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O Jornal Ecos entrevista a Psicopedagoga, Multiterapeuta, escritora e Poeta Lou de Olivier

Por: Vânia Moreira Diniz

3 de abril de 2008

Jornal'Ecos da Literatura Lusófona   

10 de Dezembro 2005 - Edição N°30

 

 
 

 

Vânia Moreira Diniz Entrevista Lou de Olivier

 
 

O Jornal Ecos entrevista a Psicopedagoga, Multiterapeuta, escritora e Poeta Lou de Olivier

 

Jornal'Ecos: Fico contente que tenha aceito o Convite do jornal, querida amiga Lou. E nossa primeira pergunta é sempre sobre a infância de nosso entrevistado. Nasceu em que cidade e como foi a influência desses primeiros anos em sua vida?

Lou: Amiga querida, eu é que me alegro muito pelo amável convite. Quanto à pergunta, eu nasci em São Paulo, Capital. E os meus seis primeiros anos foram maravilhosos. Viajávamos muito, tanto que os dois acidentes aéreos que sofri foram neste período. Mas, apesar dos acidentes e de muitos incidentes, acho que foi a melhor época de minha vida. Sempre gostei de dançar, no meu primeiro aniversário, nem sabia andar direito, mas dancei até de madrugada e chorei muito quando o último convidado saiu e a festa acabou. Ao menos foi o que me contaram. Aos três anos eu já estava dançando balé clássico, contemporâneo e cantando na TV. Até gravei um vinil, ganhei troféus e foi maravilhoso. Infelizmente, minha carreira como cantora e bailarina foi bem curta. Meu pai achou que eu era muito pequena, precisava curtir minha infância e me tirou da TV quando eu estava no auge da minha carreira, aos seis anos de idade. Sempre fui realista, não acreditava em papai Noel, não queria que me ensinassem a ler e escrever, queria aprender sozinha e, aos quatro anos, já estava aconselhando meus pais a separarem-se. Uma vez, encontramos um senhor vidente na porta da extinta TV Excelsior e ele disse à minha mãe que eu era especial, estava cem anos à frente da minha geração. Se eu fosse bem orientada, poderia mudar muita coisa no mundo. Só hoje eu entendo o que ele disse naquela época. Acho que não fui bem orientada e acabei dando muitos murros em ponta de faca. Mesmo assim, continuo vivendo... Ih, acho que me estendi muito na resposta, não é?

Jornal'Ecos: Em que período decidiu ajudar as pessoas, estudando a ciência que aprende a conhecer almas?

Lou:  Eu nunca decidi nada na minha vida. Os fatos foram acontecendo e eu fui me adaptando. Eu queria ser Psiquiatra, sofri uma anoxia por afogamento aos 16 anos, fiquei um ano e meio desmemoriada, passei por 25 Médicos de várias especialidades, sem nenhum diagnóstico ou previsão de cura. Um deles aconselhou-me a fazer Teatro para recuperar a memória. Gostei tanto que fui fazer faculdade de Educação Artística e Bacharelado em Artes Cênicas. Fiz extensão universitária em Musicoterapia e, a partir daí, segui dividida entre o Teatro e a Terapia. Naquela época eu fazia parte de um grupo de teatro universitário, depois passei para o profissional, atendia terapeuticamente, mas somente síndrome de Down e Limitrofia, usando Musicoterapia.

Voltei para a TV, fiz alguns comerciais, fui fazer novela, mas só fiz uma, sai no meio das gravações, fiz um pouco de cinema, mas o teatro era tudo. Sentia naquela época que, se eu não estivesse pisando um palco, não valeria estar viva. Era uma doença.

Depois de uns anos, a vida me ensinou que era possível viver sem pisar um palco, viver tinha outros atrativos, estudei Psicanálise, encaminhei-me à Psicopedagogia, achei que daria para "misturar todas as áreas" e fiz Arteterapia. Empolguei-me, estudei Ciências Humanas e terminei fazendo Neuropsicologia. Agora estou estudando uma Ciência nova fundamentada em Física. Estou querendo isolar a memória cósmica e a freqüência de emissão das ondas cerebrais telepáticas e entende-las como apenas Ciência e não como espiritismo como comumente são vistas. Sei lá se vou conseguir, mas estou empolgada. Acho que esta será a forma de coroar minha trajetória como alguém que realmente foi fundo e enxergou além do coletivo, por mais que isso incomode alguns invejosos que só vêem matéria e material...

