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A Questão da Inclusão

Por: Pedro Paulo

26 de novembro de 2007

Ontem, esquecido de que sábado não tem o programa Bom Dia Brasil, ao acordar eu liguei a TV no canal da Globo.
Estava sendo apresentado o projeto de inclusão social do governo federal, no qual uma das ex-excluídas recitava com eloqüência um discurso decorado.
Fiquei surpreso com o tom dos discursos inflamados. Será que esta gente acredita mesmo que pode colocar um deficiente mental em uma escola normal, e fechar as escolas especiais?
Será que esta gente não se enxerga e acredita mesmo que um oligofrênico, um portador de autismo ou de síndrome de X frágil, possa participar de uma classe regular, no meio de dezenas de crianças normais, e tenha condições de acompanhar o curso?

Esta visão distorcida não é exclusiva do Brasil. Nos EUA ela surgiu na década de 60, quando se deslanchou um movimento contra os testes de inteligência, que eram realizados para identificar alunos com prejuízo intelectual, para destina-los a escolas com ensino especial.

O movimento legal contra os testes atingiu o apogeu em 1978, com a decisão do Juiz Robert Peckham, de São Francisco, que declarou inconstitucional o uso de testes de Q.I. para classificar ou selecionar alunos para classes especiais, destinadas a crianças com déficit de inteligência, porque “estes testes acarretavam a separação de um número desproporcional de crianças negras”.

Em 1981, Stephen Jay Gould, paleobiologista de Harvard, publicou “The Mismeasure of Man”, que se tornou um best seller, criticando os testes de inteligência, atribuindo-os a charlatões, racistas e tolos. Sua conclusão é de que “o argumento determinista de classificar as pessoas de acordo com simples escalas de inteligência, não importa quão sofisticadas sejam, acarretou pouco mais do que prejuízo social”.

A imagem que plantavam era de que os testes não poderiam prever coisa nenhuma e que apenas serviam para rotular e estigmatizar aqueles que não se saiam bem. Na década de 70, quem se atrevesse a dizer publicamente que os testes de Q.I. tinham algum mérito, que a inteligência era hereditária, ou mesmo que a inteligência era uma qualidade humana mensurável, pagaria um elevado preço por isto. Suas carreiras, relacionamentos e até mesmo segurança física poderiam estar seriamente ameaçadas.

Em 1994, Charles Murray e Richard Herrnstein lançaram o polêmico livro “The Bell Curve, no qual, basicamente, afirmam que:

1. As pessoas diferem, umas das outras, em inteligência

2. Os testes de Q.I. medem, com razoável acuidade, o nível de quociente intelectual.

3. Os níveis de Q.I. refletem o que as pessoas designam, em linguagem comum, de inteligência ou capacidade intelectiva.

4. Os níveis de Q.I. são bastante estáveis ao longo da vida de uma pessoa.

5. Quando administrados adequadamente, os testes de Q.I. não são tendenciosos, no que diz respeito a posição social, econômica ou étnica.

6. A inteligência é substancialmente hereditária, numa percentagem entre 40% e 80%.

O nome Bell Curve, ou curva do sino, foi dado porque a figura do sino apresenta uma grande semelhança com a curva de Gauss, que reflete tipicamente a distribuição estatística dos eventos, na natureza, inclusive a inteligência. Ao longo de mais de 800 páginas, o livro apresenta levantamentos estatísticos, com os quais os autores procuram provar suas teses, traduzidas por numerosos gráficos e diversificada bibliografia.

As reações foram violentas e as críticas contundentes, com ameaças aos autores do livro.
Aqui estamos copiando, com certo retardo, esta visão deformada.
Como já criamos a promoção automática nas escolas públicas e a admissão por cotas nas universidades, só falta conceder, automaticamente, diplomas profissionais aos deficientes mentais, dispensando-os dos exames curriculares convencionais.  
 
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