Dislexia: Como Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno na Escola
Lana Cristina de Paula Bianchi; Vera Lucia de Siqueira Mietto
11 de janeiro de 2012
“Dislexia: Como
Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno na Escola”
Dislexia

Releitura de profissionais de Neurociências,
com enfoque PEDAGÓGICO e FONOAUDIOLÓGICO pelas fonoaudiólogas e especialistas em
psicopedagogia Lana Bianchi ¹ e Vera
Mietto² |
A identificação precoce de um possível ou suposto quadro de dislexia no
ambiente escolar, sensibiliza os profissionais da educação ao exercício de um
novo olhar: “olhar” mais cuidadoso, criterioso, investigativo e com mais
participação na vida escolar dessa criança.
O diagnóstico que envolve a exclusão de outras condições e dificuldade
por parte da criança, deve voltar-se para uma serie de sinais e sintomas muito
peculiares, que podem sugerir a suspeita e levar a busca de profissionais
especializados para tal diagnóstico.
Neste contexto, é difícil estabelecer critérios precoces para esta
identificação, pois acompanhar o desempenho evolutivo de uma criança é um dos
marcadores para inferir inadequações neste desenvolvimento. Sabemos que podem
surgir atrasos no desenvolvimento motor e linguístico, inadequações nas fases
desse desenvolvimento e superação delas em ambiente familiar estimulador ou não,
além de outros fatores que possam implicar direta ou indiretamente no desempenho
formal do aprendizado de leitura e escrita.
Estabelecer estratégias e metas novas e eficazes para que crianças
desenvolvam o mais correto possível suas habilidades sensoriais e motoras para
atingir o contexto formal escolar, sem grandes atribulações é fundamental já
que, qualquer aprendizado pedagógico passa pela aprendizagem informal,
aprendizado esse que depende do ambiente, da família, da sociedade e das
particularidades individuais de cada ser.
Aprender é algo único, e neste aspecto devemos valorizar as pequenas e
altas habilidades, pois deste modo, precocemente perceberemos aqueles com mais
habilidades para raciocínio, cálculo, e aqueles com habilidades mais
linguísticas e assim, facilitamos sua integração no contexto pedagógico
formal.
Habilidade para Desenvolver a Escrita
e Leitura