Jornal'Ecos: Seus pais tinham o mesmo tipo de atividade?

Lou: Teoricamente meu pai era Médico e minha mãe, Enfermeira. Mas os dois tinham um altruísmo meio desequilibrado. Achavam que deveriam exercer suas profissões por amor e não por dinheiro. Abriram um bar para garantir o sustento e exerciam suas profissões atendendo gratuitamente a população. Forneciam consultas e medicamentos sem cobrar nada a todo o bairro. Meu pai era do tipo que transformava tudo o que tocava em ouro e, logo, construiu uma vila de casas. Ele alugava umas 40 e reservava 20 para ceder a quem não podia pagar o aluguel. Ele cedia as casas para famílias carentes, ainda fornecia material escolar, medicamentos, água, luz e mantimentos, ou seja, pagava para as pessoas morarem em suas casas.

Hoje, analisando friamente, acho que eles extrapolaram no altruísmo. E eu fui na seqüência. Acho que poderíamos ajudar as pessoas sem doar tudo o que tínhamos mas, agora já foi... Hoje, tudo o que meus pais construíram está destruído, sou apenas uma pessoa comum com dívidas e nobreza de alma. Se eu voltasse no tempo, ajudaria as pessoas somente com o que estivesse em excesso e não com o que eu precisava para minha subsistência. Ai volto à questão "1", não fui bem orientada.

Jornal'Ecos: Poderia explicar para o seu leitor quais as modalidades de terapia que está contido na sua formação de "multiterapeuta"?

Lou: As áreas que "misturo" são: Musicoterapia, Psicanálise, Psicopedagogia, Arteterapia, Neuropsicologia e Artes Cênicas. Dentro destas áreas utilizo a princípio terapia convencional (entrevista/poltrona/divã). A partir do diagnóstico, utilizo Psicodrama, Teatro Terapêutico, ateliê e análise em desenho e pintura, jogos dramáticos, jogos diversos, sons e ritmos, expressão corporal, relaxamento em diversos níveis, desdobramentos, entre outros. Essas técnicas tratam depressão, ansiedade, estresse, distúrbios de aprendizagem e de comportamento, entre outros.

Jornal'Ecos: Acredita nos tratamentos alternativos?

Lou: Acredito na força poderosa da mente e do quanto pode ser sugestionável, ou seja, se uma pessoa acreditar que um determinado objeto ou religião ou outro ato qualquer irá cura-la, certamente, acabará curada não pelo objeto em si mas pelo fato de sugestionar sua mente. Raciocinando assim, os tratamentos alternativos surtem efeito na medida em que se acredita neles. Mas é preciso frisar que muito do que é citado como alternativo não o é. Exemplo: Musicoterapia e Arteterapia são áreas muito sérias fundamentadas em Medicina, Artes, Psicologia entre outras e não podem ser consideradas "alternativas". Alternativa é a forma torta como se vê essas áreas. Musicoterapia não é só tocar um instrumento e "incluir" um paciente excepcional, Arteterapia não é só ficar desenhando ou pintando sem nenhuma orientação nem fundamento. Se usadas corretamente, essas áreas são excelentes e deveriam merecer uma melhor atenção e respeito.

Jornal'Ecos: Seus livros de auto ajuda que obtiveram sucesso gratificou-a de forma especial?

Lou: Ando meio desiludida e até peço desculpas pelas respostas que estou dando mas é a realidade. Meu livro: "Acontece nas melhores famílias" foi xerocado numa grande empresa onde 6 mil funcionários o leram mas somente um comprou, ou seja, a partir de uma compra, 6 mil cópias se espalharam. Gratificante, pois 6 mil leitores tiveram acesso ao que escrevi. Desestimulante por que, por todas essas leituras, eu recebi apenas 12 reais. E isso é só o que descobri sem querer, ao ser "reconhecida" por uma funcionária da referida empresa. Sabe-se lá quantos mais foram copiados. Então, se me sinto gratificada por tanto interesse por meus escritos, também me sinto muito triste por que, até hoje, não consegui sustentar-me com a renda de meus livros. Por que, no Brasil, não é crime xerocar livros, Até alguns professores xerocam e incentivam seus alunos a xerocarem livros e isso desestimula autores... A desculpa é que livros são caros, mas, enquanto estiverem sendo xerocados, continuarão sendo caros. É um círculo vicioso que precisa ser quebrado.

