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DISCURSO E A PRÁTICA
LUIZ MARINS
O tema era “comportamento anti-sociais”. Pequenos danos que cometemos em relação ao meio ambiente e às outras pessoas: jogar lixo fora do lixo, cuspir no chão, empurrar as pessoas sem pedir licença, furar fila, falar alto demais em ambientes públicos, emprestar e não devolver etc. Durante a aula, meus alunos de Antropologia da universidade federal em que eu lecionava criticavam as pessoas que não respeitam o meio ambiente. Criticavam os sem-sensibilidade em relação a seus semelhantes e diziam até mesmo ter vontade de ir embora do Brasil. Chegou a hora do intervalo.
Sem que meus alunos soubessem, pedi a alunos da Psicologia Comportamental que observassem esses mesmos alunos na cantina da universidade. Na volta à classe, pedi que eles relatassem o que haviam observado. Surpresos, meus alunos de Antropologia foram acusados, um a um, de terem jogado lixo fora do cesto, colocado os pés na parede recém-pintada da cantina, furado fila, perturbado o ambiente. Quando perguntei aos alunos “infratores” o que eles tinham a dizer, disseram: “Não sabíamos que estávamos sendo observados.” Em seguida, nossa discussão foi sobre a incoerência entre o discurso e a prática.
E não é assim em nossa vida e em nossa empresa? Criticamos o mau atendimento que recebemos como clientes e oferecemos a nossos clientes um atendimento sofrível. Criticamos a qualidade dos produtos que compramos e não damos a devida atenção à qualidade de que produzimos. Reclamamos de nossos clientes que atrasam o pagamento e somos conhecidos por atrasar o que devemos pagar. Criticamos os fofoqueiros e falamos mal dos outros. Criticamos os que não cumprem prazos e horários e falhamos com as nossas mais simples obrigações. Por que tanta incoerência?
Criticar é fácil. Acusar é fácil. Apontar os erros alheios é fácil. Difícil é mudar nosso comportamento. Difícil é fazer nossa parte. Difícil é começar a reformar o mundo e a humanidade a partir de nós mesmos. Difícil é ser coerente. Pense nisso. Sucesso!
Luiz Marins é professor, antropólogo e foi eleito
“Palestrante do Ano de 2006 – 9º Top of Mind”.