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Os melhores médicos de São Paulo
Divulgação de ranking dos melhores médicos é questionável e oculta os verdadeiros objetivos dos veículos de comunicação
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo discorda das iniciativas de meios de comunicação, de empresas privadas e de outras instituições que insistem em divulgar, com base em supostas pesquisas de opinião ou escolhas aleatórias, listas ou ranking dos melhores profissionais ou melhores estabelecimentos de saúde.
Geralmente destinadas a impulsionar tiragens de jornais e revistas, a vender espaços publicitários e agregar valor à marca dos promotores, tem sido comum a divulgação de matérias jornalísticas ou premiações que estabelecem, por exemplo, “os médicos que os médicos indicam”; “os médicos do ano”; “os melhores hospitais na opinião dos médicos” etc.
O Cremesp respeita profundamente os hospitais ou colegas médicos que são escolhidos como personagens dessas reportagens, pois realmente nos orgulham e enobrecem o exercício da medicina em São Paulo e no Brasil. São instituições e pessoas de altíssima qualidade técnica e científica, detentores de comportamento ético irrepreensível perante a classe médica e a sociedade.
Esse tipo de abordagem da mídia garante popularidade aos médicos mencionados, que pode ser seguida do angariamento de clientela diferenciada. Isso tem levado inúmeros colegas a questionarem o Cremesp se estaria aí caracterizado um problema ético.
A exposição pública, a partir dos critérios subjetivos e pouco claros de quem promove a escolha, não nos parece o meio mais adequado de aferir a excelência de uns em detrimento de outros.
Por isso, é pertinente que os colegas fiquem atentos aos reais propósitos dos meios de comunicação, sempre que procurados para relatar os êxitos e méritos de sua prática profissional.
O Cremesp não pode deixar de ressaltar que no Estado de São Paulo atuam mais de noventa mil médicos que, assim como os “eleitos” pela mídia, detêm qualidades, quer do ponto de vista médico-científico, quer do ponto de vista ético e moral.
Queremos, portanto, resgatar o mérito daqueles que, mesmo no anonimato, têm a mesma capacidade e o mesmo valor dos professores, dos titulados e daqueles que assistem pacientes ilustres e famosos, conforme a imprensa faz questão de enfatizar como indicador de sucesso profissional.
Recentemente o Cremesp iniciou a divulgação de uma série de estudos que traçam o perfil dos médicos paulistas. No primeiro deles, sobre o resultado de denúncias e processos contra profissionais, menos de dois por cento dos médicos do Estado receberam nos últimos sete anos algum tipo de punição do Conselho devido a mau comportamento no exercício da medicina.
A esmagadora maioria dos médicos é composta por homens e mulheres que, apesar das dificuldades e limitações hoje impostas aos profissionais, sacrificaram parte de sua juventude no aprendizado da medicina e depois passaram a dedicar melhor de si.
O reconhecimento a eles é silencioso e cotidiano, resplandece no muito obrigado de cada paciente atendido, após cada sofrimento aliviado, cada doença prevenida ou curada, cada vida salva ou preservada. Não é por acaso que pesquisas de opinião apontam que, entre as diversas profissões, os médicos gozam da maior credibilidade junto à população.
Em outro estudo inédito, o Cremesp constatou que os médicos têm formação deficitária, jornada de trabalho excessiva (52 horas semanais em média) e precisam de múltiplos empregos para sobreviver, convivendo com péssimas condições de trabalho e remuneração. Esses milhares de doutores e doutoras não integram a “elite da Medicina”, conforme descrito pela mídia, não estarão nas próximas listas dos “melhores”, mas acima de tudo exercem com dignidade, competência e ética a profissão que escolheram.
Queremos cumprimentar e homenagear todos os colegas do Estado de São Paulo, anônimos ou não, que fazem de sua profissão um verdadeiro sacerdócio. Para o Cremesp, vocês também são os melhores médicos de São Paulo.