações. Por isso, este estudo examina a relação entre a avaliação que escolares de 12 a 14 anos referem ter quanto ao relacionamento entre suas mães e seus pais, ou substitutos, e o consumo de álcool que o escolar percebe que eles mantêm, independentemente das características desse consumo.
A partir de um estudo maior, foi composta uma subamostra com 2.189 escolares com idades entre 12 e 14 anos de idade. A opção pela delimitação etária se justificou por comporem um grupo com prevalências de uso na vida de álcool ainda distintos dos padrões adultos e sobre o qual programas e políticas voltadas à prevenção ou postergação da iniciação nesse comportamento podem ter maior possibilidade de resposta.
O estudo original teve delineamento transversal, de base escolar, e visitou todas as escolas dos municípios de Lajeado e Sapiranga, ambos de médio porte, no interior do estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2012, entrevistando 3.547 escolares com idades entre 12 e 17 anos. Foi realizada amostragem aleatória por turma, preservando a proporcionalidade da amostra por sexo, idade, município e rede de ensino (pública municipal, pública estadual e privada). Todas as turmas de todas as escolas foram relacionadas para sorteio. Após anuência das secretarias de educação e dos gestores escolares, representantes de cada escola se responsabilizaram por fazer chegar aos responsáveis pelos escolares informações sobre os objetivos do estudo, os procedimentos de coleta de dados e os aspectos éticos, especialmente a indicação de que o questionário seria de autopreenchimento e preservaria o anonimato tanto dos que o respondessem quanto dos que não o respondessem. Os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido foram distribuídos e recolhidos pelas escolas previamente à coleta de dados, e os escolares sem autorização dos responsáveis para participar ou que não desejassem responder foram instruídos a receber o questionário e devolvê-lo em branco, evitando-se, assim, a identificação dos não respondentes em sala de aula. Ao todo, foram visitadas 214 turmas nas escolas de Lajeado e 75 turmas nas escolas de Sapiranga. Pessoas com deficiência cognitiva ou física que, por esse motivo, fossem incapazes de responder autonomamente ao questionário foram excluídas na coleta de dados.
O questionário foi desenvolvido com base em instrumentos de outros estudos17-19, tendo sido padronizado e pré-testado, com vistas a uma ampla investigação sobre uso de substâncias psicoativas por escolares e condições associadas. As variáveis selecionadas para esse recorte analítico eram todas parte desse questionário. A aplicação ocorreu em sala de aula. Após o preenchimento, os questionários eram recolhidos em urnas preparadas para o estudo, lacradas logo depois da visita de cada turma e abertas, posteriormente, apenas na sala reservada para processamento e digitação dos dados. Para garantia de qualidade, a coleta de dados foi acompanhada presencialmente por supervisoras de campo treinadas, e todas as visitas às turmas foram checadas com as escolas. Os instrumentos foram digitados no programa Epidata 3.5, com dupla entrada para checagem e correção de eventuais erros de digitação. Uma primeira rodada de análises descritivas permitiu a identificação e a correção de eventuais inconsistências. Foram computados, ao todo, 9,4% de perdas ou recusas.
A variável considerada desfecho deste estudo foi a avaliação negativa do relacionamento entre os pais, uma variável categórica, dicotômica, coletada por meio da pergunta: “Como é a relação dos seus pais?”, tendo como opções de resposta “Boa” ou “Ótima” (categorizadas como relação percebida como positiva) e “Inexistente”, “Regular”, “Ruim” ou “Péssima” (categorizadas como relação percebida como negativa).
As variáveis de exposição deste estudo foram:
pai considerado usuário de álcool: variável categórica, dicotômica, obtida por meio da pergunta “Seu pai toma bebida alcoólica?”, cujas opções de resposta eram “Não, nunca vi meu pai bebendo” e “Sim, eventualmente ou frequentemente”;
mãe considerada usuária de álcool: variável categórica, dicotômica, obtida por meio da pergunta “Sua mãe toma bebida alcoólica?”, cujas opções de resposta eram “Não, nunca vi minha mãe bebendo” e “Sim, eventualmente ou frequentemente”;
pai e/ou mãe considerados usuários de álcool: variável categórica, dicotômica, obtida pela soma das respostas às perguntas mencionadas acima e categorizadas como “Pai ou mãe tomam bebidas alcoólicas, eventualmente ou frequentemente” ou “Pai e mãe nunca foram vistos bebendo”.
A análise dos dados foi conduzida utilizando o programa Stata 11.0. Para estimativa das razões de prevalência (RP) brutas e ajustadas, além de seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%), foi utilizada regressão de Poisson. Optou-se pela regressão de Poisson pela possibilidade de demonstrar a magnitude das associações sem problemas de estimativa, oriundas da utilização de razões de odds20. O desfecho relacionamento negativo entre os pais apresentou estimativa média de efeito de delineamento segundo a variável escola igual a 0,303, justificando-se o controle desse efeito nas análises subsequentes. A análise foi ajustada para as variáveis idade em anos completos21(variável discreta obtida pelo cálculo do tempo transcorrido entre ano e mês de nascimento e a data da aplicação do protocolo), sexo16,21,22 (variável dicotômica, composta pelas categorias masculino e feminino) e escolaridade do principal responsável23,24, identificado como a pessoa que mais ganha dinheiro em casa, não importando se é pai, mãe ou outra pessoa [variável categórica ordinal, composta pelas categorias: analfabeto ou no máximo até a quarta série do ensino fundamental (EF); entre a quinta e a sétima série do EF; EF completo; ensino médio (EM) completo; ensino superior (ES) completo].