|
Os processos
cognitivos que resultam em aquisição do processo de leitura e escrita formam uma
base, como apresentaremos:
(1) Conhecimento
de (leitura) e (nome) dessas letras:
É importante que esse conhecimento não venha de uma sequência automática
de memória do abecedário e sim de conhecimento e reconhecimento de grafemas e o
nome que esses grafemas possuem.
2) Consciência
Fonológica:
Envolve a habilidade em que a criança aprende a ouvir com o Ouvido
Neurológico, associando sons e letras e com essas transposições entre os sinais
auditivos corresponder-se a símbolos gráficos, oriundos das unidades
articulatórios da fala.
(3) Aptidões da
Fala e Linguagem:
Direciona a criança para dentro de um processo de aprendizagem formal, e
através dele podemos entender que, quando uma criança está na escola, ela já
adquiriu a fala (oralidade), já possui uma estrutura linguistica oral, e a
partir deste processo adquirido irá construir um novo processo: a escrita, e em
conseqüência, a leitura.
Quando esta criança não tem uma boa estrutura de linguagem oral que
comporte uma estrutura textual, dificilmente conseguirá fazê-lo dentro de uma
estrutura na escrita. Quando apresenta uma oralidade contaminada por
substituições e omissões, essas trocas aparecerão no processo de aquisição da
escrita, é necessário verificar suas estruturas anteriores (pré-requisitos) para
que a possibilidade de transpor para leitura e escrita esteja
adequada.
(4) Atenção
Sustentada:
Nascemos com uma atenção automática que é uma resposta aos estímulos e
estes provocam essa atenção para uma resposta a estímulos fortes, com grande
intensidade, e estes fazem seus registros de automatismo. É essa atenção que
persiste na criança durante o aprendizado informal.
Para integrarmos ao aprendizado formal (pedagógico) precisamos da
extensão desta atenção voluntária, escolher o que queremos focar, saber
relacionar com a situação e contexto escolar. Mais do que isso, se faz
necessário uma sustentação para este foco, que é uma habilidade que depende da
maturação do lobo frontal, de uma maturação neurológica, que depende de muito
treino, adaptação, adequação, e intensa participação da
criança.
Esta atenção sustentada é que mantém as zonas de associação com a atenção
auditiva para o aprendizado, possibilitando a retenção, ou seja, a consolidação
do conhecimento. Deste modo podemos compreender a necessidade e importância do
treino dessa habilidade (talvez a que mais necessite de treino) na primeira
infância (no ensino infantil pré-requisitos ligados a fase
sensório-motor).
(5) Memória
Operacional
Esta memória é que nos conduz a memória de trabalho, ou seja, é
necessário muito treino com a memória operacional no período da aprendizagem
informal para que através das habilidades exercitadas da criança, ela possa
seguir para aprendizagem estrutural e assimilar o significado e significante dos
símbolos sonoros. Essa correspondência se transformará em imagens mentais
abstratas e concretas, em nomeação, relações de fatos com sons para que efetive
as relações de oralidade e imagens (codificar e decodificar), estabelecendo
significado ao que se aprende.
Neste processo complexo, a maturação neurológica, as zonas de aprendizado
e as relações nas áreas frontotemporais são essenciais: a memória auditiva de
curto prazo relacionando-se com muitas associações para que a memória de longo
prazo efetive o conhecimento e dê seguimento ás próximas etapas
linguisticas.
Das
Dificuldades:
Como entender: os
DIS? Dislexia, Disortografia, Disgrafia, Discalculia... Para cada hipótese,
temos um entendimento neurológico e evolutivo de cada expressão e seu respectivo
significado:
1) Dislexia:

É a incapacidade
de processar o conceito de codificar e decodificar a unidade sonora em unidades
gráficas, (forma de grafemas) com capacidade cognitiva preservada (nível de
inteligência normal). Os disléxicos têm capacidade para aprender todas as
funções sociais e até altas habilidades, desde que, bem diagnosticado, seja
trabalhado em suas áreas corticais favoráveis e com estratégias e intervenções
adequadas. Essa intervenções devem valorizar suas funções viso-motoras, imagens
com significado e significante associados a ritmo e memória visual auxiliando
sua memória auditiva, para que desenvolva a capacidade por outras rotas (sabido
que sua rota fonológica é prejudicada).
2) Disortografia:

Definimos como
disortografia, os erros na transformação do som no símbolo gráfico que lhe
corresponde. Nem sempre a disortografia faz parte da dislexia e pode surgir nos
transtornos ligados á má alfabetização, na dificuldade de atenção sustentada aos
sons, na memória auditiva de curto prazo (Déficit de Atenção) e também nas
dificuldades visuais que podem interferir na escrita. Quando não estão
co-morbidas à Dislexia, o prognóstico é melhor.
3) Disgrafia:

Não se pode
confundi-la ou compará-la com disortografia, pois a disgrafia tem
características próprias. A criança com disgrafia apresenta uma escrita ilegível
decorrente de dificuldades no ato motor de escrever, alterações na coordenação
motora fina, ritmo, e velocidade do movimento, sugerindo um transtorno praxico
motor (psicomotricidade fina e visual alteradas).
4)
Discalculia:

