BIOLOGIA E COMPORTAMENTO
Francisco B. Assumpção Jr.
Há algum tempo, importante revista americana, a “New Scientist” publicou um artigo bastante interessante sobre mães que não estabelecem comportamentos de ligação afetiva com seus bebês em função de alterações no metabolismo de determinados neurotransmissores, no caso, a noradrenalina.
Segundo o artigo, essas alterações metabólicas, observadas em animais de laboratório, ligariam comportamentos maternos a atividade cerebral e a mecanismos genéticos de transmissão, trazendo a baila uma questão de extrema importância correspondente a características individuais, puramente biológicas, como responsáveis por manifestações comportamentais bastante sofisticadas como, no caso, comportamento maternal.
Claro que quando falamos de psiquismo, falamos de fenômenos que acontecem “dentro do cérebro” e não “acima dele” e portanto, esses fenômenos logicamente envolvem trocas químicas e mecanismos genéticos de transmissão.
Entretanto, essas características biológicas são plásticas na espécie humana o que faz com que suas condutas sejam profundamente afetadas por variações ambientais de maneira que o ser humano se constitua em uma espécie adaptável à grande parte das variações.
Assim, um comportamento sofisticado como o comportamento maternal envolve uma infinidade de outros fatores além da química cerebral, embora essa não possa ser, “a priori”, desprezada.
Milhões de anos de evolução tanto em seus aspectos biológicos como nos aspectos comportamentais fizeram com que o homem se constituísse talvez no mais complexo ser vivo sobre a Terra. Assim, reduzi-lo a causalidades lineares diretas do tipo “alterações químicas específicas provocam comportamentos determinados” ou “ traumas psíquicos característicos são os responsáveis diretos por outros comportamentos complexos” tem que ser visto, no mínimo, como uma simplificação ingênua.