Por que amamentar é importante?
Essa pergunta parece simples de ser respondida mas o que para algumas pessoas parece óbvio para uma maioria é ainda desconhecido, haja vista os mitos e mentiras que rodeiam o tema amamentação.
Quem nunca ouviu falar que uma mãe deixou de amamentar ou que o leite secou porque disseram a ela que o seu leite era fraco? Muitos são os benefícios que a amamentação proporciona ao desenvolvimento do bebê e para a saúde da mãe.
Para o bebê sabemos que o leite materno do ponto de vista nutricional é considerado padrão ouro por conter todos os nutrientes em quantidade e qualidade necessários ao seu crescimento e desenvolvimento. Sabemos também que os aspectos imunológicos associados à amamentação são inúmeros e vão proteger o bebê de várias situações como anemia, diarréia, doenças respiratórias, otites entre outras. Portanto é um mito dizer que existe leite fraco.
Quanto às vantagens para a mãe também sabemos que o aleitamento materno evita hemorragia pós-parto, diminui o riso de câncer de mama e de colo de útero, aumenta a auto-estima da mãe e é menos trabalhoso pois está sempre pronto e na temperatura ideal para o bebê. Sem contar com a economia que se tem com leites industrializados, mamadeiras, medicamentos e consultas médicas. Pesquisas no assunto já mostraram que a criança alimentada artificialmente corre o risco de ter doenças alérgicas, infecções de ouvido, alterações gastrointestinais além de problemas odontológicos e de fala por uso prolongado de bicos artificiais.
É por essas e outras razões que a Organização Mundial da Saúde e o Fundo das Nações Unidas se organizaram em 1979 para discutirem a alimentação de bebês e crianças da primeira infância. Criaram assim um código que tenta controlar as práticas inadequadas de comercialização de alimentos infantis. No Brasil temos hoje o que chamamos de NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de primeira infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras). Esta norma tem o objetivo de assegurar o uso apropriado de tais produtos para que não haja interferência na prática do aleitamento materno. É proibido fazer vendas promocionais ou destacar determinados produtos como mamadeiras e chupetas em supermercados ou farmácias por exemplo.
O uso de mamadeiras e chupetas podem interferir na amamentação exclusiva pois há o que chamamos de confusão de bicos por parte do bebê que se encontra em processo de aprendizagem da sucção do seio materno nos primeiros meses de vida. Os programas de incentivo do aleitamento materno também tem crescido no Brasil mas ainda consideramos insuficientes pois a duração mediana da amamentação exclusiva e que deveria ser até os seis meses foi de apenas 54,1 dias (1,8 meses) no conjunto das capitais Brasileiras e Distrito Federal em pesquisa realizada em 2008 pelo Ministério da Saúde.
Apesar dos esforços de campanhas na mídia de Promoção do Aleitamento Materno estamos ainda distantes do ideal e do cumprimento das metas da OMS e Ministério da Saúde de aleitamento exclusivo até os 6 meses de vida e manutenção da amamentação até o 2° ano de vida ou mais. A amamentação por si só já seria uma estratégia que mais previne mortes infantis.
Além de todos esses aspectos relacionados a saúde física materno-infantil não podemos deixar de citar um aspecto não muito visível mas primordial; o vínculo afetivo que se estabelece entre a mãe e o bebê nesse contato físico promovido pela amamentação e que irá repercutir de forma positiva para a saúde mental da criança. Na prática o sucesso da amamentação não depende apenas do binômio mãe e bebê mas do envolvimento e apoio da família nesse momento tão importante e de grande demanda para a mãe.
A família pode colaborar, por exemplo, com as tarefas domésticas e como conseqüência trazer à mãe o descanso e relaxamento necessários para que a amamentação ocorra de forma tranqüila. É essencial que as dúvidas e dificuldades que podem ocorrer, especialmente no início desta fase, sejam sanadas por profissionais da saúde. Muitas vezes a interferência de pessoas não habilitadas podem contribuir para um desmame precoce ou para o surgimento de complicações na amamentação.
A amamentação é um instinto em todos os mamíferos mas nos seres humanos é uma prática tecida e interligada entre a natureza e a cultura abrangendo muitos aspectos relacionados à ciência e à sociedade. É portanto um tema estudado por diversas áreas do conhecimento e que precisam se interligar e refletir sobre esse prisma com o objetivo de melhorarmos nosso panorama nacional do desmame precoce.
Nesta primeira semana de Agosto acontece em aproximadamente 120 países, anualmente desde 1992, a Semana mundial de Aleitamento Materno. Este ano o tema que é proposto pela WABA (Aliança Mundial de Ação pó-amamentação) nos lembra que amamentar é uma experiência 3D: tempo (da gravidez ao desmame), lugar (a casa, comunidade, sistema de saúde, etc.) e comunicação. É preciso comunicar a importância da amamentação para que as outras dimensões de tempo e lugar realmente funcionem. Conecte-se com outros ativistas da amamentação e contribua para que outras pessoas saibam porque é importante amamentar.
Ana Elisa Jardim Gouveia
Fonoaudióloga CHI-PV
PROAMA-Unesp-Rio Claro