A Discalculia do
desenvolvimento é uma dificuldade em aprender matemática, com falhas para
adquirir adequada proficiência neste domínio cognitivo, a despeito de
inteligência normal, oportunidade escolar, estabilidade emocional e motivação.
Não é causada por nenhuma deficiência mental, déficits auditivos e nem pela má
escolarização. As crianças que apresentam esse tipo de dificuldade realmente não
conseguem entender o que está sendo pedido nos problemas propostos pela
professora. Não conseguem descobrir a operação pedida no problema: somar,
diminuir, multiplicar ou dividir. Além disso, é muito difícil para elas
entenderem as relações de quantidade, ordem, espaço, distância e tamanho.
Aproximadamente de 3 a 6% das crianças em idade escolar tem discalculia do
desenvolvimento (dados da Academia Americana de Psiquiatria). De um modo geral,
o prognóstico das crianças com discalculia é melhor do que as crianças com
dislexia, ou pelo menos, elas tem sucesso em outras atividades que não dependam
desta área de calculo numérico.
Conclusão:
Todo trabalho escolar, da vida acadêmica de uma criança deve ser
investigado precocemente, desde seus primeiros momentos em berçários, creches,
escolas infantis, pois a detecção de falhas ou inabilidade no seu D.N.P.M.
(desenvolvimento neuropsicomotor) será precioso para atendê-la melhor, até seu
inicio ao ensino formal, respeitando seu ritmo, mas oferecendo-lhe oportunidade
de uma boa intervenção, caso descubra-se precocemente esta falha ou
incapacidade.
O pré-diagnóstico no âmbito escolar é excelente para o aluno, para a escola, para os pais e a sociedade, onde
não se atropela o desenvolvimento e nem permite más condutas com gastos
desnecessários no futuro.
Todos devem participar desse novo olhar: professores, direção de escola,
pais, psicopedagogos, e outros profissionais envolvidos direta ou indiretamente
na alfabetização.
¹ Lana Cristina de Paula Bianchi -
Fonoaudióloga, Pedagoga, Psicopedagoga, Atuaçao em Neurociencias em Crianças e
Adultos na FAMERP- FUNFARME- Sao Jose Rio Preto- SP- Especialista em linguagem
no Projeto Gato de Botas- Disturbios de Aprendizagem;
www.projetogatodebotas.org.br; CRFa: 2907- 1982- PUCC- Campinas-SP- Profa na
Disciplina de Psicologia-UNILAGO- São Jose Rio Preto-SP- Linguagem e Cogniçao-
2010- Orientadora em monografias no curso de pos-graduaçao de Psicopedagogia-
Famerp- 2010- Campo de pesquisa: Linguagem infantil e
adulto-
² Vera Lucia de Siqueira Mietto,
Fonoaudióloga, Psicopedagoga, Neuropedagoga e Tutora EAD do www.chafic.com.br e
www.ceitec.com.br em Neurociencias,
Dislexia e TDAH e docente da UNICEAD na pós graduação de Monte
Claros-MG.
Referências
bibliográficas:
“Leitura, Escrita e Dislexia” – Uma análise cognitiva
– Andrew W. Ellis – 2ª edição – Editora Artmed
“Entendendo a Dislexia” – Um novo e completo programa
para todos os níveis de problemas de leitura – Salley Shaywitz – Reimpressão
2006 – Editora Artmed
“Dificuldades de Aprendizagem” – detecção e
estratégias de ajuda – Ana Maria Salgado Gomez, Nora Espinosa Tenan - Edição
Mmix
“Transtornos de aprendizagem – Abordagem neurológica e
multidisciplinar” - Newra Rotta, Lígia Ohhweiler, Rudimar dos Santos Riesgo - Ed
Artimed, 2006
“Dislexias” - Arrne Van Hout, Françoise
Estiene - Ed Arttimed, Porto Alegre, 2001
“Neurociência Aplicada à Aprendizagem” - Telma Pântano, Jaime
Zorzi - Ed Pulso, São José dos Campos. 2009
Sites:
www.lerecompreender.com.br/palestras.asp - (Dislexia:
"Como Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno na Escola",
2010)
http://cursoschafic.com/neurociencias.html
http://cursoschafic.com/dislexia.html
www.pedagogia.com.br/artigos/neurocienciaaeducacao
“Dislexia: Como Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno na Escola” Lana Cristina de Paula Bianchi e Vera Lucia de Siqueira Mietto Artigo disponível em: http://www.psiquiatriainfantil.com.br/biblioteca_de_pais_ver.asp?codigo=57
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