Jornal'Ecos: Qual a diferença para você entre escrever um livro em sua área e um romance?

Lou: Escrever em minhas áreas é bem mais difícil, preciso pesquisar muito, fundamentar tudo, comprovar cada vírgula, ser coerente sempre, cuidar ao relatar um caso para não deixar claro quem é o paciente, enfim, é bem mais complicado. Escrever romances é bem mais simples, é só me recordar dos meus bons tempos de conquistadora e florear com muita imaginação e sensualidade, por que, para mim, romance sem imaginação e sensualidade não é romance, é depoimento.

Jornal'Ecos: O conhecimento do ser humano lhe ajuda efetivamente quando escreve seus poemas e textos literários?

Lou: Muito. Mas o que conta mesmo é inspiração, treino e emoção. Acho que escrever é uma junção disso tudo.

Jornal'Ecos: Qual o livro que mais a gratificou?

Lou: "Aventuras amorosas de Soraya Estrada", simplesmente por que Soraya Estrada é um lado meu que eu precisei expor para não enlouquecer diante de tudo o que vi e vivenciei em determinadas épocas de minha vida. Se eu não expusesse a Soraya em romances e contos, eu não teria equilíbrio para continuar atuando.

Jornal'Ecos: Qual o mestre que realmente influiu em sua vida?

Lou: Alguns mestres realmente marcaram minha carreira e merecem destaque:

Como Escritora, devo ao mestre Edmir Fraga. No cursinho, um professor metido a muito sabido criticou muito uma poesia minha e parei de escrever até que fui fazer o Bacharelado em Artes Cênicas e conheci o Professor Edmir. Nas provas ele sempre pedia um comentário sobre algum texto e valorizava mais o que improvisávamos do que o que decorávamos. Eu sempre tirava notas altas apesar de ser a mais dispersa. Uma aluna, um dia, reclamou, disse que todos estudavam, colavam, se esforçavam e tiravam nota baixa. Eu, que era uma "borboleta avoada" tirava notas altas. Ele respondeu que, ao ler uma prova minha, via, claramente, que eu não tinha a mínima idéia do que estava escrevendo, mas escrevia tão bem e coisas tão lindas que ele não tinha coragem de me dar notas baixas. E acrescentou que eu ainda seria uma grande Escritora ou Dramaturga. A partir daí, ninguém me segurou, desandei a escrever textos teatrais, contos, romances...

Na Pesquisa Científica, marcou-me muito a atitude do Professor Doutor Francisco Assumpção Jr, na época, Diretor de Saúde de Psiquiatria Infantil do Hospital das Clínicas de SP. Eu queria muito entender a anoxia que eu tinha sofrido para tentar minha cura e, acima de tudo, para ajudar os bebezinhos que sofriam anoxia perinatal. Tinha só um livro do Professor Doutor Domingos Delacio e minha enorme vontade de dominar o assunto. Meu professor de Neurologia tinha se negado a ser meu orientador, eu era ridicularizada por colegas e até por alguns professores por ter escolhido um tema difícil e, segundo eles, sem aplicação na prática. Chegaram a apelidar-me de "anoxia", isso quando não me chamavam pejorativamente de "artista", "coreógrafa", "atriz", como se essas profissões fossem humilhantes e eu estava prestes a desistir da pesquisa e da área, quando o procurei. Expus minha idéia, meu tema e ele elogiou, disse que era um tema "bem legal". Ele falava assim mesmo, "bem legal", ou seja, não era desses "intelectualóides" falando termos indecifráveis Rapidamente, pegou um papel, fez um esquema do que eu deveria procurar, onde e como procurar. Logo eu tinha um início de projeto. Meus professores da faculdade cobravam pelas orientações e não era barato, então eu perguntei ao Prof. Dr. Francisco, quanto ele me cobraria para orientar-me. Ele disse que seria um preço muito alto e eu não conseguiria pagar. Eu já me preparava para sair da sala dele quando ele me disse: "sabe quanto vai te custar minha orientação? Você terá que tirar nota dez nesta defesa"... Fiquei ensaiando um dia inteiro para contar a ele que só tirara nove e meio, mas ele achou que estava bom assim mesmo. Até hoje eu me emociono ao lembrar desses mestres, realmente, me incentivaram e me fizeram retornar ao meu caminho. Como agradecimento a eles, só posso eterniza-los em minha literatura e, sempre que posso, os cito em entrevistas.