A coleta de dados em cada município gerou projetos distintos, aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), previamente à realização deles, sob os Protocolos nºs 074/2011 e 028/2012.
Dos 2.189 escolares entrevistados, 1.351 (61,7%) eram de escolas da cidade de Lajeado e 838 (38,3%) de Sapiranga, sendo 2.126 (97,2%) de turmas do ensino fundamental. Quanto ao sexo, 1.197 (54,7%) eram meninas. A idade média dos entrevistados foi de 12,9 anos (dp = 0,84). Entre os entrevistados, 306 (14,0%) eram de escolas da rede privada, 691 (31,6%) da rede estadual e 1.192 (54,5%) da rede municipal de ensino.
As prevalências do desfecho e das variáveis de exposição (pai e/ou mãe percebidos como usuários de álcool) e seus respectivos intervalos de confiança encontram-se naTabela 1.
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Tabela 1
Prevalências e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%) de relacionamento negativo entre os pais e consumo de bebidas alcoólicas por pais e mães, segundo relato de escolares de 12 a 14 anos do sul do Brasil, 2012 (N = 2.189)*
A Tabela 2 traz as razões de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança obtidos em análise bruta. Escolares filhos de pais percebidos como usuários de álcool apresentaram probabilidade quase 15% menor de perceber concomitantemente relacionamento negativo entre os pais [RP = 0,857 (IC95%: 0,744-0,988)]. Escolares que informaram que a mãe é percebida como usuária de álcool, quando comparados aos que não referiram que suas mães bebiam, não tiveram probabilidade significativamente modificada de perceber a relação entre pai e mãe como negativa: RP = 1,114 (IC95%: 0,970-1,279) para mãe usuária de álcool e RP = 1,08 (IC95%: 0,96-1,22) para mãe e/ou pai usuários de álcool.
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Tabela 2
Razões de prevalências (RP) e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%), estimados em análise bruta por regressão de Poisson, para relacionamento negativo entre os pais e consumo de bebidas alcoólicas por pais e/ou mães, segundo relato de escolares de 12 a 14 anos do sul do Brasil, 2012 (N = 2.189)*
A associação entre o desfecho em análise e o relato de que o pai consumia bebidas de álcool desapareceu ao rodar a análise ajustada [RP = 0,877 (IC95%: 0,761-1,010); p = 0,068].
O principal mérito deste estudo é trazer ao debate neste campo do conhecimento a constatação de que o consumo de álcool que escolares com idades entre 12 e 14 anos completos relatam que seus pais ou mães fazem não aumenta a possibilidade desses mesmos jovens perceberem algum prejuízo no âmbito das relações familiares, pelo menos, como traduzido aqui, como uma avaliação negativa das relações entre seus cuidadores. Em nenhuma das estimativas obtidas, o comportamento de consumo de bebidas alcoólicas de qualquer dos genitores aumentou a probabilidade de a relação entre pai e mãe ser descrita como negativa pelos escolares. Pelo contrário, em análise bruta, o consumo de álcool que os escolares percebiam que o pai fazia esteve associado a menor probabilidade de registro de que o relacionamento entre pai e mãe fosse negativo.
A associação encontrada ali poderia ser explicada pensando em efeitos eventualmente percebidos como benéficos no âmbito familiar9. Esses efeitos e sua conotação positiva podem contribuir para alívio de tensões e, por consequência, de conflitos familiares e conjugais. Até certo ponto, onde o consumo de álcool tenha esse papel de alívio de tensões, é compreensível que a avaliação dos adolescentes sobre o relacionamento entre os seus pais não se expresse de forma negativa. É comum o uso de bebidas alcoólicas para superar situações de maior exigência em termos de habilidades sociais, como entrar em contato com desconhecidos no espaço público, em situações de preparação para a atividade sexual10,25 ou pensando em se divertir mais ou para atenuar emoções negativas25, condições favorecedoras do consumo que têm sido descritas tanto para populações adultas como para adolescentes.
Na análise ajustada, ao controlar para escolaridade do responsável, idade e sexo, nenhum efeito significativo se manteve. É possível que essas variáveis expliquem melhor a avaliação negativa da relação entre pai e mãe do que a informação de que o escolar sabe que o pai bebe ou já bebeu. Diferenças de gênero, ainda vigentes em nossa cultura, por exemplo, podem determinar distintas percepções de mundo e de família16,26, eventualmente com olhar mais crítico e capaz de avaliar negativamente a relação entre os pais, ou detectar comportamentos como o consumo de bebidas alcoólicas. Diferentes categorias de idade, sexo e escolaridade dos pais, entre escolares, costumam indicar diferentes prevalências de consumo de bebidas alcoólicas pelos próprios escolares17-19, podendo modificar seus registros quanto às variáveis aqui investigadas.
