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Data original: 23/08/2009
Estudo transformou células neurais em pluripotentes, com capacidade para formar qualquer tecido do corpo
Herton Escobar, ÁGUAS DE LINDOIA
Pesquisadores brasileiros da Universidade da Califórnia em San Diego, nos
Estados Unidos, conseguiram pela primeira vez produzir células humanas de
pluripotência induzida (iPS) utilizando um único gene de reprogramação - em vez
dos quatro usados tradicionalmente.
As iPS são células indiferenciadas, com potencial para
se transformar em qualquer tipo de tecido do organismo - tal qual as
células-tronco embrionárias, porém com a vantagem de não serem derivadas de
embriões. O trabalho foi feito pela equipe do neurocientista brasileiro Alysson
Muotri, que apresentou os resultados ontem na reunião anual da Federação de
Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), em Águas de Lindoia, no interior de
SP.
Muotri e seus colegas
conseguiram transformar células-tronco neurais de feto (que podem ser
consideradas células "adultas") em células iPS, totalmente indiferenciadas e
pluripotentes. Para isso utilizaram um único gene de reprogramação, chamado
Oct-4, algo que já havia sido feito com células de camundongos, mas não com
células humanas. Normalmente, a transformação requer quatro ou mais genes.
Outra inovação do trabalho é
que a inserção do gene foi feita por meio de um plasmídeo (um anel de DNA), sem
o uso de vetores virais, que podem interferir no funcionamento da célula e
induzir a formação de tumores.
Os resultados já foram aceitos para publicação na
revista PLoS One. A proposta de Muotri é usar as células iPS como uma ferramenta
de pesquisa, para estudar o desenvolvimento e a diferenciação de células
neuronais coletadas de pacientes com autismo e outras doenças genéticas ligadas
ao sistema nervoso.
Os
primeiros ensaios já mostraram, por exemplo, que os neurônios de pessoas
autistas (nesse caso, reprogramados de células da pele) apresentam maior
atividade de "genes saltadores", chamados transposons, que podem estar
envolvidos no quadro da doença.
"Com as iPS podemos reproduzir o que acontece no cérebro
autista em um modelo de pesquisa in vitro", disse Muotri. Eventualmente, a mesma
técnica usada com as células fetais poderá ser usada para reprogramar células
neurais de pacientes adultos, extraídas do bulbo olfativo, afirmou ele.
Os trabalhos apresentados na
reunião da Fesbe refletem o ritmo acelerado em que avançam as pesquisas com
células iPS, que já começam a ganhar preferência sobre as células-tronco
embrionárias nos laboratórios. Apesar das expectativas sobre possíveis
aplicações clínicas no futuro, a pesquisadora Patrícia Braga, da Universidade de
São Paulo, diz que, por enquanto, a ideia é que as iPS funcionem principalmente
como uma ferramenta de pesquisa para entender processos biológicos associados a
doenças. "Não vejo ainda as iPS como fonte de terapia celular."
Notícia original:
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