Jornal'Ecos: E Literariamente quais os autores que marcaram sua obra?

Lou: O único livro que lembro de ter lido exaustivamente foi "Ela ainda respira", nem lembro o autor. Era um romance meio ficção, sei lá. Eu era ainda uma adolescente e me encantava com a mulher acidentada que ainda continuava tendo lembranças, apesar do coma. Eu me identificava por causa da minha vida acidentada. No mais, eu li aqueles romances obrigatórios: "A moreninha", "O cortiço"... Não é pretensão nem alienação, mas nenhum autor marcou minha obra até o momento. Atualmente gosto de ler as obras de algumas amigas minhas, mas não citarei nomes, pois se eu esquecer alguém, vou me sentir muito mal... E a esquecida vai me rogar muitas pragas (risos)

Jornal'Ecos: A sensibilidade de poeta influi definitivamente quando atende um cliente em sua clínica?

Lou: Tanto influi que me torna diferente da maioria dos terapeutas. Não menosprezando ninguém, tenho um faro para detectar o ponto a ser tratado que só pode vir da sensibilidade extrema da Poesia e da Arte. A Ciência pura e simples não dá esse faro, por mais experiência e estudo que se tenha.

Jornal'Ecos: Pode falar aos seus leitores sobre o livro mais polêmico que escreveu?

Lou:  Sem dúvida, foi o mais recente: "Distúrbios de aprendizagem/comportamento (verdades que ninguém publicou)". Polêmico, por que mostrou mesmo muitas verdades que ninguém publicou, polêmico, por que citou muitos tratamentos não divulgados, esclareceu muitos sintomas confundidos pelos profissionais no diagnóstico. Polêmico até pela foto da quarta capa. Eu pedi a um amigo para opinar e ele escolheu aquela foto, ainda comentei se não estava muito explícita e ele disse que estava perfeita. Se eu não tivesse perdido contato com esse amigo, eu o estrangularia quando comecei a ouvir comentários sobre a foto: "Mas isso é foto que se coloque em auto ajuda?", "Está sexy demais para ser uma doutora"... Teve gente que se recusou a comprar o livro por causa da foto, ainda bem que foram poucas as "revoltadas" ("por coincidência", só algumas mulheres). Não sei por que, algumas pessoas acham que uma intelectual tem que ser feia, vesga, desengonçada e se cobrir dos pés a cabeça... Não que a foto esteja vulgar, só está meio sexy... Bem entendido!

Jornal'Ecos: Querida Lou, cumprimento-a pelo seu talento e o espaço em nosso jornal está aberto. Desejaria acrescentar algumas palavras? E obrigada pelo carinho e disponibilidade que sempre dispensou ao Jornal Ecos

Lou: Minha querida amiga, Vânia, quero antes de tudo, agradecer-lhe pelo espaço, pela acolhida sempre calorosa que recebo de você e da equipe do Ecos. Parabéns pelas perguntas inteligentes e oportunas. Ao público do Ecos, quero dizer que estou muito feliz em participar desta entrevista e falar um pouco do momento que estou vivendo, em que estou amadurecendo muito, mudando meu estilo e redirecionando até minhas pesquisas. E poder falar para um público tão seleto sobre esta, que considero a minha melhor fase como pesquisadora e autora, me deixa profundamente satisfeita. Agradeço muito por esta oportunidade e coloco-me ao dispor dos leitores que queiram tirar alguma dúvida ou saber mais sobre minhas pesquisas e/ou trabalho, pelo e-mail: draloudeolivier@terra.com.br Abraço a todos.

 

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Paris & Brasília: 10 Dezembro 2005

 


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