Este estudo contou com uma amostra representativa dos alunos de todas as escolas, de todas as redes de ensino, de dois municípios de porte médio, no sul do Brasil, com idades entre 12 e 14 anos completos e de ambos os sexos. Ao pensarmos na formação de futuros padrões familiares e culturais, essa análise é bastante pertinente. Não se trata, aqui, de grupos selecionados de famílias com histórico de uso problemático de álcool. O que o dado traduz é o descolamento entre a constatação desses escolares de que seus pais ou mães consomem bebidas alcoólicas, em alguma medida, e a possibilidade de terem uma relação que o entrevistado avalie negativamente. Tal distanciamento pode contribuir para a formação de referências subjetivas, pela formação de crenças permissivas25, que podem interferir na tomada de decisões desses jovens no que tange ao consumo de bebidas alcoólicas.
A trama de determinantes para os comportamentos dos jovens com relação ao álcool é complexa e não se limita à avaliação que eles possam ter das relações entre seus cuidadores. Condições consideradas negativas na relação entre pais e filhos, caracterizadas, por exemplo, como rejeição, excesso de crítica ou falta de afeto, têm sido relacionadas ao consumo de álcool entre adolescentes15. Também se relatam maiores prevalências de uso de álcool entre indivíduos que sofreram abuso físico ou maus-tratos durante a adolescência27. O consumo de álcool e outras drogas é comum entre pais e mães perpetradores de quaisquer daqueles comportamentos, mas o álcool também pode ser percebido como um atenuante, algo que ajuda a reduzir a ocorrência de quaisquer dos eventos negativos. A exposição de crianças ao uso abusivo ou dependência do álcool no ambiente familiar não é evento raro28, e os filhos de pais e mães bebedores estão expostos a um risco quatro a seis vezes maior de apresentar morbidade psíquica quando comparados com a população em geral2. Pouco se tem estudado, porém, quanto à relação entre o consumo de bebidas alcoólicas e o que as crianças e adolescentes percebem do relacionamento entre seus cuidadores.
Além disso, esses fenômenos, no âmbito familiar, são atravessados por outras condições. O fato de o consumo de álcool dos pais parecer mais próximo até de melhorar as relações também pode derivar de especificidades de gênero, como homens serem mais percebidos como perpetradores de agressões e maus-tratos. Há, também, relatos de que mulheres que bebem estão mais sujeitas a transtornos psiquiátricos e ambientes familiares conturbados2,7, mas talvez isso se expresse dessa forma nas estatísticas, porque o comportamento seja menos aceito entre as mulheres que entre os homens, podendo ser menos visível nos domicílios, mesmo se ocorrer. A visibilidade do consumo de álcool e de outras drogas por mulheres tem sido mais evidente quando associada a danos ou prejuízos.
É limitação deste estudo a avaliação do consumo de álcool por pais e mães ter sido realizada por meio do relato dos adolescentes. Não se buscou a informação com pais e mães diretamente, nem se obteve qualquer confirmação da informação com eles e também não foi realizada uma estimativa dos padrões de consumo de cada um deles. É plausível imaginar que diferentes padrões de consumo de álcool possam levar a resultados distintos dos obtidos aqui7,29,30. Foram classificados como bebedores pais e mães que em algum momento da vida já foram vistos por seus filhos adolescentes consumindo bebidas alcoólicas, independentemente da frequência, quantidade ou continuidade desse consumo. Há relatos de risco aumentado de problemas nos relacionamentos conjugais e familiares quando se registra consumo de álcool ou outras drogas29,30. Isso, talvez, fique mais evidente em estudos que estratifiquem a análise para padrões de consumo30.
As evidências analisadas aqui mostram que, sem especificar padrão de consumo, o uso de álcool por pais e/ou mães não parece promover comprometimento ou eventos negativos nas relações entre eles a ponto de os escolares avaliarem negativamente o relacionamento de seus pais. Do conjunto dos relatos dos escolares, não se mantém qualquer associação entre o consumo de álcool dos adultos e relacionamentos avaliados pelos jovens como negativos.
Esses achados chamam atenção para o risco de haver forte dissonância entre a perspectiva que os escolares mantêm dos relacionamentos em suas famílias e discursos que busquem indicar a esses jovens que o consumo de bebidas alcoólicas é deletério para relações amorosas e de cuidado, como as que constituem, pelo menos originalmente, um grupo familiar. É importante que os agentes públicos ou privados que se propuserem a desenvolver ações ou políticas de prevenção dos comportamentos relacionados ao consumo de álcool e de outras drogas entre escolares estejam atentos a isso. É importante, também, que estudos como este sejam aprofundados, para que estratégias governamentais sejam mais bem embasadas, com evidências fortes.
Estudo financiado com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): Edital Universal – 2013, processo 470691/2013-1.
» http://pubs.niaaa.nih.gov/publications/brochurewomen/Woman_English.pdf>