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Notícias
Sobre médicos e gravatas

Por: Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques

30 de julho de 2006

Sobre médicos e gravatas

 

Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques ( diretor da Agência Nacional de Vigilãncia Sanitária - ANVISA)

 

 Artigo publicado no jornal "O GLOBO" de 30 de julho de 2006, caderno OPINIÃO, p.7

 

 

 

 

            Seu médico usa gravata? Costuma ajeita-la ou brincar com ela enquanto medita sobre seus sintomas? Lava as mãos em seguida?

            Desde os primeiros passos do controle de infecções em serviços de saúde até os dias de hoje, o grande desafio é manter limpas as mãos dos profissionais de saúde. Há mais de 150 anos, em Viena, Ignaz Semmelweiss apontava as mãos sujas de estudantes e médicos, que atendiam a perturientes após trabalhar com cadáveres como causa da abundancia de mortes entre as infelizes puérperas. A higiene adequada das mãos continua sendo a medida isoladamente mais efetiva para reduzir a ocorrência da infecção associada à assistência à saúde e, por incrível que pareça, não é um hábito incorporado à rotina de boa parte das organizações.

            Dois anos atrás, um estudante de medicina israelense, Steven Nurkin, apresentou aos participantes do 104º Encontro da Sociedade Americana (estadunidense, na verdade) de Microbiologia um trabalho, desenvolvido em seu estágio no Hospital de Nova York, que teve grande repercussão na mídia internacional. Pesquisou a presença de bactérias e fungos patogênicos em gravatas de médicos e de seguranças do hospital, observando que enquanto quase metade dos doutores carregava, em seus adereços, vários microorganismos responsáveis por doenças, apenas uma das gravatas dos seguranças apresentou resultado positivo e para uma única bactéria.

            A idéia do estudo partiu da observação do doutorando de que o uso de gravatas, tão raro entre os médicos de seu país, era praticamente obrigatório na indumentária dos médicos de aparência respeitável nos EUA. A moda disseminou-se amplamente no Brasil nos últimos quinze anos. Antes disso, médicos podiam ser identificados à distância por seus trajes brancos, cuja troca diária era quase obrigatória para manter a boa aparência.

            Embora a relação entre as gravatas e a ocorrência de infecções continue motivando polêmicas, a Associação Médica Britânica sugeriu aos médicos, em fevereiro último, que abandonassem o ornamento. Nas palavras do coordenador de ética e ciência da entidade, dr. Vivienne Nathanson, há diversos fatores envolvidos nas infecções, mas eles são amplificados por médicos usando tais vestimentas sem função e coberta de germes. Ele assinala ainda que gravatas são uma peça inútil do traje, as pessoas tocam nelas freqüentemente e as usam por um longo tempo sem lavá-las.

            Nas discussões surgiram várias idéias, como a gravata-borboleta, a lavagem diária das peças ou mesmo a utilização de um condom  descartável para embalar a gravata.

            Há tempos os profissionais vêm aprendendo a reduzir riscos higienizando seus estetoscópios, as canetas e outros objetos úteis para seu trabalho. No caso das gravatas, dada a inutilidade e a dificuldade para mantê-las livres de contaminação, parece muito mais lógico aboli-las. Leve a sugestão em sua próxima consulta.

 

 

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