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AS ARTIMANHAS DA DESIGUALDADE SOCIAL
As críticas que fazemos ao conceito de INCLUSÃO alusivo aos jogos paraolímpicos, por sua qualidade excludente, é o que chamamos de artimanhas de uma falsa inclusão. Equilíbrio, comunhão e união são cernes do ideário Olímpico em todo seu processo histórico, desde sua origem na antiguidade grega até a versão "moderna" dos jogos na atualidade.
Ao invés de, realmente, visar à eliminação das desigualdades, busca aprimorá-las. Revelam erro, imprecisão e contradição de sentidos que contribuem para o processo de exclusão social.
Quem são os excluídos, disfarçados em incluídos? Somos todos nós!
Quando não podemos optar pelo que queremos ver, estamos excluídos literalmente. Inclusive, o fato de não poder assistir a uma final de basquete jogado em cadeira de rodas, de natação, atletismo, por exemplo, em tempo real.
E é nesse contexto de celebração entre os povos que a globalização apropria-se do conceito comunicacional para mascarar e transmitir significados culturais e econômicos, que contribuem cada vez mais para a exclusão social. Diante desse quadro, as relações de influência que a mídia exerce na sociedade, no tocante à inclusão das pessoas com deficiência, deveriam fundamentar sua missão de colaborar de modo a gerar uma mudança no pensamento das pessoas e das instituições que atuam na área.
Entretanto, ao terminar a cobertura dos Jogos Olímpicos em Pequim, a Tv Globo colocou sua seta indicando o próximo caminho: “África
Como romper com esse paradigma? Paulo Freire, ao proferir palestra em Natal, promovida pelo jornal Diário de Natal, em 1992, deixou-nos uma frase célebre “Só aprende quem tem coragem de abandonar o velho e mergulhar no novo, mesmo com toda a vertigem que o salto provoca”, que reforça a necessidade de mudança pessoal e social. O autor se concentra na coragem de mudar, mesmo que essa mudança implique lutar contra valores arraigados na sociedade, levando-nos a perceber que a natureza dos homens é a mesma; independentemente de serem pessoas sem deficiência ou com deficiência, são seus hábitos, seus preconceitos e estereótipos que os mantêm separados.
É preciso estimular uma cultura de solidariedade, entre os homens, que favoreça mudanças de atitudes, onde o desenvolvimento humano possa ser baseado na justiça, na solidariedade e na ética. Na verdade, as ações voltadas para as práticas da inclusão social repousam, ainda, em princípios relativamente desconhecidos, como a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa e a convivência dentro da diversidade humana.
Vale a pena refletir o papel da mídia. É o mínimo que nós, telespectadores dos canais abertos e assinantes dos canais fechados, esperamos de uma mídia democrática e cidadã. Não temos o direito de estigmatizar, de atribuir uma marca que virá sempre à frente da pessoa. Não podemos classificá-la pelo seu aspecto de apresentação, é preciso conhecê-la mais de perto, ver suas dificuldades e potencialidades. E, para isso, é preciso vê-la.
Afinal, belo seria estarmos juntos num único evento com um único olhar!
Carminha Soares
Professora, jornalista e Doutora em Educação