DEPRESSÃO NA INFÂNCIA
Francisco B. Assumpção Jr.
Todos aqueles que têm hoje mais de 30 anos de idade, com certeza se lembram de um desenho animado onde um leão e sua companheira, uma hiena, viviam diferentes aventuras.
Um dos pontos mais marcantes era Hardy, a hiena, que passava todo o tempo dizendo
- "Oh, dia! Oh, céus!Oh, azar! Nós não devíamos ter vindo...
Pois bem, Hardy, a hiena, pode ser considerado o portador daquilo que chamamos hoje de doenças afetivas, dentro das quais se inserem os quadros de depressão.
Esses quadros podem acontecer também em crianças caracterizando-se por uma tristeza intensa (humor depressivo), falta de interêsse e prazer pelas atividades que habitualmente executava (anedonia), cansaço fácil, dificuldades de concentração e idéias de desvalia associadas a inquietação.
Junto com esses sintomas podemos observar também, e com alguma frequência, sintomas físicos tais como dores de cabêça e de estômago. Porém, talvez o sinal que mais chama a atenção da família é um humor irritado, chamado pelos especialistas de disforia, e que se percebe pela mudança do comportamento. Ou seja, aquela criança boazinha e educada se transforma, sem motivo aparente, numa criança irritada, respondona e, muitas vezes, meio insuportável.
A frequência desses episódios em crianças é variável conforme a idade, indo desde aproximadamente 0,9% em pré-escolares e 1,9% em crianças em idade escolar, até 4,7% em adolescentes, segundo alguns estudos.
As causas desses quadros, embora ainda não totalmente esclarecidas , encaminham-se, hoje, mais na direção dos aspectos biológicos, encontrando-se uma maior frequência familiar (ou seja, a chance de um novo caso em famílias que já tem um membro com o problema é maior).
Dentro das causas biológicas, as teorias sobre alterações neuroquímicas , talvez sejam as mais importantes atualmente.
Entretanto, o diagnóstico de depressão na infância e na adolescência não é fácil, exigindo do especialista bastante experiência e, muitas vezes, exames laboratoriais, uma vez que muitas outras condições médicas podem mimetizar o quadro.
Da mesma maneira que não podemos deixar de considerar o período de desenvolvimento em que a criança se encontra, bem como as situações de vida que ela atravessa, não podemos deixar de excluir outras patologias psiquiátricas como esquizofrenia, também de difícil diagnóstico na criança.
Finalmente, ao pensarmos que as principais teorias atuais se encaminham para causas predominantemente biológicas, o tratamento naturalmente será realizado primáriamente através de medicamentos que, não precisa se preocupar, nào causam dependência ,nem serão tomados por toda a vida.
As abordagens psicológicas, tais como a psicoterapia, podem ser utilizadas, embora hoje não sejam apontadas como possibilidade de tratamento único nesses quadros.
Finalmente, não tenha medo. Embora muitas vezes a depressão em crianças e adolescentes possa ser recorrente, ou seja, ocorrerem vários episódios, ela é passível de tratamento e seu filho poderá ter, desde que tratado, uma vida completamente normal, sem nenhum prejuízo.
Portanto, qualquer dúvida, procure um especialista.