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Data original: 22/05/2009
Anelise Infante
De Madri para a BBC Brasil
Matinê especial também conta com apresentações ao vivo
Domingo é dia de matinê especial em Barcelona. Uma das discotecas mais badaladas da cidade espanhola reserva a noite para que portadores de deficiências mentais possam dançar e paquerar livremente.
Ao contrário de uma discoteca comum, no entanto, álcool, cigarros e bebidas energéticas estão proibidos nas noites de domingo da boate Luz de Gas. A medida foi tomada porque a maioria dos frequentadores da matinê especial toma remédios fortes.
Outras adaptações também foram feitas. A iluminação é controlada, para evitar possíveis ataques epiléticos, e seis monitores acompanham os frequentadores para auxiliar em eventuais emergências.
O resto do ambiente, no entanto, é igual ao das outras noites, com música, DJs, barmen, diversão e paquera.
A matinê especial funciona há um ano e foi criada pela Fundação Ludalia, que auxilia portadores de deficiências mentais.
A festa, que começa às 17h30 e termina às 21h, é exclusiva para pessoas entre 18 e 45 anos com Síndrome de Down, paralisia cerebral e outras deficiências.
Lazer
Mãe de um portador de deficiência mental, a diretora da fundação, Consól
Ferrer, afirma que o projeto nasceu por causa da falta de alternativas de lazer
para estas pessoas. Segundo ela, alguns lugares "tratam os deficientes de
maneira infantil".
A ideia da matinê especial surgiu em 2001. A primeira
tentativa, no entanto, fracassou quando os organizadores tentaram criar uma
noite de integração entre deficientes e pessoas sem deficiências.
"Foi um
desastre. Ali ficou claro que eles precisavam de um espaço próprio. Eles têm a
mesma vontade de dançar, se divertir, estar com amigos e paquerar, como qualquer
outro jovem", afirmou à BBC Brasil a monitora Ruth Ruiz.
A diretora da Fundação Ludalia também afirma que a experiência fez com que eles decidissem criar uma noite exclusiva para os jovens deficientes.
"Sei que parece uma contradição, fazer uma noite exclusiva quando pedimos integração. Mas, misturar jovens deficientes com os que não são para que façam amigos e arranjem namorados, não é um objetivo realista", afirma.
Romances
Desta vez, o espaço exclusivo tem a
colaboração dos donos da discoteca, que cedem as instalações e a arrecadação da
noite para os outros projetos da fundação.
Seis monitores auxiliam os frequentadores da matinê em Barcelona
Os frequentadores pagam 7 euros (cerca de R$ 20) pela entrada, com direito a consumação.
"(A cobrança da entrada existe) para que eles se conscientizem de que tudo
tem um valor. Se todo mundo paga por uma entrada, eles também. Assim,
compreendem como funcionam as coisas quando um adulto sai sozinho", afirma
Consól Ferrer.
Dentro da discoteca, os DJs tocam músicas da moda, às
vezes há shows ao vivo, e os deficientes se sentem à vontade, principalmente
porque os pais não podem entrar.
Para os seis monitores voluntários, a proibição da entrada dos pais ajuda a promover a independência e respeita a privacidade dos jovens, especialmente na hora da paquera.
"Surgem muitos romances ali", comenta Ruth Ruiz, uma das monitoras.
"A minha função é atender, conversar e, se for preciso, dançar com eles e vigiar para que esses romances não saiam dos limites. No fim das contas, eles estão aprendendo a se relacionar", completou.
Notícia original:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/05/090522_discoteca_deficientes_ai_cq.shtml