Los Angeles (EUA), 1 out (EFE) - A Federação Nacional de Cegos (NFB), a maior organização de cegos dos Estados Unidos, anunciou hoje mobilizações contra o filme "Ensaio sobre a Cegueira" em sua estréia por considerar que retrata os portadores de deficiência visual como depravados.
O filme, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e que chegará aos cinemas americanos no dia 3 de outubro, é baseado no livro "Ensaio sobre a cegueira" do escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura em 1998, e relata o caos que haveria na sociedade se todo o mundo ficasse cego de repente.
Cena de "Ensaio Sobre a Cegueira". O filme de Fernando Meirelles é uma adaptação da obra homônima de Saramago |
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A obra segue fielmente a trama de Saramago, que pretende gerar uma reflexão sobre os padrões de comportamento e a moral do ser humano, e como esses se modificariam se passassem por uma situação limite.
O enfoque desta história, no entanto, irritou a NFB às vésperas da estréia do longa-metragem nos Estados Unidos.
"Os cegos aparecem no filme como incompetentes, sujos, viciados e depravados. São incapazes de fazer as coisas mais simples, como se vestir, se lavar e encontrar o banheiro. A verdade é que as pessoas cegas normalmente fazem as mesmas coisas que as que podem ver", disse Marc Maurer, presidente da NFB em comunicado.
O máximo representante desta federação disse que sua organização "condena e rejeita" o filme e convocou seus membros a protestar nas 75 salas onde o filme estreará na sexta-feira.
"Mostrar os cegos nas telas americanas um pouco melhor do que animais reforçará temores infundados e os estereótipos do grande público sobre a cegueira", indicou Maurer, para quem "Ensaio sobre a cegueira" ajudará a aumentar a taxa de desemprego entre os cegos, que atualmente afeta 70% dos portadores da deficiência.
Não é a primeira vez que a indústria do cinema utiliza a cegueira em seus roteiros, mas, para Maurer, desta vez sequer se trata de uma comédia, e sim de uma produção que gera "medo e repulsão".
Para a NFB, é um "escândalo" que a distribuidora Miramax, subsidiária do grupo Walt Disney, retrate os cegos desta forma e "inclusive explique que se trata de uma alegoria ou um comentário social".
A Miramax limitou-se a expressar sua "tristeza" com a mobilização convocada pela NFB e insistiu em comunicado que, durante a produção do filme, trabalhou-se para preservar a linha marcada pelo romance de Saramago, "uma parábola sobre o triunfo do espírito humano quando a civilização vem abaixo".